Jornalistas&Cia 1378

Edição 1.378 - 28 de setembro a 4 de outubro de 2022 Inscrições até 30 de setembro Na celebração de seus 27 anos, J&Cia mergulha no universo da nova mídia nativa digital Vinte e sete anos atrás, quando, numa iniciativa despretensiosa e quase underground, lançamos o FaxMOAGEM, em atendimento ao pleito de alguns colegas de comunicação, não tínhamos planos e muito menos ideia do que o futuro nos reservaria. Pusemos o filho no mundo e deixamos a vida nos levar. Da página semanal em fax (a grande revolução tecnológica da época) com o vaivém do mercado, que marcou os primeiros tempos, nos transformamos nessas mais de duas décadas e meia numa revista semanal de jornalismo e comunicação, que passou a ser uma das mais importantes referências junto a esse ecossistema profissional. Vieram, em sequência, os muitos especiais, como este, de aniversário, o Portal dos Jornalistas, os prêmios +Admirados, o Ranking dos +Premiados, o MediaTalks, o Censo Racial da Imprensa Brasileira, o #diversifica e uma série de outras iniciativas que, além de nos trazerem grande alegria e realização, contribuem para fortalecer a atividade profissional e o próprio jornalismo brasileiro, sempre com o apoio estratégico dos colegas e dos recursos da comunicação corporativa. Olhando hoje para trás, vemos que, mesmo sem ter consciência disso, iniciamos naqueles primeiros passos de 1995 uma história de empreendedorismo e inovação no jornalismo brasileiro − modesta, porém efetiva. Não por outra razão a escolha do tema para celebrar os 27 anos de estrada recaiu sobre a nova mídia nativa digital e seus impactos no jornalismo brasileiro, até porque nos enxergamos em várias dessas novas e inovadoras iniciativas, que, cada uma a seu modo, também aportam uma estratégica contribuição para que o Brasil venha a ter um jornalismo cada vez mais vigoroso, antenado, plural e diverso. Nossos agradecimentos a Fernanda Giacomassi, que aceitou nosso convite para liderar este especial e que nos brinda com um trabalho jornalístico de primeira grandeza. Também o nosso muito obrigado às quase 40 marcas que viabilizaram esta iniciativa. E mais... MediaTalks celebra dois anos como referência editorial nos assuntos internacionais de mídia e comunicação (pág. 37) 27ANOS Eduardo Ribeiro, Fernando Soares e Wilson Baroncelli – editores

Edição 1.378 página 3 Inscrições até 30 de setembro 27ANOS Por Fernanda Giacomassi (*) É difícil estimar quantas iniciativas de jornalismo digital existem no Brasil. O digital, aliás, expandiu até mesmo as fronteiras do que era considerado jornalismo. A imagem cinematográfica de uma redação gigante localizada no centro de uma metrópole, repleta de computadores, pilhas de papéis e uma corrida constante atrás do melhor furo, é hoje uma exceção para a realidade da imprensa brasileira. Com apenas um celular e uma rede de voluntários, centenas de coletivos e iniciativas espalhados pelo país conseguem denunciar os problemas de suas comunidades, fiscalizar o poder local, divulgar iniciativas socioculturais e dar voz a grupos historicamente invisibilizados. São essas iniciativas que estão contribuindo para o encolhimento dos chamados desertos de notícias no Brasil, regiões nas quais não existem veículos locais de imprensa. O último relatório do Atlas da Notícia, censo que mapeia o jornalismo local no Brasil realizado pelo Projor (Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo) em parceria com pesquisadores voluntários, identificou 13.734 veículos jornalísticos em atividade no País. Desses, 4.907 são iniciativas online, que agora é o segmento com maior representação no universo do jornalismo local no Brasil. A pesquisa também identificou uma redução de 9,5% no número de municípios considerados desertos de Qual o panorama do jornalismo digital brasileiro? notícias. Apesar da melhora, cinco em cada dez ainda se enquadram nesse perfil. São 2.968 cidades e mais de 29,3 milhões de brasileiros que vivem em regiões sem acesso à informação sobre a realidade local. A tendência, segundo o estudo, é de crescimento acelerado no número de veículos online, o que pode ser explicado, sobretudo, pelas poucas barreiras que existem para a criação de iniciativas nativas digitais. Inaugurar um canal informativo pode ser tão simples quanto abrir uma nova conta no Instagram – desde que feito seguindo preceitos de ética e qualidade jornalística. “A representatividade do jornalismo digital cresce graças à evolução da tecnologia e à possibilidade que os cidadãos do país têm a partir dos acessos a computadores e dispositivos móveis”, explica Rafael Sbarai, professor de jornalismo digital e empreendedorismo na Faculdade Cásper Líbero e na Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), ambas em São Paulo. Em 2021, 81% da população brasileira acessaram a internet. Em 2019, o número chegava a 71%. Os dados são da pesquisa TIC Domicílios, levantamento feito pelo Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação). O estudo destaca a pandemia de coronavírus como um dos motivos para o aumento da conectividade nos domicílios e de usuários de internet. A emergência sanitária também teve impacto significativo no jornalismo. A busca por informação de qualidade sobre as medidas de proteção contra o vírus e outros dados sobre o avanço da doença alavancou a audiência de veículos. Segundo pesquisa encomendada pela organização filantrópica Luminate, publicada em 2020, 65% dos leitores de veículos digitais aumentaram o consumo de informação desde a chegada da crise. O estudo entrevistou 8.570 pessoas de 18 a 65 anos em quatro países da América Latina, incluindo o Brasil. O período também foi marcado pela criação e consolidação de iniciativas digitais, que se organizaram para suprir a necessidade de informação sobre a pandemia, principalmente em territórios periféricos. Lançado em abril de 2022, o Mapa da Mídia Independente e Rafael Sbarai acervo pessoal

