Jornalistas&Cia 1397

Edição 1.397 página 27 Nosso estoque do Memórias da Redação continua baixo. Se você temalguma história de redação interessantepara contar mande para [email protected]. n A história desta semana é novamente uma colaboração de EduardoBrito (edubrito@senado. leg.br), ex-Estadão, Jornal do Brasil, Correio Braziliense e Jornal de Brasília. u Brito conta: “Lembrei-me de um episódio curioso, ocorrido no Estadão, anos 1970. Até conferi com o Bebeto. É a historinha da única repórter mulher do Estadão nessa época. Recordo do nome, mas esqueci completamente o sobrenome e não consegui recuperar. De toda forma, preferi mudar o nome para Clemência, pois, se estiver viva (pela idade, acho que não, não sei que tipo de reação teria. Não havia mulheres na Redação de O Estado de S. Paulo até o início dos anos 1970. Havia, claro, o Suplemento Feminino, dirigido pela única Mesquita jornalista, a veneranda Maria Cecília. Ficava monasticamente separado do restante. Fora daí, só havia três exceções. Duas eram competentes tradutoras, já não tão jovens, que cuidavam dos artigos vindos de periódicos do Primeiro Mundo. A terceira era Clemência. Pequenina, magérrima, com nariz adunco, Clemência ia diariamente à Redação da rua Major Quedinho, sentava-se em um cantinho e esperava pela pauta que nem sempre chegava. Eram os tempos de Clóvis Rossi, ainda bem jovem, mas com razão já apontado como um dos mais competentes jornalistas de seu tempo. Competente e exigente. Provavelmente por isso, a pobre Clemência nem sempre era acionada. Na verdade, isso só costumava acontecer quando havia emergências, e assim mesmo quando o risco de desastres fosse nulo. Luiz Roberto de Souza Queiroz, o Bebeto, lembra-se bem de que, quando essas pautas chegavam e Clemência achava que eram difíceis demais para ela, debulhava-se em lágrimas ali mesmo na Redação. Atribuía-se a presença de Clemência à gratidão da família Mesquita pela ajuda recebida do pai dela durante alguma dificuldade específica na época em que o jornal sofrera intervenção e muitos de seus integrantes se encontravam no exílio. Nunca se confirmou essa história. Mas Clemência lá estava. E era imexível. Embora tímida e modesta, era também cordial e gostava de se aproximar dos colegas, nem sempre muito pacientes e generosos com ela. Vida que corre. Até que, um dia, foi necessário enviar alguém para fazer matéria – obviamente recomendada pela direção, pois era algo quase inédito no Estadão – sobre um novo restaurante aberto na região central da cidade. Ninguém mais disponível, lá foi Clemência. A matéria foi publicada, elogiada e eis que se decidiu entrar nessa área, conferindo uma cobertura permanente a iniciativas gastronômicas de São Paulo. O irmão Jornal da Tarde já contava com uma seção de gastronomia e entretenimento, o que pesou na decisão. E Clemência virou repórter dessa área. Não, nada que se pudesse tomar como jabá. Era contra a religião da época, com aquela história de estado e igreja. Por isso mesmo apelava-se para o colorido, para o folclórico, para o inédito. Os restaurantes avaliados pelo Estadão não eram o Rubayat, o Bambi, o Terraço Itália, o Leão d’Olido, o Casserole, que já reinavam nesse tempo. Clotilde garimpava lugares como o Sujinho, que ficava em uma esquina da Barra Funda e servia comidinhas difíceis de encontrar, como carne de jacaré, rãs à milanesa – nessa época uma raridade em São Paulo – e a mais procurada de todas, testículos de galo, fritinhos com muito alho. Um pouco aflitivo, mas todos gostavam. Eduardo Brito Clemência boca livre Covering Climate − O Covering Climate Now Journalism Awards está recebendo trabalhos jornalísticos sobre a questão climática que tenham sido publicados, transmitidos ou divulgados em 2022. O prazo para se inscrever no prêmio se encerra em 15 de março. Cobrir pesquisas − Artigo publicado no The Journalist’s Resource apresenta dicas sobre como os jornalistas podemabordar conclusões de pesquisas científicas. A primeira é evitar afirmar que determinada pesquisa ou grupo de pesquisa “provou” algo, já que, na maioria dos casos, os estudos encontram evidências associadas ao objeto analisado. Leia mais. Rastrear voos − A Global Investigative JournalismNetwork (GIJN) atualizou seu guia sobre como rastrear aeronaves em diferentes partes do mundo. Além de ajudar jornalistas a acompanhar guerras, esse tipo de informação é útil para quem deseja descobrir casos de corrupção e até monitorar funcionários públicos. Ferramenta de investigação − A Transparência Brasil acaba de lançar uma nova ferramenta capaz de identificar sinais de irregularidade em contratações voltadas para o combate à Covid-19, o Tá de Pé Compras Emergenciais. Ela integra o projeto Tá de Pé, que monitora a implementação de políticas públicas no País. conitnuação - Curtas

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