Jornalistas&Cia 1395

Edição 1.395 página 6 De Londres, Luciana Gurgel Para receber as notícias de MediaTalks em sua caixa postal ou se deixou de receber nossos comunicados, envie-nos um e-mail para incluir ou reativar seu endereço. Assim como jornalistas jovens não fazem ideia do que era uma redação analógica − e alguns mais jovens ainda nem sabem o que é uma redação −, pode estar ficando longe o tempo em que sigilo da fonte era tão parte da profissão quanto o tec-tec-tec das máquinas de escrever ou pedir um lide emprestado ao colega ao lado. Na sexta-feira (27/1), chegou ao fim um processo judicial na Finlândia que, para a Repórteres Sem Fronteiras, é umprecedente perigoso para a liberdade de imprensa no mundo. Tuomo Pietiläinen, um dos dois autores de uma reportagem no Helsingin Sanomat sobre um centro de inteligência militar publicada em 2017, foi condenado a uma multa de 4,2 mil euros. A segunda autora, Laura Halminen, também foi considerada culpada, mas o tribunal não a sancionou considerando seu “papel claramente menor”. Kalle Silfverberg, o editor, foi absolvido da acusação de revelar segredos de Estado. O espanto é que isso ocorreu no país que ocupa o quinto lugar no ranking de liberdade de imprensa em 2022. É uma moda que se espalhou pelo mundo, e não apenas em ditaduras. Vêm se repetindo tentativas de violar o sigilo da fonte, pressionando jornalistas a revelarem quemdeu informações para uma reportagem ou fazendo operações de busca e apreensão em redações e até em residências. Na Itália, foram dois casos em 2022. Em julho, Paolo Mondani teve a casa e a redação do programa que comanda na RAI revistados por ordem de autoridades que investigam a máfia. O motivo foi uma reportagemsobre amorte do juiz Giovanni Falcone, que teve a colaboração de fontes da polícia. Semanas depois, Francesco Pesante, do site L’Immediato, foi convocado a depor sobre a origem de imagens do assassinato de um prisioneiro que tinha autorização para trabalhar e foi morto na rua. O jornalista teve o celular confiscado. Nos EUA, a Starbucks conseguiu em novembro autorização judicial para ter acesso às comunicações entre o sindicato de profissionais da rede em Buffalo (Nova York) e jornalistas. Omotivo alegado foi descobrir “desinformação” que os dirigentes teriam disseminado sobre suas práticas. Julian Assange mofa em uma prisão britânica enquanto aguarQuebra de sigilo das fontes, falta de confiança na imprensa e o futuro do jornalismo investigativo da a tramitação do processo de extradição movido pelos EUA para condená-lo pelo vazamento de documentos de guerra no site Wikileaks. Enquanto alguns profissionais de imprensa continuam a correr riscos, outros podem estar engavetando pautas, o chamado chilling effect. E não é apenas esta a ameaça ao jornalismo investigativo. Um estudo da pesquisadora Karin Assmann, da Universidade da Geórgia, publicado no fim de dezembro, examinou a percepção sobre a mídia por parte de 16 denunciantes americanos que passaraminformações à imprensa entre as décadas de 1970 e o ano de 2010. Um deles é o lendário Daniel Ellsberg, que na década de 1970 entregou a jornais documentos secretos sobreaguerrado Vietnã − um pré-Assange. Assman descobriu que os informantes revelavam segredos por acreditaremque os jornalistas compartilhavam com eles os mesmos ideais: manter os poderosos sob controle e defender o interesse público. Mas isso mudou. Agora, a metade vê a imprensa como antagônica e pouco propensa a cumprir o seu papel. Os adjetivos são pesados: “corrupta, tendenciosa, politizada, egoísta, emdívida comogoverno e negligente com as fontes”. Alguns dos participantes disseram que hoje evitariam a imprensa se tivessemque fazer uma denúncia, preferindo publicar diretamente. E mesmo quando decidem entrar em contato com jornalistas, confiammenos neles. A pesquisadora credita o comportamento ao ambiente de mídia nos EUA, emque empresas jornalísticas não conseguem manter repórteres dedicados, com a experiência e os recursos necessários para gerar confiança nas fontes − uma situação que não acontece somente lá. Pode não fazer mais sentido retomar o trabalho presencial como antes ou trazer de volta as máquinas de escrever. Mas o respeito ao sigilo das fontes e a confiança delas nos jornalistas vão deixar saudades no jornalismo caso acabem indo embora de vez. Entidade indesejável − Em mais umgolpe na liberdade de imprensa na Rússia, a promotoria-geral do país declarou a organização ProjetoMeduza, responsável pelo site de notícias de mesmo nome que faz oposição aberta a Vladimir Putin, como uma “entidade indesejável” e que “ameaça as fundações” da ordem constitucional e segurança da nação. A medida foi adotada com base em uma lei sancionada pelo presidente Putin em julho de 2022, impondo punição criminal a indivíduos que trabalham no exterior comorganizações queogoverno rotule como “indesejáveis” dentro da Rússia. As organizações que recebem essa classificação são proibidas de operar no país. E qualquer pessoa que participe delas ou esteja envolvida profissionalmente com suas atividades enfrenta o risco de multa e de prisão por até seis anos. ALmortal −Onúmero demortes de jornalistas no mundo aumentou acentuadamente em 2022, de acordo com um relatório publicado em 24/1 pelo Comitê para a Proteção a Jornalistas, Esta semana em MediaTalks

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