Edição 1.378 página 5 Inscrições até 30 de setembro 27ANOS Popular de Pernambuco traça o panorama da comunicação popular e independente daquele estado nordestino. Ao todo, 42 iniciativas populares foram mapeadas no projeto, realizado pela Marco Zero Conteúdo. Segundo dados do levantamento, essas organizações tiveram um papel central na comunicação para se contrapor à onda de desinformação propagada, inclusive por autoridades públicas, que reverberavam nos territórios periféricos durante a pandemia. “Foram eles que mobilizaram a sociedade em centenas de campanhas de arrecadação de alimentos, desde o início da pandemia, para combater a fome. Em sua maior parte, nasceram e estão vinculados aos territórios mais vulneráveis social e economicamente, conhecem de perto a realidade da vida das pessoas com as quais se comunicam”, afirma o relatório do mapeamento. Em iniciativa similar, a Énois lançou o Mapa do Jornalismo Local, que mapeou 140 iniciativas de jornalismo local e periférico em São Paulo e na Região Metropolitana da capital paulista. Ambos os projetos destacam que são pessoas negras que estão na liderança dessas iniciativas, dado que se contrasta com a realidade da imprensa brasileira. Segundo a pesquisa Perfil Racial da Imprensa Brasileira, lançada em 2021 pelo Jornalistas&Cia, apenas 20,10% dos jornalistas das principais redações do país se declararam pretos e pardos. A diversidade é uma das palavras-chave para o jornalismo digital brasileiro. Seja na descentralização da produção informativa, na inovação da distribuição de conteúdos e em formas de gerar receita, ou no protagonismo de grupos invisibilizados, este é um setor em constante crescimento no País e o responsável por contribuir para um ecossistema informativo que se torna mais plural e democrático. No entanto, assim como o jornalismo tradicional, as iniciativas digitais enfrentam desafios para a sua sobrevivência. Um deles é a sustentabilidade financeira. O outro, uma “fadiga informativa” generalizada. Segundo o Digital News Report 2022, mais da metade dos brasileiros (54%) dizem às vezes evitar ler notícias. Se a pandemia deu um impulso ao jornalismo em 2020, agora ela é uma das responsáveis por afastar o público das telas, assim como a alta da inflação e a polarização política. O descrédito do jornalismo também vem acompanhado de um aumento crescente no número de ataques a comunicadores. Pela primeira vez em 20 anos, o Brasil passou, em 2021, para a chamada “zona vermelha” do Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa da organização internacional Repórteres sem Fronteiras (RSF), quando há alto risco para o exercício da atividade profissional. É nesse ambiente de constante transformação tecnológica, social e política que o jornalismo digital se reinventa, inova e busca mais espaço. (*) Fernanda Giacomassi é coordenadora de Comunicação da Ajor (Associação de Jornalismo Digital), especialista em estratégia digital, gestão de mídias sociais e jornalismo nativo digital e empreendedor.

Edição 1.378 página 7 Inscrições até 30 de setembro 27ANOS Em junho de 2019, uma série de reportagens chocou o País ao revelar conversas realizadas através do aplicativo Telegram entre o então juiz Sergio Moro, o então promotor Deltan Dallagnol e outros integrantes da Operação Lava Jato. O escândalo político, que ficou conhecido como Vaza Jato, foi um furo do The Intercept Brasil, uma agência de conteúdo nativa digital focada em jornalismo investigativo. Eram tantos os áudios e documentos, que o grupo convidou outros sete veículos, entre iniciativas digitais e também mídias tradicionais, para ajudar na cobertura. Além de ter impactado – e seguir impactando – o País politicamente, o caso também é emblemático do ponto de vista do jornalismo. O The Intercept Brasil ganhou uma relevância nacional comparável a organizações tradicionais de imprensa − e conseguiu aumentar substancialmente seus apoiadores. A investigação também ficou conhecida como um caso de sucesso na colaboração entre meios. O reconhecimento da potência do jornalismo digital brasileiro também vem de fora. Em 2018, o Nexo Jornal, veículo digital de São Paulo focado no jornalismo explicativo e em visualização de dados, ganhou o prêmio LATAM Do global ao local: como o jornalismo digital causa impacto na política, na sociedade e em territórios Digital Media Awards, da WAN-IFRA (Associação Mundial de Editores de Notícias), como melhor site ou serviço mobile de notícias da América Latina. O veículo disputava contra o Clarín e o La Nación, os dois maiores jornais da Argentina. Ao longo dos anos, o ecossistema do jornalismo digital não somente tem conseguido pautar o debate público nacional e ganhar relevância no setor informativo, mas também vem avançando na luta por justiça e oportunidades para entornos periféricos e por visibilidade a temáticas sub-representadas na imprensa tradicional. “O nosso jornalismo salva vidas. Já salvamos uma pessoa que estava dentro do camburão da polícia. Ninguém sabia onde ele estava e, se tivéssemos interferido, não saberíamos se ele iria sair vivo. Jornalismo que tem compromisso com o impacto real”. É assim que Jéssica Santos, editora de relacionamento da Ponte Jornalismo, define a linha editorial do veículo. Lançada em 2014, a organização tornou-se referência na cobertura de segurança pública. É o primeiro veículo nacional a acompanhar regularmente casos de condenações e prisões sem provas, ajudando a libertar pessoas presas injustamente. “Antes, eu não acreditava que o jornalismo tinha esse poder de mudança real, até entrar na Ponte. Nesses últimos dois anos, tenho visto como o jornalismo pode fazer a diferença de fato na vida das pessoas menos privilegiadas”, conta Santos. “Nossa luta e insistência acabou pautando a grande imprensa ao longo dos anos. Tem muito jornalista da grande mídia que nos acompanha. Se há dez anos não ouvíamos falar sobre prisões injustas, hoje vemos isso no horário nobre do Fantástico”, completa. O uso de recortes de gênero e direitos humanos para orientar a produção jornalística é uma característica comum do jornalismo digital. É o que mostra o estudo Ponto de Inflexão Jéssica Santos durante o evento Media Party, em 2022, na Argentina HacksHackersBA

