Edição 1.392 página 14 PRECIO SIDADES do Por Assis Ângelo Acervo ASSIS ÂNGELO Contatos pelos [email protected], http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333 JoséOctáviodeArrudaMello, o quarto dentre sete filhos do casal Arnaldo e Otília, nasceu em 18 de março de 1940 e tornou-se um dos mais dinâmicos e expressivos historiadores do Brasil. É paraibano, de João Pessoa. Publicou cerca de 50 títulos, incluindo textos avulsos. É também jornalista, doutor e pós-doutor pela Universidade de São Paulo. Num dos seus livros, li: Historiador de ofício, com doutorado emHistória pela USP e pós-doutorado pelo IEB/USP, integrante dos IHGB, IHGP, APL, API, Centro Internacional Celso Furtado e Conselho Consultivo da Revista do IHGB. Anistiado político do Movimento de 64, pelo Ministério da Justiça, professor aposentado dos UNIPÊ, UFPB, UEPB. Autor de, entre outros, Nova História da Paraíba – Das origens aos tempos atuais (2019) e autor e organizador de O Movimento de 1964 na Paraíba – Origens, Assalto ao Poder e Repressão (2021). Eu comecei minha carreira de jornalista no jornal O Norte (PB), cuja sede era na Duque de Caxias e depois migrou para a Av. Pedro II, emJoão Pessoa. Acho que foi por ali que conheci José Octávio, mesma época em que conheci José Leal (1891-1976). Zé Leal foi uma figura incrível. Era quieto, tranquilo. Passos lentos, mas seguros. Fumava muito. De poucas palavras. Nesta entrevista, que começa hoje e termina semana que vem, o amigo leitor e a amiga leitora terão uma pequena amostra da grandeza intelectual desse paraibano cuja amizade me honra. Aqui ele fala sobre ditadura e democracia. Ressalta o governo de FHC e lembra que Dutra não foi bolinho, não. Para ele, “ditadura nunca mais!”. Lá pras tantas José Octávio diz que nestes tempos de pós-tudo, de modernagem e coisa e tal, “nada substitui a leitura, com base na documentação e a respectiva interpretação”. Curiosidade: José Octávio de Arruda Mello deve ser o único historiador brasileiro que ainda escreve à mão. A primeira parte da entrevista: Assis Ângelo − O ano de 2023 está começando. Você, como historiador, acompanhou e analisou muitas situações políticas no Brasil. O que espera do ano que se inicia sob a batuta do pernambucano Luís Inácio Lula da Silva? O Brasil tem futuro? José Octávio de Arruda Mello − Considero a situação do Brasil delicada. Porque a direita que se movimenta não é a modernizadora, comprometida com a democracia, mas a de Jair Bolsonaro, golpista e voltada para os quartéis. Como ela se dispõe a criar problemas para a presidência de Luís Inácio, caberá a este, assegurando a governabilidade, pacificar o País mediante o primado da democracia, do pluralismo e dos direitos humanos. José Octávio de Arruda Mello: o historiador do Brasil (1) Dentro desse quadro, o futuro do Brasil dependerá da hegemonia do seu povo, que, como sustentava o saudoso San Thiago Dantas (1911-1964), é sempre maior que suas elites dirigentes. Assis − Qual foi o momento em que o Brasil teve a maior desgovernança, politicamente falando? José Octávio − Politicamente, há governos brasileiros que não me agradam. Um deles, a presidência Eurico Dutra (1946/51) que acentuou a repressão e liquidou os créditos acumulados durante a guerra. Outro, o general Médici (1969/74), o mais duro dos militares de 1964, responsável por crescimento econômicomontado sobre a supressão dos direitos individuais. Em compensação, tivemos administrações federais como as de Getulio Vargas (1930/45 e 1951/54), Juscelino Kubitschek (1956/61) e Fernando Henrique Cardoso (1994/2002), sem dúvida os melhores de todos. Assis − Dentre os presidentes nordestinos, qual deles foi o pior e qual o melhor? José Octávio — A República principiou com dois presidentes nordestinos, os marechais alagoanos Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, sendo este, apesar da virulência, bemmelhor que o primeiro, graças às inspirações do ministro paraense Serzedelo Correia (18581932). O paraibano Epitácio Pessoa (1919/22) teve altos e baixos e o ministro José Linhares (1856-1957) − que como presidente do STF e cearense exerceu o mandato entre a derrubada de Getulio e a ascensão de Dutra − nomeou tanto que se motejou: “E os Linhares? – são milhares...”. Café Filho (1954/55) era do Rio Grande do Norte e se deixou envolver pelo golpismo de ESG e UDN, enquanto o cearense Castelo Branco (1964/67) desmontou a democracia populista de 1946. Já o maranhense José Sarney, retomando a democracia, viu-se melhor no plano político do que no econômico-social, ao tempo em que o pernambucano Lula da Silva registrou mais sucesso no primeiro que no segundo mandato. Assis − Você foi professor de história e de outras matérias. Quais? José Octávio − Ensinei quase todas as disciplinas da área social, além de História Geral e do Brasil: Geografia, Teoria Política, Sociologia, Literatura Portuguesa e Organização Social e Política do Brasil. Na área jurídica lecionei Teoria Geral do Estado, Economia Política, DireitoConstitucional e Direito Romano. (Continua na próxima edição) José Octávio de Arruda Mello
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