Edição 1.397 página 28 Sim, todos, porque Clemência passou a levar seus colegas para participar de suas pautas. Claro, havia restaurantes bem mais sofisticados que o Sujinho, mas todos eles com toques populares e folclóricos. Não demorou e todos os mais descolados passaram a participar das expedições clemencianas. Enfim Clemência estava enturmada. E animada. Ganhou até um apelido, Clemência Boca Livre, já que em algumas vezes a refeição era gentilmente oferecida aos participantes. Não era uma piada maldosa, até porque em geral a turma pagava. Ela adorava esse tipo de brincadeira. Passou até a convidar os novos companheiros de farra a passar pela sua casa antes ou depois das saídas. Morava sozinha com a mãe em um antigo e amplo apartamento, de pé-direito altíssimo, no segundo andar de um elegante edifício no bairro do Paraíso, próximo à avenida Paulista e diante da então prestigiosa Sears. Os salões do apartamento tinham enormes sofás cobertos de veludo, mesas pesadas e, nas janelas, grossas cortinas que anos antes certamente seriam menos empoeiradas. Para usar o chavão, tudo parecia parado no tempo. Não há dúvidas de que, nesse período, a turma se divertia. Até as matérias eram participativas, com os comensais dando palpites sobre os pratos e pitacos sobre os textos. Dado o perfil do Estadão na época, não tinham muito espaço, espremidas em um canto da Editoria de Cidades. Seja como for, era algo de inédito no jornal. Como nada do que é bom dura para sempre, surgiu um problema. E esse problema tinha nome e endereço. Aparecido do nada, um novo repórter integrou-se à equipe. Era baixinho, parrudo, dava-se ares aristocráticos e, exceção na época, andava invariavelmente de paletó e gravata. Nunca ninguém soubera de um namorado da Clemência. De repente, percebeu-se que surgira um clima. Começou quando o rapaz, cujo nome se perdeu no tempo, integrou-se à equipe boca-livre. No restaurante, ele e Clemência sentavam-se lado a lado. Nada de mãozinhas dadas, mas a aproximação era nítida. Como o rapaz não falava com os demais, a turma começou a se desfazer. Mas as matérias alimentares continuavam, mesmo que feitas apenas a quatro mãos. Foi aí que aconteceu a catástrofe. Em uma noite combinou-se nova saída. Dois ou três repórteres foram ao restaurante combinado, mas Clemência não apareceu. Nem o rapaz silencioso. Passaram pela casa dela. Tudo quieto, embora com as luzes acesas. Ninguém atendia o telefone, nem a campainha. A turma foi embora. Mas voltou rápido. O zelador do venerando prédio da família de Clemência percebeu que alguma coisa estranha acontecia. Tinha o telefone da Redação. Naqueles tempos esquisitos, sem home office e de jornais povoados 24 horas por dia, havia plantonistas. Um deles ligou para os parceiros de Clotilde, que voltaram correndo para o apartamento. A essa altura, o zelador forçara a porta e encontrara um quadro terrível. A pobre Clemência e sua mãe, já bem idosa, estavam amarradas com roupas e amordaçadas, sobre os enormes sofás da sala. A luz estava visível de fora – e foi o que mais assustou o zelador – porque as pesadíssimas e empoeiradas cortinas haviam sido arrancadas. As duas estavam envolvidas nas próprias cortinas e mal conseguiam respirar. Claro, o baixinho engravatado estava em surto. Quando o zelador entrou, seguido minutos depois pelos assustadíssimos colegas de Clemência, o agressor havia sumido. Foi encontrado na área de serviço, aparentemente procurando material combustível e fósforos. Estava impecável, sem um fio de cabelo fora do lugar, em seu terno inseparável – e único, diga-se de passagem. Não falava uma só palavra coerente. A polícia chegou rápido. Nunca mais se soube do namorado maluco. Não foi o único internado, claro. Clemência precisou de socorro imediato, em estado de choque. A mãe estava melhor e conseguiu contar o que acontecera. Na verdade, pouco a contar. Estavam os três sentadinhos na sala quando o rapaz se levantou de repente, disse que iria amarrá-las, agarrou Clemência e a mãe, apavorada, não conseguiu opor resistência. Em uma questão de minutos o estrago estava feito. O camarada jamais explicou porque fizera aquilo. Claro, nunca mais retornou à Redação, onde não chegara a trabalhar um mês. Mas não foi só ele que sumiu. Clemência também não voltou mais ao jornal. 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