Edição 1.378 página 9 Inscrições até 30 de setembro 27ANOS Internacional, iniciativa da SembraMedia que mapeou o jornalismo nativo digital em América Latina, África e Sudeste Asiático. Para Moreno Osório, pesquisador e professor de Jornalismo na PUCRS e cofundador do Farol Jornalismo, o surgimento de mídias de nicho complexificou a esfera pública, colocando em jogo outros pontos de vista: “Nos últimos dez a 15 anos, o jornalismo digital trouxe diversidade, chamou a atenção para coisas que a gente não enxergava, para determinados grupos de pessoas e segmentos sociais que não apareciam, e isso com certeza enriqueceu as discussões no Brasil”. Embora haja um avanço de organizações que nascem para cobrir territórios e temas pouco representados, o jornalismo digital também esbarra em entraves históricos. Segundo o Atlas da Notícia, 62,4% dos municípios do Nordeste ainda são desertos de notícias, o segundo maior percentual do Brasil. As iniciativas que surgem na região enfrentam a falta de recursos e de visibilidade nacional. Para romper com o estigma e impulsionar iniciativas de mídia, um grupo de mulheres jornalistas nordestinas lançou, em 2020, a Cajueira: uma newsletter de curadoria de conteúdos produzidos pelo jornalismo independente nos nove estados do Nordeste. Em 2022, a Marco Zero Conteúdo lançou o Lume, um aplicativo curador de conteúdo que une comunicação e tecnologia para melhorar a acessibilidade de pessoas cegas ou com baixa visão ao consumo de conteúdo jornalístico de qualidade produzido na região. “Não é só relativo à mídia nordestina, é relativo a cultura, economia e política da região. O Nordeste é uma região invisibilizada e que sofre com o preconceito e com a falta de visibilidade”, afirma Carolina Monteiro, professora de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e cofundadora da Marco Zero. “Sempre quisemos que houvesse uma mídia independente forte, pulsante e relevante na região, e sempre fizemos o que estava ao nosso alcance para fortalecer esse ecossistema”. Além do Lume, o veículo digital lançou um manual de boas práticas para um jornalismo mais inclusivo, além de uma ferramenta de diagnóstico de acessibilidade para veículos. Também é responsável pelo Mapa da Mídia Independente e Popular de Pernambuco e um dos realizadores do Festival Fala!, evento de jornalismo de causas que teve sua terceira edição em agosto de 2022. Para Carolina, a inovação do jornalismo do século 21 vem da comunicação feita nas periferias do País: “O que há de novo realmente no jornalismo não é a Marco Zero. O que é inovador é você ter grupos, principalmente formados por jovens nas periferias, alcançando essa visibilidade, tamanho, proporção e impacto”. A Agência Mural é um dos exemplos desse jornalismo feito Moreno Osório Carolina Monteiro

Edição 1.378 página 11 Inscrições até 30 de setembro 27ANOS por e para as periferias brasileiras. Desde 2010, a rede de correspondentes formada por dezenas de comunicadores que moram ou cresceram em bairros e cidades da região metropolitana de São Paulo vem trabalhando para quebrar os estereótipos sobre essas regiões, cobrir as lacunas de informação e criar identificação entre os moradores e seus territórios. “O jornalismo em rede está no nosso jeito de atuar desde que nascemos, lá atrás, como um blog. Sempre com a união de muitos dos nossos que entendem a importância de trazer nossas histórias e um olhar com base em quem está no território”, afirma Paulo Talarico, editor-chefe da Mural. “Isso é importante porque ajuda a unir experiências diferentes e com um mesmo objetivo, que é fazer jornalismo de qualidade e ter mais impacto com as histórias que contamos. As periferias são plurais e a vivência que há na Brasilândia e em Heliópolis são distintas, mas há coisas que unem essas visões e podem render importantes reportagens”. Em seus quase 12 anos de história, a organização já formou mais de 400 “muralistas” – como chama seus correspondentes –, fez parcerias com veículos como a Folha de S.Paulo, o UOL e a Band TV, lançou os cursos sobre educação midiática e jornalismo local para escolas e universidades, e foi um dos membros fundadores da Associação de Jornalismo Digital. Para Talarico, o jornalismo brasileiro tem avançado na cobertura sobre as periferias, mas ainda é muito focado em notícias sobre violência ou carências: “Muitas vezes, quando não chegam por esses vieses, apontam para caminhos como o assistencialismo ou histórias de superação focadas no mérito individual. Mas há muito mais a abordar. As lacunas estão justamente em como trazer histórias sobre as políticas públicas com um olhar mais local, as histórias de pessoas que fazem e tentam transformar suas periferias, falta mais informação sobre termos os mesmos direitos que toda a cidade. Atuamos no sentido de mostrar tudo isso e enfatizar as potências em diversos segmentos”. Além de dar mais visibilidade às periferias e ressignificar o que é pertencer a essas regiões, o jornalismo digital e independente tem trazido novas perspectivas para comunicadores locais: “Pouco a pouco, jornalistas de territórios têm ocupado espaços antes muito difíceis de acessar nas grandes redações”. Paulo Talarico durante reunião com a rede de colaboradores, em 2022 Encontro de “muralistas” da rede, em 2022 Léu Britto/Agência Mural Léu Britto/Agência Mural

Uma homenagem a todos os profissionais que constroem, dia a dia, esta história de sucesso. Celebremos juntos os 27 anos de Jornalistas&Cia e 25 anos de ADM no Brasil! Parabéns, Jornalistas&Cia! 1997 - 2022 anos no Brasil 120 anos no mundo

