Edição 1.397 página 6 De Londres, Luciana Gurgel Para receber as notícias de MediaTalks em sua caixa postal ou se deixou de receber nossos comunicados, envie-nos um e-mail para incluir ou reativar seu endereço. Mais associado a temas leves e ao mundo feliz das celebridades promovendo viagens e produtos de luxo, o Instagram não costuma ser visto como uma plataforma de mídia social apropriada para assuntos hard news. No entanto, um estudo feito pela USC (University of Southern California) demonstrou que a rede social teve um papel vital em uma das maiores mobilizações sociais recentes, o movimento Black Lives Matter, graças ao poder das imagens que são a sua base. Alémde consagrar o Instagram como rede que pode ser mais do que a favorita demarcas e influenciadores profissionais, o estudo coloca tambémempauta o papel do jornalismo tradicional e do Twitter, visto como a plataforma númeroumpara questões sociais. Opoder mobilizador de vídeos e fotos no Instagramno casoGeorge Floyd dá vida nova à antiga frase “uma imagem vale mais do que mil palavras”. O estudo da USC, publicado no periódico científico PLOS One em dezembro passado, analisou mais de 1,1 milhão de postagens e 1,6 milhão de fotos no Instagram publicadas em um período de 30 dias após o assassinato de Floyd com a hashtag #JusticeForGeorgeFloyd. Os pesquisadores concluíram que fotos e vídeos foramos principais responsáveis por amplificar as conversas online sobre direitos civis, impulsionando atos como as marchas domovimento Black Lives Matter e o debate público sobre racismo. Jornalistas independentes, ativistas, artistas e grupos de memes estavam entre os muitos formadores de opinião que emergiram durante os protestos graças a conteúdos visuais que se tornaram virais, diz o estudo. Segundo os pesquisadores, isso contrasta com plataformas baseadas em texto como o Twitter, nas quais vozes com poder institucional (como políticos, mídia tradicional ou departamentos de polícia) controlam o fluxo de informações. Houve tambémumamudança de enfoque. Para os autores, a nova onda de líderes de opinião que floresceu no Instagramapós o assassinato de Floyd ajudou a reformular as narrativas ao postar imagens que retratavam os protestos como memoriais em vez de tumultos, como são tradicionalmente enquadrados pela mídia tradicional. E representavam os manifestantes como pessoas que sofriam, e não como arruaceiros. Para quem tem saudades dos velhos tempos do Twitter, o estudo acentua o poder das imagens para engajar a sociedade em causas, o que a rede hoje controlada por Elon Musk fez em seus primeiros anos de vida, quando era menos dominada por fontes institucionais. E tomando como exemplo a morte de George Floyd, o estudo da USC levanta ressalvas sobre o impacto da cobertura de protestos pela mídia tradicional, visto que criadores de conteúdo, jornalistas independentes e usuários comuns foram os reais responsáveis por levar as pessoas às ruas. Instagram, BLM e o poder das imagens para a mobilização por justiça social É interessante recordar as imagens que desencadearam o BLM, provocando uma tomada de consciência sobre racismo estrutural, colonialismo e escravidão em todo o mundo, não foram feitas por um cinegrafista profissional. O assassinato poderia ter sido mais um entre tantos episódios de violência policial contra negros nos EUA se Darnella Frazier, de 17 anos, não tivesse usado seu celular para documentar o policial branco com o joelho sobre o pescoço de Floyd, postando o vídeo chocante no Facebook. Exemplo do jornalismo-cidadão, Frazier foi homenageada pelo mais importante prêmio de imprensa do mundo, o Pulitzer. Em2021, ela recebeu uma homenagemespecial na série anual de premiações da entidade, justificada como reconhecimento do papel dos cidadãos na busca do jornalismo por justiça e verdade. Embora as grandes empresas demídia social recriminadas pela proliferação de discurso de ódio e fake news emsuas plataformas, estudos como esses confirmam o valor da tecnologia que deu voz a pessoas comuns e onde há censura sobre meios de comunicação tradicionais. Ou em situações em que o jornalismo tradicional não percebe tão rapidamente para onde os ventos da mudança estão soprando. Cena da morte de George Floyd Darnella Frazier e seu prêmio
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