Edição 1.400 página 12 100 ANOS DE RÁDIO NO BRASIL Por Álvaro Bufarah (*) No desenrolar das atividades comemorativas dos 100 anos do rádio no Brasil, oMIS (Museu da Imageme do Som) de São Paulo abriu duas exposições sobre o meio. A primeira é O Rádio no Brasil e a outra é Padre Landell: o Homem que Inventou o Futuro. Helena Tassara, socióloga, documentarista, cineasta e escritora, é quem assina curadoria, pesquisa e texto para a exposição sobre o padre- -cientista que revolucionou as comunicações, mas não recebeu emvida o reconhecimento merecido. Ela conta que o primeiro contato com a história de Landell foi na reunião com Marcos Mendonça, presidente do MIS, que a chamou para pedir uma exposição sobre o rádio. Nesse contexto, Helena saiu à procura de informações sobre o padre e encontrou a obra do jornalista e pesquisador Hamilton Almeida, biógrafo de Landell, comuma investigação que já dura mais de 40 anos. Foi assim que Helena acabou levando Hamilton como consultor para a realização da exposição, aberta na capital paulista. “Hamilton sabe tudo sobre a história do padre, o que que me facilitou o caminho, que era o de encontrar os remanescentes da história de Landell, que são muito poucos”, afirma a curadora. “Então, matérias de jornal, o material todo que existe no Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Sul, que pertenceu ao padre, no qual o próprio Hamilton mergulhou para escrever os livros que escreveu”. Mas, ao estudar o material, Helena percebeu que havia um desafio: tratar de ciência comuma linguagem mais simples e que pudesse materializar-se em alguns Exposição revela a genialidade do inventor do rádio Helena Tassara elementos que tornassemmais acessíveis os conceitos desenvolvidos pelos cientistas, que resultaram na criação do rádio: “Estudando a história do padre, isso tudo não é suficiente para a gente fazer uma exposição, porque eu tenho que considerar o público que vai lá, jovens, muitos estudantes, e tem que ser, na verdade, um público muito variado. Comecei a me debruçar sobre a ciência das ondas, porque fiquei pensando o que é que pode ser tão diferente, que pode encantar as pessoas e que não vai estar só na história dele, que é uma história muito frágil, um homem que viveu 120 anos atrás” Foi assim que ela desenvolveu o conceito da exposição, em que os visitantes são convidados a mergulhar na história, na vida e na ciência do padre Landell: “Aí eu pensei: vamos fazer uma exposição que tire da invisibilidade duas coisas; primeiro, obviamente, a história do padre e, em segundo lugar, a ciência por trás disso, pela qual o padre Landell descobriu ser a capacidade de fazer transmitir a voz humana por ondas”. Entre os segmentos da exposição há uma área dedicada a experiências desenvolvidas pelo Instituto de Física da USP. Nela estão 15 experimentos que apresentamo eletromagnetismo, as ondas de rádio, entre outros fenômenos: “Entre eles estão o que eu chamei de Bosque da Sabedoria. Então, são 15 cientistas, os mais importantes, que desenvolveram os conceitos utilizados por Landell, desde o século XVIII até os contemporâneos do padre”. Alémde traçar a história do brasileiro que inventou a transmissão de voz à distância, sem fio, a exposição apresenta uma grande pesquisa que contextualiza uma linha do tempo, mostrando aos visitantes o que acontecia na sociedade e no mundo no momento dos saltos históricos na ciência. Quem for à exposição verá que Landell era um visionário, muito à frente de seu tempo, pois tendo como base suas pesquisas e inventos ele escreveu sobre possibilidades impensadas para aquelemomento, como a de comunicação interplanetária, os conceitos como o de telefonia celular e o uso de fibra ótica. Helena Tassara afirma que o padre tinha muito talento, mas não as ferramentas nem os recursos financeiros necessários para desenvolver seus estudos e materializá-los em inventos práticos. Mesmo com tantas dificuldades, é possível ver no material exposto no MIS a genialidade de Landell e a resiliência dele na busca por um caminho científico para explicar fenômenos do eletromagnetismo. Estão à mostra documentos, equipamentos e manuscritos, além de fotos e outros materiais que vieram do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. A curadora lembra-nos do árduo trabalho dos pesquisadores que atuam na produção de conteúdos básicos para exposições, filmes, documentários, livros etc: “Há uma grande equipe que atua nos bastidores para a realização de um evento com esse e tantos outros”. Réplica do rádio inventado por Landell, o mais antigo do mundo
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