Edição 1.401 página 27 Agradecemos aos leitores que enviaram colaborações para recompor minimamente o nosso estoque do Memórias da Redação. Se você tem alguma história de redação interessante para contar mande para [email protected]. As datas podem não ser precisas. Mas aqui vai meu relato do dia em que vazei a informação da candidatura de Fernando Henrique Cardoso (FHC) à Presidência da República do Brasil. Como assim? Em 1994, a minha agência, Art Presse, atendia à Globosat, programadora de TV paga da Globo. Havia acabado de lançar o programa Manhattan Connection no GNT. A diretora era Letícia Muhana, profissional talentosíssima que estava na Globosat desde a fundação. Lembro que Letícia compartilhou a lista de nomes do programa para minha apreciação, proposta pelos seus integrantes. Curioso: alguns grandes jornalistas, como Paulo Francis, Lucas Mendes, Nelson Motta e Caio Blinder, têm zero talento para criar nomes legais. Um deles − e esse era o mais ameno − era algo como (sic) “Óia nóis aqui do Norte”... Ficou o nome que conhecemos (Manhattan Connection). Paulo Francis dizia ser título de mafiosos. O programa, que nasceu de uma ideia de Lucas Mendes, era gravado às sextas-feiras de manhã, no escritório da Reuters, em Manhattan. Uma das gerentes do GNT era a melhor amiga de Sonia Nolasco, mulher do Paulo Francis, que me confidenciou: − O Paulo acorda com um entusiasmo juvenil às sextas-feiras. Ele está adorando a gravação do Manhattan Connection. O Brasil de 1994 era presidido por Itamar Franco, que assumiu como vice-presidente de Fernando Collor, que sofreu processo de impeachment. Na época, o ministro da Fazenda foi o FHC, que soube conduzir uma equipe de economistas brilhantes (e o próprio Itamar Franco) para implementar o Plano Real e acabar com a hiperinflação, que estava em mais de 80% ao mês. Na semana, Letícia me disse para nos prepararmos porque FHC seria o convidado do programa. Não dei muita bola. Programas como esses são difíceis de trabalhar na imprensa. Ele era gravado na sexta-feira de manhã e exibido no domingo à noite. A margem n A história desta semana é de um estreante neste espaço: Ricardo Braga (ricar [email protected]), CEO das agências Art Presse e 140 Online e editor-geral do Jornal 140. Ricardo Braga O dia em que ajudei, sem querer, a lançar FHC à Presidência da República para trabalhar era mínima e havia o “fator Globo”. A imprensa não costuma publicar imprensa, ainda mais a Globo, que era vista com certa desconfiança pelas redações. Por falar em sexta-feira... Durante muito tempo comecei a ficar tenso com esse dia da semana. Não sei a razão, mas crise que era crise surgia inevitavelmente às sextas-feiras. Naquela sexta, por volta das 17h30, toca o telefone (não havia nem celular nem WhatsApp). Era Letícia: − Ricardo, temos uma bomba para divulgar o programa! − Oi, Letícia! Qual? − O Francis me ligou e... − Sim, e...? − ...ele acabou de sair do almoço com o FHC. Disse que o Itamar o escolheu para ser o seu candidato à Presidência da República. − Nossa, Letícia, que notícia! − Sim, vamos avisar a imprensa. Furo do Manhattan Connection! Frio na barriga. Não soube como dizer a ela que não podia garantir que os jornalistas falariam do Manhattan Connection. A informação foi passada por FHC ao Francis durante o almoço e não durante o programa. Desligamos, respirei fundo e pensei. Minha equipe já estava em outras atividades. Teria que voar solo, ou seja, eu mesmo cuidar dessa informação, até para não perder o timing. A lógica foi seguir a relação que mantinha com os editores de TV, visto que não tínhamos clientes na área de política. Liguei primeiro para o Jornal do Brasil. Tentei Rose Esquenazi, com quem tinha ótima interação. Atende a voz de um carioca supersimpático:
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