Edição 1.400 página 17 Minas Gerais (*) Os jornalistas escritores mineiros, entrevistados para essa matéria, foram unânimes em af irmar que a formação em Jornalismo e os anos de experiência nas redações tornaram-se diferenciais importantes na construção da carreira como autor. Américo Antunes, diretor da Strategia Cultura e Comunicação e ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas, por exemplo, destacou que aprendeu na prática jornalística a pesquisa minuciosa, o rigor comas fontes, as técnicas de reportagem e a redação que guiam a produção literária dele. Rogério Faria Tavares, presidente da Academia Mineira de Letras, afirma que os jornalistas sempre tiveram a produção de textos como tarefa principal, de lidar coma língua, coma palavra, a frase e o parágrafo: “A situação favorece muito para que esse profissional se torne escritor, porque treina, pratica e repete. O cérebro aprende e desenvolve uma habilidade, estimulando o ingresso na literatura, semdúvida nenhuma”. A jornalista e escritora Jalmelice Luz costuma dizer que o exercício do jornalismo abriu caminhos para a escrita literária. Mesmo o texto jornalístico sendo conciso e com regras definidas, ela acredita que não exclui a criatividade. A longa aprendizagem, juntamente com os colegas mais experientes, permitiu que aprimorasse sua atuação: “A escrita literária é livre. Abusa da imaginação, da criatividade e do texto romanceado. O tempo é umparceiro e não umadversário a ser superado no relato mais verossímil possível de um fato cotidiano”. Já Bruno Marques conta que só se tornou um escritor porque primeiro “se construiu” jornalista. Ele teve oportunidade de escrever sobre economia e política para o Diário do Comércio, que considerou uma grande escola, Jornalistas-escritores mineiros (parte 2 de 4) Formação em Jornalismo contribui para surgimento de novos autores Américo Antunes Rogério Tavares Jalmelice Luz e depois se lançou como correspondente de grandes jornais nacionais em Belo Horizonte, como O Estado de S. Paulo e O Globo, tendo podido escrever para todas as editorias, principalmente, Cidades e Geral, em que a vida real acontece: “A experiência em redação permitiu tornar-me íntimo do ofício de escrever. Acredito que o jornalista temuma chancela da sociedade para ser uma testemunha dos fatos e narrar os acontecimentos. É preciso ter compromisso com o leitor. O bom jornalismo apresenta, principalmente, boas perguntas, que devem estar imersas e conectadas aos valores e ao contexto do público-alvo. As notícias propiciam a reflexão para a sociedade estar sempre questionando. Não existe democracia sem jornalismo e nem sem Literatura”. Bruno tambémé mestre em Literatura e Direitos Humanos. O livro Filho de pandemia é o primeiro de Diego Amorim, chefe de Redação de O Antagonista, que até então imaginava que fosse escrever um livro pelo fato de ser jornalista. Contudo, acreditava que seria sobre a Igreja Católica, por ter uma relação muito forte com ela, tendo chegado inclusive a cobrir o conclave do papa Francisco pelo Correio Brasiliense. Posteriormente, também pensou em escrever sobre bastidores da política por conta do trabalho como repórter em Brasília. “Contudo, escrever um livro para o meu filho, diariamente, foi um grande desafio e tambémuma forma de criar intimidade com ele, superando aquele momento difícil da pandemia”, avalia. “Acredito que o fato de ser jornalista contribui com a linguagem e a escrita, pois tudo isso é muito natural pra mim, sendo parte da minha personalidade, de quem eu sou. Adoro ler e escrever. A minha vida é isso o tempo todo e, com certeza, o fato de ser jornalista contribuiu com o livro”. O jornalista, na opinião da produtora de tevê Ana Paula Pedrosa, vive de contar boas histórias, ou seja, buscar bons personagens e, por isso, a experiência ajuda muito na elaboração de livros: “Eu transportei para a ficção, mas sempre com a preocupação de passar informações corretas. Por exemplo, no livro A terra de todas as idades, a protagonista é Heloísa, uma menina à espera do seu aniversário de sete anos. Eu conversei com pediatras e com mães para saber as características dessa idade. As informações ajudaram a construir a personagem de uma forma mais real e correta”. Bruno Marques Diego Amorim Ana Paula Pedrosa
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