Edição 1.378 página 13 Inscrições até 30 de setembro 27ANOS Se a pandemia do novo coronavírus potencializou a audiência digital do jornalismo, também escancarou a queda na receita publicitária, o que atingiu principalmente a mídia tradicional. Por não depender excessivamente da venda de anúncios, a mídia nativa digital não sofreu enormes perdas financeiras entre 2020 e 2021, segundo o estudo Ponto de Inflexão Internacional, da SembraMedia. Entretanto, a pesquisa aponta uma preocupação pela dependência dessas iniciativas por subvenções como principal via de recursos. Nos últimos anos, organizações como Google e Meta vêm apostando em programas de aceleração de veículos e projetos de mídia. Muitas vezes realizadas com a colaboração de associações ou entidades de apoio ao jornalismo, essas iniciativas oferecem capacitação de jornalistas para as áreas de negócio e tecnologia, duas lacunas comuns entre comunicadores que querem empreender na área. “O conceito de jornalismo independente é um conceito em disputa, não há uma resposta única sobre o que ele significa. Mas podemos olhar para dois aspectos: o da independência financeira e o da independência de interesses, que estão interconectados”, afirma Moreno Osório. “O diferencial desse tipo de jornalismo digital está justamente na busca por um modelo de negócio que permita a sustentabilidade financeira, ao mesmo tempo que possibilita uma expansão dos horizontes editoriais”. Segundo o especialista, a busca por receita no ambiente digital mudou o foco dos veículos, dos anunciantes para a audiência. “Um modelo de negócio viável é aquele que transmite para as pessoas que o jornalismo feito pela organização é importante e tem impacto real. Acho que a pandemia é um bom exemplo disso, as pessoas passaram a valorizar mais o jornalismo. O desafio agora é como sustentar essa ideia”, conclui. A corrida por sustentabilidade e independência financeira As muitas possibilidades de monetização Além da escuta ativa da audiência, a sustentabilidade financeira do jornalismo digital passa, segundo especialistas, pela diversificação das fontes de receita. Doações, serviços de consultoria, modelos de assinatura de conteúdo e subvenções por fundações são algumas das 30 possibilidades de financiamento para o jornalismo digital apontadas pela pesquisa Ponto de Inflexão. Não existe fórmula mágica de sucesso, no entanto. O processo de decisão sobre a melhor estratégia de financiamento depende dos objetivos de cada organização, se ela tem fins de lucro ou não, qual a sua estrutura de equipe e o potencial de alcance de sua audiência, por exemplo. A busca por diferentes ingressos foi um dos focos dos fundadores da Marco Zero Conteúdo desde o início da organização, em 2015. O veículo sem fins lucrativos aposta na venda de cursos, nas doações de leitores e em bolsas e editais de fomento ao jornalismo. Em 2017, conseguiu um financiamento institucional da Oak Foundation, o que garante a sustentabilidade da organização. “O apoio internacional foi um reconhecimento ao trabalho que estávamos fazendo como organização de jornalismo independente do Nordeste. Mas demandou muito trabalho de planejamento estratégico e de gestão do nosso lado, coisas com as quais não estávamos acostumados”, afirma Carolina Monteiro. A cofundadora da organização defende a importância de que iniciativas filantrópicas aportem financiamento institucional ao jornalismo: “O financiamento de projetos específicos é importante e funciona como complemento, mas os veículos precisam de estabilidade para os negócios a longo prazo”. O foco no público Persuadir o leitor para que ele pague para ler notícias continua sendo uma questão crítica para o jornalismo. Enquanto algumas organizações digitais seguem os veículos tradicionais no uso de modelo de assinatura com base em paywall,

O jornalismo sempre teve valor imensurável para mim. Não à toa escolhi a profissão e consolidei minha carreira como ‘jornalista corporativa’, como gosto de chamar. Os últimos anos só reforçaram o que sempre acreditei: a importância de uma boa comunicação para manter a sociedade conectada à realidade global que nos cerca, empoderada por meio da informação e compondo o centro dos debates mais relevantes no Brasil e no mundo. Há 27 anos o Jornalistas&Cia valoriza os pilares da comunicação no País e compartilha dessa missão de levar às pessoas o que elas querem e precisam ouvir, além de trazer um panorama certeiro, com olhar sempre atual, desse mercado tão dinâmico e diverso que precisa ser reconhecido. Nesta edição, parabenizo com orgulho a todos os meus colegas e parceiros do jornalismo e da comunicação corporativa que fazem parte dessa história e que colaboram para a construção do futuro da nossa profissão. Regina Moura, diretora de comunicação e digital na Roche Farma Brasil

Edição 1.378 página 15 Inscrições até 30 de setembro 27ANOS outras apostam no oferecimento de versões abertas de conteúdo e em programas de recompensas para apoiadores. Em 2022, o Núcleo Jornalismo, veículo digital focado em cobrir redes sociais e seu impacto na sociedade, lançou um programa de membros com o objetivo de se aproximar da audiência. Os leitores podem escolher entre três opções de aporte mensal em troca de benefícios exclusivos, como acesso direto aos editores e participação em encontros mensais com especialistas. “O jornalismo só é executado de forma completa se houver preocupação com a audiência. E ela responde”, afirma Alexandre Orrico, cofundador da organização. “Quanto mais atencioso o veículo, quanto mais retorno tiver e mais incluída a comunidade for, mais as pessoas respondem com participação, dinheiro, feedback. E isso impacta diretamente o modelo de negócios. Sabemos que é uma missão difícil, mas queremos que cada vez mais nossas atividades sejam financiadas pelos leitores e por quem gosta do nosso conteúdo”. A longo prazo, o objetivo do veículo é de que pelo menos 20% das despesas sejam cobertas com dinheiro dos apoiadores. A organização também se financia por meio de parcerias e da monetização de ferramentas tecnológicas de audiência e visualização de dados que desenvolve. Veículos como Agência Pública, Lupa e Ponte Jornalismo também investiram em membresias. O modelo possibilitou o surgimento da função de gerentes de comunidade ou de relacionamento, cargo que se dedica à interação com os membros e a busca por novos apoiadores. “Não é somente uma função comercial, é uma junção de organização de projetos com atendimento ao cliente. Eu preciso ouvir os feedbacks dos membros, e também ajudar a pensar em novas campanhas, por exemplo”, explica Jéssica Santos, da Ponte. Independentemente do tamanho do nicho que vai atender, o jornalismo digital atinge diferentes escalas de maturidade financeira e de negócios. Algumas organizações com fins de lucro, por exemplo, apostam na busca por sócios e investidores para conseguir crescer e acelerar seus negócios. O Jota, que se especializou em oferecer informação sobre os Três Poderes, nasceu com o aporte de um investidor-anjo. O jornalismo especializado, a tecnologia e a diversificação de produtos abriram caminho para a rentabilidade – e por reconhecimento. Em 2019, o veículo foi o vencedor do prêmio LATAM Digital Media Awards, na categoria de melhor startup de informação digital na América Latina. Outro exemplo é o Canal Meio, O veículo, que aproveitou o crescimento das newsletters no Brasil, entre os anos de 2014 e 2015, para consolidar o formato de curadoria diária de notícias, também conseguiu alavancar seus negócios com aportes de sócios. Hoje, conta com 160 mil inscritos gratuitos e cerca de dez mil assinantes da versão paga, com o valor de R$ 9,90 por mês. Em abril de 2022, a organização captou R$ 5 milhões de investidores e aposta agora em aumentar a equipe, expandir a presença digital com formatos de vídeos e chegar aos 30 mil assinantes pagos em dois anos. “Olhamos nossos assinantes de forma diferente, mais atenta aos dados. Você tem que olhar o que as pessoas estão fazendo, como é que Programa de membros do Núcleo Jornalismo acervo pessoal Alexandre Orrico

