Jornalistas&Cia 1392

Edição 1.392 página 15 100 ANOS DE RÁDIO NO BRASIL Por Álvaro Bufarah (*) Como disse o professor Luiz Arthur Ferraretto, “temos vários centenários para comemorar no rádio do Brasil”. Entre eles, em 2023, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, completará 100 anos de fundação. A primeira emissora oficial do País foi inaugurada em abril de 1923 por Edgar Roquette-Pinto, junto com outros intelectuais da Academia Brasileira de Ciências. Depois de 13 anos de funcionamento foi doada ao entãoMinistério da Educação e Saúde, passando a ser chamada de Rádio MEC, e está no ar até hoje, no Rio de Janeiro. Por isso, nosso texto irá tratar sobre o perfil de Edgar Roquette-Pinto, um personagem pouco conhecido além da efeméride destacada acima, com a colaboração do dr. Pedro Vaz, pesquisador na área de rádio que tem feito uma série de estudos sobre esse intelectual, um dos pioneiros da radiodifusão no País. Roquette-Pinto nasceu em25de setembrode 1884 e faleceu em18 de outubro de 1954, aos 70 anos. Filho de classe média carioca, formou-se em Medicina com apenas 21 anos. Vaz lembra que Roquette sempre teve um interesse muito grande pelo homem, pelo cidadão e pelo humanismo, tanto que foi pesquisar as condições de vida da população brasileira, em especial os índios. Seu interesse foi tanto que atuou com o Marechal Rondon, em 1912, em expedições para conhecer as comunidades indígenas na região norte do País. “Lá ele vai ter uma experiência de vida e ficará encantado com tudo aquilo que vê e, ao mesmo tempo, desencantado com a questão da pobreza e das doenças dos índios”, afirma Pedro. “Nesse caso, esse homem vai voltar para a capital carioca, vai estudar mais um pouco, desenvolver-se nos estudos de antropologia e lançar um livro em 1917 chamado Rondônia. Oprimeiro estudo de antropologia do Brasil, que tem fotos e registros da época”. Uma outra faceta de Edgar Roquette-Pinto, o patrono do rádio no Brasil Edgar Roquette-Pinto Pedr A obra de Roquette-Pinto vai impactar os intelectuais brasileiros, entre eles o maestro Heitor Villa Lobos, que foi influenciado pelo estudo para a composição de algumas de suas obras. Em 1908, ele se casa com uma jovem da alta sociedade do Rio de Janeiro, Riza Baptista, comquem temdois filhos: Paulo eMaria Beatriz. “Dona Riza, que vai ter o sobrenome dele, Roquette-Pinto, vai ser uma mulher importante na vida dele”, declara Pedro. Edgar Roquette-Pinto tinha vários títulos: médico, etnólogo, antropólogo, compositor escritor e cientista. Mas sempre gostou de ser chamado de professor. Entre as suas várias atividades, essa era uma que lhe dava muito prazer. Ministrava aulas para jovens e em uma delas conheceu a “normalista” Noêmia Álvares, a única mulher em uma de suas turmas. Uma jovem também adiante de seu tempo, cujo sonho era ser professora. “Noêmia interessou-se muito por tudo o que aquele homem representava e acabou se apaixonando por ele e ele por ela. Em 1922, Edgar desquita-se da mulher para viver com essa aluna, 11 anos mais nova que ele”, lembra Vaz. O pesquisador faz uma ressalva importante: embora houvesse uma pressão social muito grande pela situação de separação e novo relacionamento de Edgar e Noêmia, a sociedade local não os importunou muito, pois ambos eram de famílias abastadas, além do fato de Roquette-Pinto viver com a nova esposa de forma discreta. A jovem esposa de Edgar tinha uma personalidade forte, engajada nas causas feministas e ainda membro do Partido Comunista, que na época estava na ilegalidade. Essa mulher, bastante avançada para sua época, irá ser uma incentivadora do envolvimento de Roquette-Pinto com o rádio no Brasil, principalmente tendo como objetivo levar educação às pessoas de baixa renda que não sabiam ler e estavam espalhadas pelo Brasil. Assim, ele participou da primeira transmissão Maria Beatriz Roquette-Pinto no estúdio da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro

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