Edição 1.383 página 5 De Londres, Luciana Gurgel Para receber as notícias de MediaTalks em sua caixa postal ou se deixou de receber nossos comunicados, envie-nos um e-mail para incluir ou reativar seu endereço. Três dias depois de Elon Musk confirmar a conclusão da compra do Twitter com o simbólico “the bird was freed” (“o pássaro está solto”), uma das mais conhecidas ONGs dedicadas a combater discurso de ódio nas redes lançou um apelo por doações para combater o que ela acha que vem por aí. O e-mail é assinado por Imran Ahmed, diretor-geral do Center for Countering Digital Hate (CCDH), voz respeitada na batalha contra o que classifica como poder excessivo das grandes redes digitais. No apelo, ele disse: “Se você quiser ver como seria o distópico ‘Hellscape’ de Elon Musk para o Twitter, basta olhar para as últimas 72 horas”. Hellscape foi a palavra usada pelo bilionário para dizer que a rede social não viveria um “liberou geral”. Para o CCDH, não é bem assim. Ahmed aponta como sinal preocupante a volta do partido neonazista Britain First à plataforma, depois de ter sido banido em 2017 por discurso de ódio contra muçulmanos. OCCDH listou tambéma controvertida manifestação de Elon Musk sobre o atentado dirigido à presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi. Para a organização, “o homem responsável por fazer cumprir as regras quebrou as regras”. Por mais que Elon Musk seja uma figura notável nos negócios e seu compromisso com a liberdade de expressão seja em tese louvável, é difícil defender o bilionário depois de ele dar visibilidade a uma teoria da conspiração sobre o ataque, referindo-se ao conteúdo de um “site de noticias” notório por desinformação. Ao escrever que “existe uma pequena possibilidade de que as aparências enganem”, Musk falou com mais de 113 milhões de pessoas, número astronômico de seguidores que amealhou. A postagem foi apagada, mas “não antes de dar à desinformação seu tempo no centro das atenções”, nas palavras de Imran Ahmed. O CCDH listou outros sinais de mau tempo à vista. Um deles foi um aumento de 500% no uso da “palavra com N” no Twitter em um período de 12 horas após Musk anunciar a compra, registrado pelo Network Contagion Research Institute. A palavra que nem se escreve é o pior xingamento a pessoas negras na língua inglesa. A ONG não é a única a se preocupar como futuro do Twitter. A Repórteres SemFronteiras temse manifestado regularmente sobre os riscos ao jornalismo. Assimque o negócio foi concluído, a RSF distribuiu umcomunicado pedindo queMusk “tenha omáximo de cautela em sua reestruturação”. E afirmou que “o jornalismo não deve ser vítima colateral de suas decisões de gestão”. Twitter sob Musk: o futuro incerto da rede social mais relevante para política e jornalismo O texto salientou a demissão de executivos envolvidos com as políticas de moderação, alertando que, “à medida que as redes de desinformação se aproveitam do algoritmo do Twitter e de sua mecânica de comunidade, demitir os funcionários responsáveis por manter esses problemas sob controle pode ter consequências catastróficas”. Para o CCDH, Elon Musk sinalizou que o Twitter “agora não tem regras, enviando uma mensagem de que extremistas, abusadores, fraudadores e comerciantes de desinformação podem operar impunemente”. O limite entre liberdade de expressão e abuso ou risco para a sociedade não está demarcado, e jamais será. Elon Musk tem seguidores que apoiam sua visão de um Twitter mais livre, embora alguns dos mais famosos sejam figuras controvertidas como Donald Trump. Ainda é cedopara apostar no que vai acontecer com a rede social. O bilionário que agora assumiucomoCEO, dispensando intermediários para tomar decisões, é conhecido por bravatas. Muitas vezes isso faz parte do show dele, mas da cabeça de Musk nada pode ser descartado. Um dos riscos que o Twitter enfrenta é perder a relevância, se usuários importantes começarem a deixar a plataforma. Até agora isso não aconteceu, e talvez não aconteça como um movimento significativo, porque o Twitter é único. Não é a rede social de maior audiência, mas é de longe a de maior influência em política e jornalismo. As alternativas são poucas. Uma das que despontou nos últimos dias é a Mastodon, uma rede meio estranha em comparação ao padrão a que a maioria dos internautas está acostumada. Criada na Alemanha, ela é descentralizada, sem fins lucrativos e os usuários se conectam escolhendo um servidor temático. A apresentação diz que “seu feed deve ser preenchido com o que mais importa para você, não com o que uma corporação acha que você deveria ver”. A intenção pode ser louvável, mas reduz a oportunidade de interagir com outros assuntos que não sejam os do seu próprio interesse e descobrir coisas novas, ainda que algumas não sejam boas. E os números são insignificantes. Segundo o The Guardian, cinco dias depois da compra do Twitter por Musk ela ganhou 70 mil usuários. Mesmo que não faça dinheiro com o Twitter − até porque como homem mais rico do mundo ele não precisa muito disso −, Elon Musk já inscreveu seu nome na história da mídia digital. O tempo dirá se para o bem ou para o mal. Elon Musk Fox News Dsndrn-Videolar, por Pixabay
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