Edição 1.378 página 17 Inscrições até 30 de setembro 27ANOS estão consumindo o seu produto, no que estão clicando, o que estão falando sobre ele nas redes sociais”, explica Vitor Conceição, CEO do Meio. A análise dos hábitos de consumo e comportamento do público foi a base para a organização pensar em novos produtos, como os programas do YouTube Ponto de Partida, com o editor-chefe Pedro Doria, e De Tédio a Gente Não Morre, com a colunista Mariliz Pereira Jorge. O canal da organização na plataforma de vídeos já passa dos 150 mil inscritos. Conceição é otimista em relação ao desenvolvimento de novos negócios de jornalismo digital no Brasil: “Estamos em um período bom de crescimento e são muitas as possibilidades para pensar um veículo. Desde criar um canal do TikTok, ou um site, o jornalista pode começar a produzir um MVP (Produto viável mínimo) e daí criar uma marca, desenvolver sua audiência e ir atrás de financiamento”. O caminho para a sustentabilidade e o crescimento do negócio, no entanto, demanda tempo e dedicação: “Você pode dar sorte e criar um canal que viralize, mas isso não é o normal. Como toda startup, o jornalismo digital precisa de um tempo de maturação, de dois, três anos, e de um planejamento estratégico para conseguir se desenvolver e começar a ganhar dinheiro”. A lógica de cliques Para Alexandre Orrico, do Núcleo, o alcance do jornalismo digital Vitor Conceição acervo pessoal um veículo que informa, transforma e conecta todo o mercado de comunicação. lamcomunicacao.com lam-comunicacao lam.comunicacao A LAM COMUNICAÇÃO PARABENIZA OS 27 ANOS DO JORNALISTAS&CIA

Edição 1.378 página 18 Inscrições até 30 de setembro 27ANOS O Grupo Nexcom, formado pelas agências FR e PUB, reforçou seu negócio de publicidade com a contratação de dois novos profissionais: Pedro Lara, novo head de publicidade, e Fernanda Martire, gerente de Inteligência de Mídia. A ideia é fortalecer ainda mais a filosofia full service do grupo. Pedro trabalhou na Lew’Lara, mood/TBWA, Gloria Brasil e FleishmanHillard. Fernanda já atuou na Artplan, Oslo Digital, Agência Tri e na agência carioca BTG. Os dois profissionais são responsáveis pela formação da área de Publicidade e Mídia do Grupo Nexcom que desenvolverá estratégias tanto para os clientes da PUB quanto da Fato Relevante. Grupo Nexcom reforça sua área de publicidade Um dos formatos a serem explorados é o branded content Um dos potenciais a serem explorados é o mercado de branded content, justamente um dos formatos que mais fazem sentido quando se considera a complementaridade das duas casas. “Diferentemente de um anúncio clássico, o publieditorial e o branded content fazem uso de uma linguagem jornalística para transmitir uma mensagem publicitária”, explica Lara. Ele lembra que a “escola brasileira” de publicidade e propaganda sempre foi respeitada internacionalmente. Em sua era “dourada”, nos anos 70, 80 e 90, já havia uma “dobradinha” com o universo das Relações Públicas. “Foi um período em que muitas das marcas que estão no mercado até hoje foram construídas por meio de grandes campanhas. Ao mesmo tempo, cabia ao PR fazer a gestão da reputação dessas empresas junto à mídia e a outros públicos”. Esse olhar de complementaridade para as duas atividades ganha ainda mais relevância quando se considera que, no atual universo hiperconectado das mídias sociais, consumir um determinado produto ou serviço passou a ser uma forma de se posicionar — e a escolha de uma ou de outra empresa passa a estar relacionada, também, aos valores que as marcas representam. Uma marca bem construída, a partir de fundamentos trazidos pela publicidade e pelas relações públicas está pronta para enfrentar os desafios do mercado atual. Diante desse cenário e com uma oferta inesgotável de conteúdo disponível na rede, o consumidor muitas vezes busca informação que, de fato, faça a diferença. E aí entra o branded content. “Diversas pesquisas mostram que o formato permite alcançar clientes em todas as fases de um funil de conversão, sendo que uma das mais importantes, em nossa visão, é a de usá-los como uma saída para a ‘era cookieless’, que o Google deverá impor a partir de 2023”, destaca Fernanda. A fórmula é mais simples do que parece: produzir conteúdo relevante e de qualidade, optando por veículos conhecidos e de credibilidade e tendo em vista — sempre! — a adequação desse veículo ao público-alvo. Com uma boa pitada da inteligência de dados que os dias atuais exigem. Criado inicialmente com as agências Fato Relevante e PUB, o Grupo Nexcom surgiu a partir da ideia de ganho de escala e escopo em um mercado cada vez mais disputado. Juntas, as duas agências somam mais de 100 clientes e 160 profissionais, ocupando a quinta posição, em 2021, em faturamento entre os grupos de Comunicação controlados por brasileiros. Fale conosco: [email protected] Fernanda Martire e Pedro Lara Conteúdo de marca

Edição 1.378 página 19 Inscrições até 30 de setembro 27ANOS independente ainda é limitado pelo modelo digital baseado em tráfego e cliques, que beneficia portais com grandes volumes de audiência: “O que falta é uma grande conversa sobre modelo de negócios e jornalismo, que envolva anunciantes e empresas donas de redes sociais. Outros modelos de monetização deveriam ser possíveis para valorizar o conteúdo de qualidade”. Em uma tentativa de subverter essa lógica de anunciantes, o Alma Preta Jornalismo fundou, em 2020, a Black Adnet, uma rede que aproxima grandes marcas de veículos e influenciadores especializados em questões raciais, de gênero, direitos humanos e voltadas para as periferias. A ideia é que as empresas possam investir em campanhas mais direcionadas e de maior impacto social, enquanto as iniciativas conseguem monetizar produzindo peças publicitárias que condizem com a sua linha editorial. A rede já conta com mais de 20 parceiros e é formada exclusivamente por sites com lideranças negras. No entanto, o domínio das ferramentas de anúncios pelas empresas de tecnologia ainda é desproporcional e abre o questionamento sobre outras formas de financiamento. Em 2022, a discussão de que companhias como o Google e o Facebook deveriam pagar os veículos de notícias pelos conteúdos veiculados em suas plataformas surgiu com força no País por causa do PL das Fake News. A proposta de regulamentação, no entanto, dividiu a opinião de organizações de jornalismo, como a Associação de Jornalismo Digital (Ajor), que afirmaram que a forma como o pagamento por notícias foi colocada na proposta poderia excluir veículos de pequeno e médio portes.

