Jornalistas&Cia 1401

Edição 1.401 página 14 PRECIO SIDADES do Por Assis Ângelo Acervo ASSIS ÂNGELO Leandro Gomes de Barros continua vivo (final) Que as musas mitológicas Vindas em dourados carros Cheguem da Fonte Poética Trazendo água nos jarros: Dêem-me a taça predileta Onde bebeu o poeta Leandro Gomes de Barros. Por admirar Leandro Fui em busca da história Do poeta de Pombal Com sua rica trajetória, Desde os tempos de criança Com matizes e nuança Do seu passado de glória. Pois além de pioneiro, Leandro foi um gigante À poesia popular Deu legado relevante Escreveu drama e tragédia Fez gracejo e fez comédia Com sua pena atuante… (Leandro Gomes de Barros − O Pioneiro da Literatura de Cordel, por Klévisson Viana) A cultura popular é o retrato mais fiel de um povo, de uma nação. A cultura popular brasileira engrandece o mundo, por sua beleza e originalidade. O Brasil é o quinto ou sexto maior país do nosso planeta, tanto em área territorial quanto em população: somos mais de 200 milhões de pessoas habitando uma terra de mais de 8,5 milhões de km². A cultura popular se manifesta na música e nas artes em geral. O paraibano Leandro Gomes de Barros foi o primeiro e até aqui o mais importante cordelista de que se tem notícia. O cordel, ou literatura de cordel, não é invenção brasileira. Mas foi no Brasil que esse tipo de literatura, desenvolvida principalmente em sextilhas e septilhas, ganhou forma. Sim, Leandro foi o grande pioneiro nessa forma de arte. Já na virada do século 19, ele estava ligado a tudo, a todos os acontecimentos no Brasil e em todo canto. Antes e depois de Leandro, nenhum cordelista falou em verso de folheto sobre as mazelas e consequências da Primeira Guerra Mundial. É Dele, Por Exemplo, O Folheto As Aflições da Guerra na Europa, que começa assim: Detonam tiros medonhos Das peças demasiadas Soam grandes estampidos Estremecendo as quebradas Descendo rios de sangue Como água em enchorradas… É dele também o segundo folheto sobre a guerra. Título: A Allemanha Vencida e Humilhada, que começa assim: Até que afinal chegamos Ao fim da tal grande guerra Que tanto mal produziu Geralmente em toda a terra E a Allemanha vencida Se humilha, grita e berra… Como se não bastasse, Leandro escreveu Echos da Pátria, que começa assim: Despertai filhos da Pátria Mostrai a vossa façanha Arriscai o peito à bala Ide morrer na campanha Um soldado brasileiro Não rende pleito à Allemanha… Leandro Gomes de Barros em xilogravura de Klévisson Viana Leandro morreu em 1918, com 53 anos de idade. Sua obra foi vendida para João Martins de Athayde (1880-1959) e depois para José Bernardo da Silva (1901-1971). Eram cordelistas e donos de gráficas. O detalhe é que tanto Ataíde quanto Bernardo assinaram como se fossem deles folhetos de Leandro Gomes de Barros. Isso tem nome: apropriação indébita. É crime, constante no nosso Código Penal. Exemplo dessa apropriação é o clássico O Cavalo que Defecava Dinheiro. Até hoje não se sabe com exatidão quantos folhetos de cordel Leandro escreveu e publicou. O poeta repentista pernambucano Otacílio Batista falava em 1.004. Falo disso no livro A Presença dos Cordelistas e Cantadores Repentistas em São Paulo (Ed. Ibrasa, 1996). Nesse livro também falo da discriminação sofrida pelos poetas da viola. Mas voltemos ao tema guerra. É claro que o assunto é polêmico. Uns poucos cordelistas do passado falaram nos conflitos internos registrados pela história. A guerra ou massacre de Canudos, que durou menos de um ano no sertão da Bahia, mereceu o olhar de poetas de cordel: Minelvino Francisco da Silva (Antonio Conselheiro e a Guerra de Canudos), Arinos de Belém (História de Antonio Conselheiro), Jota Sara (História da Guerra de Canudos) e até o prolífico Maxado Nordestino, autor de As Profecias de Antonio Conselheiro. Nas fileiras de combate contra os miseráveis liderados pelo cearense João Martins de Athayde apropriou-se de folhetos de cordel de Leandro Gomes de Barros

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