Jornalistas&Cia 1402

Edição 1.402 página 16 Minas Gerais (*) As recomendações para quem quer iniciar a carreira como escritor são diversas e diferenciadas. A jornalista e escritora Jalmelice Luz, por exemplo, indica que a pessoa interessada deve ler, exercitar a escrita e não temer a publicação. Deve correr riscos. A escrita pode ser provocada por lembranças, vivências, observações e leituras. Deve-se sair do silêncio para criar sentido por meio da palavra escrita. Os erros e acertos fazem parte do aprimoramento de qualquer escritor. “A verdade é que, na escrita literária, nada está pronto e acabado, pois o ponto final é simbólico”, afirma. “Não sei se é dom. Entendo como um lenitivo para as dores do mundo que repercutem em nós, assim como nossas contradições e feridas. Posso vencer as armadilhas interiores e iniciar um texto. Outras vezes, digitar algumas frases e fechar a tela para recomeçar mais tarde. Em algumas ocasiões, tomar notas durante uma viagem, enquanto leio, após uma boa conversa, um olhar, um sentimento, para tentar dar uma dinâmica no texto. Sempre partimos de nossas experiências, embora não sejam a tradução de um momento com ponto final. A vida é movimento, transformação e criação. Cada pessoa tem sua própria forma”. Segundo Bruno Marques, escrever é um sentimento que não se explica. Fazia sentido para ele escrever o que sentia, ainda que por metáforas. A escrita e a literatura são um grande universo simbólico e os personagens representam sentimentos, como amor, fidelidade, decepção, traição, angústia e reflexão, entre outros: “Se lermos O velho e o mar conheceremos Santiago e Manolin, mas a literatura nos mostrará também sobre o que é amizade, esperança ou a falta dela. Eu precisava entrar nesse universo. É como se houvesse uma realidade escondida que somente a escrita me levaria até ela. Leia muito, leia todo tipo de texto. Não perca tempo com um livro que não te cativou depois da página 50, mas não pare de ler. Troque de livro e continue lendo. Esse é o primeiro passo para escrever. O segundo é realmente escrever. Não espere criar o texto perfeito, até mesmo porque a perfeição não existe. Escreva, melhore, reescreva. Compartilhe seus textos com as pessoas e não se preocupe com as críticas. O importante é estar sempre em movimento e em evolução”. O autor de Filho de pandemia, o jornalista e escritor Diego Amorim cita como dica que se deve escrever sempre, escrever pra tudo, pra quem quer comeJornalistas-escritores mineiros (última parte de 4) Jornalistas escritores afirmam que escrever requer mais dedicação que talento ou inspiração çar a escrever tornar a escrita parte de sua vida, mesmo que seja como diário: “Não precisa ser um diário como o meu, um momento tão difícil para a humanidade com a pandemia, mas um diário ou uma carta pra alguém, ou colocar no papel sentimentos, situações desconfortáveis do cotidiano. Você escreve como uma forma até mesmo terapêutica de desabafo, mas escrever sempre é o grande segredo para escrever bem”. Segundo Américo Antunes, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, escrever é o desejo de transmitir o que vai pela mente e coração, a partir da observação crítica da vida e dos tempos, passado e presente. Ele começou a escrever a partir da inquietude existencial e do desejo de transmitir e dialogar. Como um ritual de passagem do real para a imaginação, seja em uma obra de ficção ou não ficção. Observar atentamente e estudar/pesquisar a fundo o tema – ou temas – sobre o qual se pretende escrever é uma recomendação de Antunes. Para ele, método e disciplina no ato da escrita são cruciais e, é claro, não esmorecer jamais diante dos obstáculos de um mercado tão fechado. Para quem tem afinidade, na opinião de Bruno Marques, certamente será mais fácil escrever. No entanto, o segredo não está somente na escrita, mas, sim, no conteúdo, na mensagem para os leitores. Ele cita que um escritor, antes de tudo, é um bom observador, que capta momentos do cotidiano e os filtra diante dos seus sentimentos e percepções. Qualquer escritor é um bom leitor Quem quer ser um bom escritor com certeza tem de ser um bom leitor. A afirmação é uma constante entre os jornalistas escritores, como Diego Amorim: “Todo escritor tem de ser um bom leitor. Com certeza. A gente só consegue escrever bem e desenvolver, se expressar, quando lê bastante”. Já escritora Hila Rodrigues acredita que foi a leitura que a estimulou a começar a escrever. Segundo Antunes, sem dúvida, esse é o ponto de partida: “Desconheço um autor que não seja um ávido leitor”. Bruno Marques acredita que é difícil alguém gostar de escrever e não gostar de ler: “Quem não gosta de ler jamais será um escritor”. Marques destaca que um escritor é formado pelos textos que lê: “Eu tenho predileção pelos textos filosóficos e de psicanálise. Antes de escrever meu primeiro livro, estudei muito sobre existencialismo. O livro As noites mais escuras do inverno está carregado de metáforas influenciadas por Freud, Nietzsche, Jalmelice Luz Bruno Marques Diego Amorim Américo Antunes

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