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Edição 1.378 página 21 Inscrições até 30 de setembro 27ANOS Em sua análise sobre a pesquisa Digital News Report 2022, o pesquisador Nic Newman observa que a crise sanitária e outras crises ao longo dos últimos anos aceleraram ainda mais as mudanças em direção a um ambiente de mídia mais digital, móvel e dominado por plataformas. O que tem implicações diretas para os modelos e formatos de negócios jornalísticos. Segundo o estudo, a maioria dos brasileiros consome notícias pelo celular. Além disso, quase dois terços dos brasileiros informam-se por meio das redes sociais. O Facebook foi ultrapassado pelo YouTube como a plataforma mais popular. Entre os jovens, cresce o destaque para redes visuais, como o TikTok e o Instagram. Ainda é baixo, porém, o número de pessoas que pagam por notícias digitais. E ainda menor entre a audiência mais jovem. De maneira geral, estes são consumidores de notícias menos leais a uma marca e mais desconfiados sobre as informações. A diferenciação de formatos e conteúdos, no entanto, é algo que os atrai. Na corrida por outras histórias e pela conquista de novos públicos, o jornalismo digital reinventa-se com uma diversidade de temáticas, produtos, linguagens e – sobretudo – por meio da colaboração. Explorando nichos temáticos A cobertura de nichos é um dos grandes diferenciais do jornalismo nativo digital. Se antes temas como Novos formatos, novas audiências

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Edição 1.378 página 23 Inscrições até 30 de setembro 27ANOS cultura, meio ambiente, saúde, raça e gênero constituíam editorias verticais – e secundárias – do jornalismo tradicional, no digital eles ganham protagonismo. “Um veículo especializado contribui para tornar a cobertura do tema mais plural, trabalhando com um universo de fontes mais heterogêneo e fora do óbvio”, afirma Dimas Marques, editor-chefe do Fauna News. “Buscamos aprofundar debates e apresentar contextos que a imprensa generalista não busca”. Fundado em 2011 como um blog, o veículo de São Paulo é totalmente focado na cobertura da fauna silvestre. Além de fiscalizar o comércio ilegal de animais, aborda em suas reportagens os impactos da perda de habitat e as políticas públicas relacionadas à questão. O site mantém 12 colunas temáticas, nas quais mais de 50 pesquisadores, especializados em temas como reabilitação de animais, repressão de crimes ambientais ou educação ambiental, publicam artigos. “Estima-se que 38 milhões de animais são retirados da natureza brasileira por ano para abastecer o mercado ilegal de fauna”, afirma Marques. “Também são cerca de 475 milhões de animais atropelados todos os anos nas estradas e rodovias do País. Os impactos dessas ações humanas Dimas Marques acervo pessoal www.novapr.com.br

Edição 1.378 página 25 Inscrições até 30 de setembro 27ANOS sobre a fauna não são discutidos ou sequer contextualizados pela sociedade. O Fauna News está se propondo a dar esse primeiro passo na imprensa brasileira. Um passo que vai contribuir para dar voz a um setor da sociedade que trabalha pela conservação e pelo bem-estar dos animais e que, dentro do próprio jornalismo, não é valorizado”. O veículo foi um dos selecionados para o programa Acelerando a Transformação Digital, iniciativa desenvolvida pelo International Center for Journalists (ICFJ) e pela Meta, em parceria com a Associação de Jornalismo Digital (Ajor). Como resultado das consultorias de negócio, o Fauna News lançou o podcast Silvestres, que discute o futuro da gestão da biodiversidade no Brasil. Assim como o Fauna, outras iniciativas com foco na cobertura ambiental ganharam grande relevância no jornalismo nos últimos anos. É o caso da agência Amazônia Real, veículo de Manaus fundado em 2013 com o objetivo de visibilizar as vozes das populações tradicionais da região amazônica. Em 2021, as fundadoras da agência, Elaíze Farias e Kátia Brasil, foram homenageadas no Congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) por suas contribuições ao jornalismo brasileiro. Além do olhar para a sustentabilidade e para a defesa de territórios, são diversas as temáticas de especialização do jornalismo digital. As discussões sobre gênero, feminismo e o protagonismo de mulheres ganham novos contornos Jornalistas& Comunicadores& Influenciadores& Inovadores& Cia. A CDI parabeniza o Jornalistas&Cia. por esses 27 anos de parceria, durante os quais testemunhamos a evolução da área de comunicação, criamos inovação para a era digital e abrimos caminhos para as tranformações que ainda virão. Um brinde a quem gera conexões transformadoras há 27 anos.

