Edição 1.402 página 12 100 ANOS DE RÁDIO NO BRASIL Por Álvaro Bufarah (*) Bem articulada, divertida e firme nas respostas. Assim são as falas de Isadora Hidalgo de Souza, de 15 anos. Cega de nascença, ela produz, grava e edita um podcast e um blog sobre seu time do coração: o Grêmio. Recanto Tricolor, nome do projeto que teve início quando a menina tinha apenas 12 anos, atualmente é um espaço em que ela trata sobre futebol elaborando comentários e análises sobre os jogos. Isadora explica que nasceu prematura e por isso teve descolamento de retina, o que causou a cegueira. Aos nove anos passou a acompanhar os jogos do Grêmio e a gravar alguns áudios apenas para manter “guardadinhos”. Mas na pandemia acabou intensificando a “cobertura”, até porque não tinha mais os jogos e tudo passou a interessá-la. “Passei a acompanhar mais as notícias do Grêmio, tudo o que era falado, muito por conta de não ter jogos”, conta. “Em setembro de 2020 comecei a produzir isso. Eu tinha já muita coisa gravada, mas, com o auxílio do meu tio, comecei a produzir o podcast. Fiquei esse ano no podcast, uma coisa mais assim por diversão. Conforme fui me dedicando a fazer isso, comecei a entender que eu tinha me apaixonado pelo jornalismo. E no início do ano passado criei o blog, para também ter outra forma de me comunicar, não só com os meus ouvintes, mas com os leitores”. A paixão pelo áudio surgiu naturalmente, pois Isadora sempre gostou de ouvir rádio e passar a gravar seus comentários foi uma consequência de sua relação com o meio: “Eu sempre gostei muito de rádio. Eu escuto os jogos, a maioria deles pelo rádio, porque é uma forma de facilitar a minha vida também, pois o rádio me dá uma visão mais detalhada dos jogos, então facilita bastante até para os comentários que eu faço no podcast”. Um ponto importante é que a jovem aprendeu a gravar e editar com um programa utilizado pelos profissionais no mercado de radioPaixão por futebol e rádio torna hobby em profissão difusão, o SoundForge. A dica veio de um amigo, também cego, que sugeriu alguns tutoriais para que ela pudesse entender como fazer as gravações. Ouviu várias horas de tutoriais e assimilou de forma rápida como aproveitar as ferramentas do programa. A gremista fala como veterana e detalha que, além de comentários, faz episódios sobre momentos marcantes da história do time, homenagens aos jogadores que marcaram essa história, os que participaram da seleção brasileira de futebol. Enfim, a criatividade não tem limite para a produção de novos conteúdos. Sobre o momento de criação, afirma que após os jogos faz uma análise do que está sendo dito nas redes sociais para elaborar suas críticas e elogios: “Depois do jogo, sempre dou uma olhadinha nas redes sociais para tentar misturar um pouco da minha opinião sobre o jogo com a dos gremistas que estão comentando nas redes sociais. Então, sempre tento destacar um pouquinho do que foi o jogo, fazer uma projeção da próxima partida, colocando a minha expectativa, falando um pouquinho do time, enfim, coisas que são importantes para que a pessoa que está ouvindo possa se informar direitinho”. Não pense que tudo é feito de improviso. Isadora escreve os roteiros no computador e depois transcreve para uma máquina braile, para poder ajudá-la a ler no tempo da gravação. Depois escolhe as trilhas e edita. Experiente, a menina dá uma dica importante para os iniciantes: “Tento montar o episódio de forma que as pessoas se interessem em escutar e para que fique bonito também para que se emocionarem”. Também não pense que por ser gremista Isadora faz “jornalismo chapa branca”. Ela pega no pé dos jogadores: “Pego, pego no pé. Sim, porque todo torcedor pega no pé um pouquinho, né? Então eu pego um pouquinho no pé do treinador, daquele jogador que porventura não foi bem no jogo. E a receptividade do público é muito boa. Recebo muitas, muitas mensagens elogiando o meu trabalho e isso é supergratificante. Então, fico muito feliz que o meu trabalho dê resultados positivos”. Embora tenha esse reconhecimento, o time ainda não se manifestou sobre o trabalho da jovem comentarista. Ela inicialmente queria ser pianista, mas após iniciar o projeto do podcast já pensa em seguir a carreira como jornalista de esportes: “Eu toco piano, então tinha o sonho de ser pianista. Mas comecei a fazer isso e me apaixonei de uma forma muito maluca, porque era algo que eu ia levar mais como mais uma coisa do meu dia a dia. Hoje, não. Hoje acho que sou uma pessoa bem mais dedicada com o que faço. E quero, sim, trabalhar com o jornalismo esportivo. Gosto muito de rádio e do esporte, então quero trabalhar com isso!”. A jovem comentarista afirma ainda que tem muitas referências não só de comentaristas: “Tenho muitas referências na reportagem também. Escuto bastante a Rádio Gaúcha, então tenho muitas referências ali dentro. Há muitos repórteres e comentaristas do Grupo RBS de quem gosto bastante, como Maurício Saraiva, Leonardo Oliveira... E alguns repórteres também. Penso: nossa, como eu queria ser igual a ele, né? Mas a minha principal referência feminina não está no comentário ou na reportagem. Gosto muito da Renata Silveira, porque ela é para mim uma pessoa admirável, por tudo o que nós mulheres Isadora Hidalgo de Souza
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