Edição 1.386 página 12 (*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo. havia pronunciado uma só palavra, o que preocupava muito os pais. Por isso, decidiram fazer uma simpatia sugerida pela avó materna do garoto. Segundo dona Clarisse, a história rendeu muito trabalho e vários arranhões a seu Romeu, pois a simpatia consistia em capturar um pássaro chamado urutago e fazê-lo piar na boca da criança com problemas. Os pais de Osmar cumpriram à risca a missão e a mãe afirma que no dia seguinte o menino passou a falar... Mas, aos quatro anos, Osmarzinho voltou a ter problemas de fala. De repente ficou gago. A mãe diz não saber se o motivo foi o susto por um coice de um cavalo na barriga do garoto ou em função de uma “tosse comprida” (coqueluche, doença comumna época). Oproblema só foi solucionado com remédio prescrito e manipulado pelo médico e farmacêutico Dr. Funchal, dono da fazenda Santa Efigênia, local onde os pais do menino trabalhavam (MATTIUSSI, 2004, p.18). A grande descoberta de Osmar foi aos nove anos, quando ouviu as transmissões dos jogos da Copa do Mundo da Suécia, em 1958. Ali nascia a paixão pelo rádio e o sonho de ser locutor esportivo. As narrações que tanto impressionaram o menino de Osvaldo Cruz foram feitas por Pedro Luiz e Édson Leite, com comentários de Mário Moraes, transmitidas pela Rádio Bandeirantes, de São Paulo. Pedro era mineiro de São Thomas de Aquino, que migrou para São Paulo no final dos anos 1930, tendo passado pelos principais prefixos da época, como Tupi, Pan-Americana, Bandeirantes, Nacional, Gazeta e Rádio Marconi. O locutor inovou as transmissões ao colocar repórteres atrás dos gols e criando o plantão esportivo para apurar e informar os ouvintes sobre os outros jogos que estavamacontecendo. Édson era paulista de Bauru, e além de locutor, era empreendedor e “marqueteiro”, em ummomento que ainda não existia esse conceito no País. Criou a Cadeia de Rádio Verde-Amarela, interligando a sede da Rádio Bandeirantes com afiladas em todo o Brasil, sem a utilização de satélites, tecnologia que só chegaria nos anos 1980. Foi um dos primeiros profissionais demarketing político, ao desenvolver discursos para Ademar de Barros, na campanha vitoriosa de 1962, ao governo do Estado. Mário Moraes era um comentarista sarcástico, prepotente e polêmico, que tinha grande domínio dos conceitos do futebol e uma análise precisa e técnica. Porém, tinha como marca a teimosia, sendo o principal parceiro de Pedro Luiz, ao longo da carreira de ambos (MATTIUSSI, 2004, p.25). De todos os narradores da época, Osmar elegeu Haroldo Fernandes, advogado, radialista e locutor esportivo, como seu preferido. Para ele, o ídolo era “rápido, tinha uma colocação de voz perfeita, uma dicção clara. Não tinha a impostação de Pedro Luiz, nem era tão sóbrio, suas palavras erammais simples e o vocabulários não tão rebuscado” (apud MATTIUSSI, 2004, p.31). Desde omomento emque se apaixonou pelo rádio, Osmar passou a transmitir tudo o que via em casa. Oscar Ulisses, irmão mais jovem e também locutor esportivo, lembra emdepoimento a documentário da ESPN que tudo era motivo para Osmar narrar uma sequência de ações cotidianas em formato de futebol (ESPN, 2016). Mas o sonho do menino só se realizaria mais tarde, quando, em 1962, entrou pela primeira vez em uma emissora de rádio. Em companhia de Osório, irmão e parceiro de todas as aventuras da infância, Osmar driblou a família e se inscreveu para cantar em um programa de calouros da rádio Clube de Osvaldo Cruz. Embora soubesse que não tinha o “dom” para cantar, o jovem, de 14 anos, foi mais para ver como era uma rádio por dentro... Infelizmente, foi “gongado” antes do final da primeira estrofe da música que havia escolhido. Porém, voltou para casa feliz por ter conhecido a emissora (MATTIUSSI, 2004, p.40). No mesmo ano, Osmar descobre que a rádio estava procurando locutores. Ao comentar com dona Clarisse, a mãe disse que era muito novo para a profissão, sem contar que não acreditava que a carreira poderia lhe render um bom futuro, queria que o filho fosse engenheiro. O futuro narrador foi à emissora e consegui um emprego como locutor noticiarista. Belmiro Borini, então diretor da Rádio Clube de Osvaldo Cruz, dizia que o jovem chegou para a vaga e fez de tudo para impressioná-lo, narrou jogadas, notícias e falou muito até que o executivo o contratou. Mattiussi (2004, p.38), biógrafo de Osmar, conta que embora houvesse uma grande diferença de idade entre o diretor e o jovem locutor a interação entre a dupla era tanta que só podiam fazer o jornal de lado, um para o outro, pois senão era risada na certa, pois um fazia caretas para o outro, um cochichava e todos riam, e o jornal seguia. Umdos grandes amigos e incentivador do jovem locutor foi o radialista Pedro Poveckio, que apresentava o jornal da noite comOsmar, o Rotativas no Ar. Foi ele quem influenciou Borini a permitir que o jovem fizesse entradas ao vivo na programação com o andamento do jogo entre Osvaldo Cruz e Batatais. Porém, o garoto, atrevido que era, não fez apenas flashes, acabou narrando o jogo inteiro, enquanto Poveckio acalmava Borini, que queria tirá-lo do ar. Depois de alguns minutos de bola rolando e do bom desempenho do rapaz de apenas 14 anos o diretor concordou emmantê-lo no ar. Poveckio conta que quando acabou a transmissão Borini sentenciou: “Nós descobrimos um grande narrador, Osmar vai fazer história no rádio, pode escrever...” (MATTIUSSI, 2004, p.45). Na próxima semana você terá a segunda parte dessa história. Lembrando que você pode ler e ouvir esse e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas podemser ouvidas em formato de podcast no link: https://anchor.fm/radiofrequencia. Pág.1
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