Edição 1.378 página 26 Inscrições até 30 de setembro 27ANOS na cobertura de veículos como Revista AzMina, Gênero e Número, Nós, mulheres da periferia. A pauta antirracista, com o Alma Preta, a Revista Afirmativa ou o Notícia Preta. Arte, cultura e literatura destacam-se em Revista O Grito!, Quatro Cinco Um, Emerge Mag. Independentemente do tamanho, estrutura ou modelo de negócio, essas publicações têm como missão tornarem-se referências em suas áreas de atuação, conseguindo impactar seu entorno e pautar o debate público. Uma nova cara para o jornalismo visual Com o objetivo de combater a desinformação eleitoral, o Nonada Jornalismo, veículo digital de Porto Alegre, lançou uma série de histórias em quadrinhos que explicam, por exemplo, o que faz um deputado federal e como funciona a urna eletrônica. A iniciativa foi financiada pelo Programa Acelerando a Transformação Digital, realizado pelo ICFJ, em parceria com a Ajor e apoio da Meta. “Os quadrinhos podem causar mais empatia, e isso é uma ferramenta muito forte para o jornalismo”, explica Rafael Glória, editorfundador do veículo gaúcho. “Além disso, há todo o lado de inovação também, de experimentar algo mais artístico e poder mudar um pouco a linguagem jornalística, que às vezes pode ser muito sisuda”. O conteúdo é direcionado a alunos matriculados em instituições de ensino de jovens e adultos, que o recebem via WhatsApp. A proposta de distribuição via aplicativo de mensagem faz parte da estratégia de diversificação de canais da organização: “Acreditamos que assim é possível criar uma conexão maior com o nosso usuário”. O jornalismo visual e a infografia não são recursos novos na imprensa, mas o digital ampliou as possibilidades de formatos, assim como alterou as relações de trabalho de profissionais dessas áreas. Para Lucas Gomes, designer no Jota, as plataformas digitais exigem um pensamento mais sistêmico: “Enquanto antes a gente pensava em uma peça única, agora temos que pensar que um conteúdo visual funciona de um jeito no celular, de outro computador e de outro ainda nas redes sociais. É preciso traçar uma Rafael Glória acervo pessoal Cecília Marins Quadrinhos do Nonada

Edição 1.378 página 27 Inscrições até 30 de setembro 27ANOS estratégia para que essas adaptações sejam rápidas e efetivas. E o diálogo com outros profissionais, de marketing e de dados, também aumenta bastante”. Esse investimento nos detalhes gráficos e visuais, segundo Gomes, gera impactos importantes para o jornalismo digital: facilita o entendimento do assunto pela audiência, é um diferencial que atrai mais leitores no meio de tantos outros conteúdos e gera mais valor e reconhecimento para a marca do veículo. acervo pessoal Lucas Gomes Arte do Jota

Edição 1.378 página 28 Inscrições até 30 de setembro 27ANOS A expansão dos dados e da tecnologia Nos últimos anos, o jornalismo também passou a investir mais em narrativas orientadas a dados. Do lado do jornalismo digital, houve uma explosão de organizações dedicadas a isso, e que vêm se destacando na indústria de mídia. É o caso do Volt Data Lab e do Nexo Jornal, em São Paulo, do data labe, no Rio de Janeiro, e da Agência Tatu, em Maceió. Em 2019, a Escola de Dados, em parceria com a Abraji, lançou o Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, o primeiro a reconhecer e apoiar trabalhos de excelência do setor. A última edição da premiação fez uma menção honrosa ao Monitor Nuclear, uma aplicação gratuita desenvolvida pelo Núcleo Jornalismo que identifica tendências e mostra análises de engajamento no Twitter de mais de 500 políticos brasileiros. “Para mim, é até insuficiente dizer que a tecnologia é central em nosso jornalismo. É mais do que isso: no Núcleo, tecnologia é jornalismo. Acho que a organização do prêmio também entendeu que o app em si é jornalismo, mas num formato diferente”, afirma Alexandre Orrico, cofundador do veículo. A tecnologia também possibilita o desenvolvimento de novos produtos para o jornalismo. É o caso da robô Fátima, inteligência artificial desenvolvida pelo Aos Fatos que ajuda na checagem de informação em redes sociais como Twitter, WhatsApp e Telegram. A iniciativa foi vencedora do Prêmio Cláudio Weber Abramo em 2019. O veículo especializado em reportagens de checagens de fatos Orgulho de compartilhar valores com uma das grandes referências do nosso mercado. Parabéns, Jornalistas e Cia, pelos 27 anos. INFORMAÇÃO COM VERDADE. ATITUDE, PARCERIAS E RELAÇÕES VERDADEIRAS. O poder da verdade

Edição 1.378 página 29 Inscrições até 30 de setembro 27ANOS também é criador do Radar Aos Fatos, tecnologia desenvolvida por cientistas de dados, estatísticos, linguistas e jornalistas para facilitar o entendimento sobre campanhas mentirosas na internet. A iniciativa ganhou o Prêmio Gabo 2020 na categoria Inovação e o Digital Media Latam 2020 como melhor projeto de jornalismo digital. Além de contribuírem como geradores de conteúdo para veículos e como fontes de dados para pesquisadores e tomadores de decisão, esses projetos pensados por meio da tecnologia também têm impacto no dia a dia dos usuários e na sociedade. É o caso do aplicativo PenhaS. Desenvolvida pela Revista AzMina, a ferramenta funciona como canal de acolhimento, informação e denúncia para mulheres vítimas de violência doméstica. Ou do Cocôzap, projeto do data labe no qual os cidadãos do complexo de favelas da Maré podem ajudar no mapeamento e proposição de soluções sobre saneamento básico, abastecimento de água e coleta de lixo na região. No fone e na tela Conteúdos de áudio e vídeo também ganham novos formatos no jornalismo digital, impulsionados principalmente pelas redes sociais e pela mudança nos hábitos de consumo de notícias. No TikTok desde 2020, o perfil da Agência Lupa, do Rio de Janeiro, já ultrapassa os 200 mil seguidores. Com vídeos curtos, que misturam trends, checagem de notícias e educação midiática, o veículo tem se posicionado como um canal importante de discussão sobre a desinformação, problema crescente nas plataformas digitais. Formato em constante crescimento e consolidação no País, o podcast também é uma aposta entre as iniciativas digitais. Um dos últimos lançamentos da produtora Rádio Novelo, também carioca, o Projeto Querino, que conta a história do Brasil pelo olhar afrocentrado, chegou ao primeiro lugar como o podcast mais ouvido do País no Spotify. Uma mão lava a outra Junto com tecnologia e diversidade, colaboração também é palavra de ordem do jornalismo digital. Parcerias entre veículos e organizações dão visibilidade a temas pouco discutidos, ajudam na formação de profissionais, aumentam o alcance de conteúdos e abrem caminhos para a sustentabilidade. Uma parceria entre sete mídias independentes – AzMina, Amazônia Real, Agência Eco Nordeste, #Colabora, Portal Catarinas, Marco Zero e Ponte Jornalismo – deu vida ao especial Um vírus, duas guerras, um monitoramento exclusivo sobre o aumento da violência contra mulheres durante a crise sanitária. Como parte de uma investigação compartilhada, Agência Pública e Repórter Brasil lançaram o Robotox, um robô que tuita sempre que agrotóxicos são aprovados pelo Governo Bolsonaro e publicados no Diário Oficial. Agência Mural e a Agência Lupa uniram-se nas eleições de 2022 para

