Edição 1.393 página 13 PRECIO SIDADES do Por Assis Ângelo Acervo ASSIS ÂNGELO Contatos pelos [email protected], http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333 Aqui a segunda e última parte da entrevista que fiz com José Octávio de Arruda Mello. A primeira parte pode ser conferida aqui. Quarto dentre sete filhos do casal Arnaldo e Otília, Mello nasceu em 18 de março de 1940 e tornou-se um dos mais dinâmicos e expressivos historiadores do Brasil. É paraibano, de João Pessoa. Publicou cerca de 50 títulos, incluindo textos avulsos. É também jornalista, doutor e pós-doutor pela Universidade de São Paulo. Assis Ângelo − Qual a importância do estudo na formação de um país? JoséOctávio de ArrudaMello – A educação tornou-se fundamental no deslanche de nações como Estados Unidos, Inglaterra, Costa Rica, Austrália, Japão, Alemanha e Coreia do Sul. O Brasil demorou a compreender a questão. Assis − A partir de quando você passou a se interessar pelo estudo da História? Quais os personagens nordestinos que mais lhe despertaram interesse? José Octávio − Creio que aos seis anos, quando um agrônomo colega do meu pai na Estação de Alagoinha me passava estampas das principais cidades do mundo. Depois disso, tive professor de História que me ensinou oito anos, desde o Admissão. Eles me induziram a apreciar, no Nordeste, mais fenômenos sociais − como Urbanização, Cangaço e Partidos Políticos − que os personagens. Assis −Quais os grandes historiadores brasileiros e, dentre eles, qual aquele com o qual você mais se identifica pelo rigor dos estudos? José Octávio − Desde pequeno apreciei os cearenses Capistrano de Abreu (1853-1927) e Barão de Studart (Guilherme Chambly Studart − 1856-1938). Eles lideram sequência continuada por João Ribeiro (1860-1934), Rodolfo Garcia (1873-1949) e principalmente José Honório Rodrigues (1913-1987), em homenagem a quem organizamos grupo de estudos integrados pela esposa, Leda Boechat. Para honra minha, Rodrigues proclamava que eu e o mineiro Francisco Iglésias (1923-1999) pertencíamos a essa constelação. Assis − Dentre todos os seus livros, de qual ou quais você gosta mais? José Octávio − Meu melhor livro é A Revolução Estatizada – Um Estudo Sobre a Formação do Centralismo em 30 (3ª ed., 2014), em José Octávio de Arruda Mello José Octávio de Arruda Mello: o historiador do Brasil cujas 620 páginas busquei novo entendimento da Revolução de 30. O que, porém, mais aprecio é Da Resistência ao Poder – O (P)MDB na Paraíba (1965/1999), de 2010. Assis − Quem são os novos talentos da matéria História? José Octávio − Três mulheres: Mary del Priore, Maria Beatriz Nizza e Miridán Knox Falci. Afinadas com a Nova História, desenvolvem a chamada História do Cotidiano, de raiz antropológica. Assis − Que contribuição tem o jornalismo na história de um país, democrático ou não? José Octávio − Como o conhecimento principia pela informação, o jornalismo revela importante papel na sociedade. Sua função na construção da democracia é indiscutível. Em consonância com isso, alguns dos principais historiadores brasileiros da atualidade são periodistas, como Elio Gaspari, que estudou o ciclo militar 1964/78. Assis − Aparentemente, hoje é mais fácil destrinchar os enigmas e mistérios da história. A internet tem participação nisso? Qual a importância da internet na nossa vida cotidiana? José Octávio − Modernas tecnologias como a internet são fundamentais para o armazenamento da História. Mas é preciso não exagerar. Nada substitui a leitura, com base na documentação e na respectiva interpretação. Assis − Você é um dos poucos brasileiros que não têm e-mail e não usa a internet para nada. Por quê? É melhor escrever à mão do que num teclado de computador? José Octávio − Não utilizo as modernas tecnologias − e disso não me orgulho – porque sou um pouco desajeitado, já que, quando pequeno, sequer aprendi a andar de bicicleta. Fora daí, considero que a escrita manual me assegura melhor ordenação do pensamento. Assis −O jornalista MinoCarta, fundador da revista Veja, não escreve à mão. Ele prefere, como poucos, escrever numa máquina de datilografia. Você só escreve à mão e deixa de lado até mesmo a Olivetti? José Octávio − De uns vinte anos para cá, quando passei a escrever à mão, transferia rigorosamente meus textos para a máquina de datilografia. Quando esta quebrou, dei para recorrer a uma senhora que mimeografa meus trabalhos mediante pagamento. Assis − Fale um pouco a respeito da sua genealogia... JoséOctávio − Como disse Afonso Arinos (1905-1990), genealogia no Brasil termina sempre na senzala ou na sacristia. Eis porque nunca lhe dei bolas. Mas não esqueço meu pai, que me recomendou a leitura de Alberto Torres, e a mãe, que, viúva, formou todos sete filhos. Assis − Como cidadão e historiador, qual o sonho que ainda alimenta para si e para o Brasil? José Octávio − Ver a democracia consolidada no Brasil – “ditadura nunca mais” –, ajudar na formação do filho Victor Raul e contribuir para a redução das gritantes desigualdades sociais de nossos dias.
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