Edição 1.383 página 18 PRECIO SIDADES do Por Assis Ângelo Acervo ASSIS ÂNGELO Contatos pelos [email protected], http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-985-490-333. “Democracia é a forma de governo emque o povo imagina estar no poder”. A frase aí é do jornalista, contista, cronista e poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade. Drummond, que nasceu no dia 31 de outubro de 1902, deixou uma obra de grande importância para a cultura literária brasileira. Preocupava-se com as questões sociais do seu tempo e não se omitia nas questões de cunho político. Mesmo semdisputar nenhum cargo eletivo, tinha ampla visão sobre o que ocorria na Câmara e no Senado. E nas ruas. Em todo canto. Foi, aliás, chefe de gabinete do deputado Gustavo Capanema (1900-1986). Capanema, mineiro como Drummond, foi o primeiro e mais longevo ministro da Educação (e Saúde Pública). No livro Rosa do Povo (1945) Drummond aponta em versos os problemas reais que o Brasil vivia à época, incluindo os reflexos da 2ª Guerra Mundial. O crítico austríaco Otto Maria Carpeaux (1900-1978), amigo do romancista surrealista Franz Kafka (1883-1924), classificou Drummond como “o poeta público”. O primeiro livro de Carlos Drummond, Alguma Poesia, foi lançado à praça em 1930 por iniciativa dele próprio, que bancou os custos editoriais para uma tiragemde apenas 500 exemplares. Fez omesmo que fizera, em 1912, o paraibano Augusto dos Anjos. Eu, de Augusto, teve tiragem igual ou inferior ao livro de Drummond. Drummond é por muita gente considerado um modernista. Em 1922, Carlos Drummond de Andrade tinha 20 anos e alguns textos publicados no jornal Diário de Minas, do qual seria redator-chefe. Entre esses textos estavam os contos Rosarita (1919) e Joaquim do Telhado (1922). Não eram grande coisa. Os seus primeiros e mais conhecidos poemas são No Meio do Caminho e Quadrilha. No Meio do Caminho, publicado pela primeira vez na Revista de Antropofagia, ano 1, nº 03, em São Paulo, é este: No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra. Há 120 anos nascia Carlos Drummond de Andrade Particularmente, eu gosto muito da obra de Carlos Drummond. Acho fundamental, pra quem gosta do que é bom, o texto De Notícias e Não Notícias Face a Crônicas. Esse texto eu li por volta de 1975. Está no livro Reunião, cuja primeira edição data de 1969. Também de extremo bom gosto é o poema A Máquina do Mundo, que está no livro Claro Enigma (1951), inspirado no último dos dez cantos do épico camoneano Os Lusíadas (1572). Drummond foi umautor múltiplo, de textos encantadores. Na poesia, nem sempre seguia a métrica. Gostava de versos livres, brancos. Era um prosador poético. Eu o entrevistei num dia qualquer de dezembro de 1979. O texto foi inserido numa edição especial do extinto suplemento Folhetim, da paulistana Folha de S.Paulo, que punha em discussão a literatura brasileira da década de 1970. Saiu no dia 13 de janeiro de 1980. Comecei falando da visão social e política que o mineiro Drummond tinha. Falei da sua passagem pelo gabinete de Capanema (governo Vargas; 1930-1945). Esqueci de dizer, porém, que ele teve uma passagem rápida pelas fileiras do Comunismo, cooptado que foi pelo Cavaleiro da Esperança, Luís Carlos Prestes. Lembro que perguntei a Drummond o que achava do Partido dos Trabalhadores, PT, que estava se formando. E ele: “Homem de partido é partido”. Não custa dizer: vários poemas de Drummond foram musicados e como tais gravados em disco. Num desses, o clássico José, na voz do pernambucano Paulo Diniz. A gravação original foi lançada em 1972, há exatamente 50 anos. No ano do centenário de nascimento de Drummond foi inaugurada, em Copacabana, uma estátua em homenagem a ele. Em bronze. Os óculos dessa estátua já foram roubados 13 vezes. A última, em abril deste ano. Carlos Drummond de Andrade morreu em 17 de agosto de 1987, no Rio. Em tempo: nesta quinta-feira (3/11), Assis dará uma entrevista ao vivo para o Boteco APJor, da Associação Profissão Jornalista, programa online, pela plataforma StreamYard. Falará sobre sua trajetória profissional, seu começo, glórias, dificuldades, sua avaliação do jornalismo atual etc. Começa às 16h e segue até 18h/18h30. Foto e reproduções por Flor Maria e Anna da Hora Colagem do cartunista Fausto Bergocce Carlos Drummond de Andrade, por Fausto Bergocce
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