Edição 1.378 página 30 Inscrições até 30 de setembro 27ANOS lançar o projeto Papo Reto no Zap, que distribui informação verificada para bairros periféricos de São Paulo via grupos de WhatsApp. Também neste ano, a Énois lançou a segunda edição do programa Diversidade nas Redações, focado na formação sobre gestão e financiamento para organizações jornalísticas nos territórios fora do eixo Rio-São Paulo. “O jornalismo digital só funciona se estivermos juntos, em uma relação em que todos ganham”, afirma Moreno Osório. Além de cofundador do Farol Jornalismo, newsletter de discussão sobre tendências no jornalismo, o pesquisador também é editor da Mirante Headline, que traz uma curadoria das notícias da semana por meio da cobertura do jornalismo independente. Também com o objetivo de pôr o jornalismo digital em evidência, a Ajor lançou no começo de setembro a Brasis, newsletter diária que traz notícias publicadas pelas organizações associadas. O JORNALISMO É A CURA PARA A DESINFORMAÇÃO. E o Jornalistas & Cia nos dá a receita, há 27 anos. Obrigada e parabéns!

Edição 1.378 página 31 Inscrições até 30 de setembro 27ANOS Graças a um edital oferecido pela Agência Pública, um grupo de estudantes de jornalismo do Recife conseguiu formar um coletivo independente para começar a escoar os conteúdos produzidos durante a universidade: o Retruco. “Queríamos ser uma ponte entre os jovens jornalistas que estavam saindo da academia para o mercado”, explica Bruno Vinicius, cofundador do veículo. Fundada em 2018, a iniciativa de jornalismo local nasceu com o objetivo de transformar as histórias do território em pautas globais, além de ser um respiro em meio a uma crise que se instaurou no jornalismo tradicional no Nordeste: “A comunicação no Nordeste não estava preparada para as transformações digitais com as quais fomos impactados nos últimos anos. Recife, por exemplo, tem o segundo maior polo de tecnologia do País, mas a comunicação/jornalismo não se integra a ele. Isso gerou uma crise generalizada nos grandes meios, e o jornalismo independente vem como uma das soluções”. Assim como o Retruco, outras iniciativas de jornalismo digital nasceram das mãos de jovens empreendedores que estavam saindo de faculdades de Jornalismo, apesar de um ambiente acadêmico que não investe em competências para ajudar esses estudantes a pensar em novos projetos. Publicado em 2018, o estudo Ponto de Partida revelou que, na América Latina, só 2,82 % das 1.700 universidades de Jornalismo e Comunicação analisadas ofereciam disciplinas de empreendedorismo em suas grades curriculares. Em um ecossistema digital competitivo, que demanda cada vez mais noções de vendas, negócios e estratégia, a lacuna de formação pode ser um fator determinante entre o sucesso e o fracasso de uma organização. “Cada dia mais vejo gente interessada em criar seus próprios veículos para falar da sua comunidade, do seu bairro, e isso é muito legal”, afirma Carolina Monteiro, da Unicap. Segundo ela, o currículo da instituição está passando por um processo de reestruturação, para oferecer disciplinas que atendam Como preparar jovens jornalistas para o novo jornalismo Equipe Retruco em 2018 Histórias movemomundo e contribuem para uma sociedade aberta ao diálogo. Parabéns, Jornalista&Cia, por fomentar, há 27 anos, as boas histórias do nosso mercado!

Edição 1.378 página 32 Inscrições até 30 de setembro 27ANOS às competências necessárias desse novo jornalismo: “Estamos incluindo conteúdos de empreendedorismo e competências ligadas a essa multidisciplinaridade do século 21, a questão da visualização e análise de dados, o marketing digital, design...”. No processo de adaptação, a universidade recifense também quer olhar criticamente para a própria estrutura do curso: “Muitos dos autores que utilizamos são brancos e europeus. Queremos apresentar outras formas de pensamento científico e crítico, com autores e autoras latino-americanos, negros e negras”. A inovação na academia brasileira, no entanto, esbarra no sucateamento e nos cortes na ciência e na educação. Além disso, as transformações digitais, cada vez mais rápidas, são um empecilho para o desenvolvimento de novos currículos. “A academia não é o mercado. O curso universitário tem a responsabilidade de formar cidadãos críticos, além de investigação, ética e apuração. Muitas vezes as instituições entram numa sinuca de bico porque têm que responder às demandas desse mercado, que pede determinados tipos de habilidades muito específicas, e que podem ficar obsoletas dois, três anos depois”, afirma Moreno Osório, da PUC-RS. O especialista destaca a importância da formação complementar, por meio de cursos, oficinas, congressos, para os estudantes que vão entrar nesse mercado de trabalho cada vez mais digital. Para Rafael Sbarai, da Cásper Líbero e da Faap, há algumas competências cruciais para os estudantes de Jornalismo de hoje: “O conhecimento em edição de vídeo, interesse por dados e ferramentas de dados, conhecimento em plataformas de redes sociais e seus algoritmos, leituras profundas sobre estratégias de SEO (otimização de motores de busca, em português) e muita leitura do mercado de tecnologia”. O domínio das ferramentas, no entanto, não deve se sobressair ao domínio das técnicas jornalísticas, afirma a jornalista Luana Copini, uma das colaboradoras pedagógicas do programa Repórter do Futuro. Criada pela Oboré, a iniciativa oferece, há mais de 20 anos, módulos de aperfeiçoamento a estudantes universitários de graduação que desejam aprofundar o conhecimento e a prática da reportagem. “O texto ainda é a base do projeto, porque entendemos que sem texto não existe publicação, nem conteúdo para a rede social, nem roteiro para um vídeo legal. Tecnologia nenhuma substitui o texto jornalístico”, afirma. “O diálogo com a tecnologia é fundamental para o jornalismo de hoje, mas é fundamental retomar os processos de construção da pauta com os estudantes”.

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