Jornalistas&Cia 1397

Edição 1.397 página 17 PRECIO SIDADES do Por Assis Ângelo Acervo ASSIS ÂNGELO A denominada “gripe espanhola” chegou ao Brasil pelos portos de Recife, Rio e São Paulo no começo da segunda metade de 1918. Rapidamente a praga pegou. Matou muita gente por cá e alhures. Ao fim e ao cabo, pelo menos 500 milhões de pessoas foram a óbito. Isso significou algo como ¼ da população mundial. Muita gente importante pegou essa gripe. O poeta Olavo Bilac morreu disso, em dezembro daquele ano. O carnaval de 1919 foi uma barbaridade em todos os sentidos. Houve suicídios, estupros, balas... Este ano de 2023 é, a rigor, o primeiro carnaval pós-pandemia Covid-19. Evoé! O carnaval é a festa popular de maior ressonância no Brasil. Foi trazida por portugueses cerca de um século depois de terem nos encontrado na pele dos indígenas. Éramos mais ou menos cinco milhões de almas de etnias diversas. Sobraram poucas. Pilantras de todos os tipos e patentes não se cansam de chafurdar nas terras dos nossos originários, pondo-os numa situação de risco grave, gravíssima, mas essa é outra história. Carnaval: carne levare, carnivale, carnaval... Não dá pra cravar com exatidão o mês e o ano em que nasceu o carnaval. Há quem diga que tem origens na Antiguidade. Pagã. Há também quem diga o contrário, ou seja: na Era iniciada com o nascimento de Jesus. Idade Média ou sei lá! O fato é que o carnaval, tal como o conhecemos, surgiu mesmo foi no Brasil. Empaís algumo carnaval é tão colorido e sensual como o carnaval do Brasil. É um carnaval bonito, extraordinariamente bonito, com sotaques e gingas pontuais de norte a sul. O carnaval no Nordeste tem um quê a mais que outros carnavais do País. No Sudeste, notadamente no Rio e em São Paulo, as escolas de samba são a grande atração. Recife, chamada de Veneza brasileira, apresenta um carnaval peculiar e por isso mesmo inesquecível, com seus grupos de maracatu e cirandas. Sem falar no famoso Galo da Madrugada, com aqueles bonecões representando personagens do beme domal que pululam na vida nacional. E tem o frevo. O frevo pernambucano é alegre, bonito, incomparável. Carnavais das pandemias de ontem e de hoje O pai do frevo sempre foi pra mim o inimitável Capiba, de batismo Lourenço da Fonseca Barbosa. A propósito, cheguei a perguntar a Capiba se ele mesmo se considerava o pai desse inebriante ritmo. Rindo, disse que não, que não era pai de nada. Mas, quisesse ou não, compôs frevos incríveis. Chapéu de Sol Aberto, por exemplo. Esse frevo chegou a dar título a um LP, cuja capa foi ilustrada (vejam só!) por ele próprio. Há uns 30 anos entrevistei Capiba no programa Gente e Coisas do Nordeste, que eu apresentava na Rádio Atual. Duas horas de papo. Sempre procurei ouvir artistas que enriquecem ou enriqueceram a nossa música popular. Em fevereiro de 1990 publiquei entrevistas no Jornal de Brasília. Foram três. A primeira foi com João de Barro, o Braguinha, autor de clássicos do carnaval. É dele Touradas em Madri. É dele também, junto comPixinguinha, a pérola Carinhoso. A segunda foi comZé Keti, autor da última grande marcha-rancho, Máscara Negra, com Pereira Matos. A terceira foi comNássara. É dele e Haroldo Lobo a marchinha Alá-lá-ô, tornada clássica desde o seu lançamento, em 1941. Uma vez, fazendo pesquisa na biblioteca pública do Porto, deparei- -me com uma notícia publicada num velho jornal português dando conta de que as primeiras manifestações carnavalescas no Brasil ocorreram bem no início do século 17. Notícia pequena, curtinha. Uma notinha aqui, outra ali em jornais encontrados na Biblioteca Nacional dão conta de que o carnaval por aqui surgiu timidamente. Primeiramente em ambientes fechados. Bailes e tal. O primeiro desses bailes acorreu em 1840, no Rio. E foram se multiplicando e chegaram às ruas. O Zé Pereira saiu numa espécie de bloco do Eu Sozinho, batendo bombo. Em 1899, à compositora e maestrina Chiquinha Gonzaga coube a façanha de assinar a primeiramarchinha de carnaval, Ó Abre Alas, que teria trechos gravados emdisco da Casa Edison. A gravação completa, porém, só seria feita em 1972, pelas irmãs Linda e Dircinha Batista. A primeira escola de samba de que se tem notícia é Deixa Falar, de 1928. A mais antiga ainda em atividade é a Portela, que sai este ano contando a sua história de 100 anos, com o enredo O Azul Vem do Infinito. Na década de 1970 era comum ouvir-se a expressão “som universal”. Sempre bem-humorado, Capiba mandou ver: “Som universal é peido!”. O carnaval tem sido ao longo do tempo objeto dos mais variados estudos. A respeito, muitos livros já foram publicados. Mas faltava um que tratasse de publicações periódicas, como jornais e revistas. E aí, em2000, o jornalista e historiador José Ramos Tinhorão (1928-2021) Capiba e Assis As entrevistas de Assis para o Jornal de Brasília

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