Jornalistas&Cia 1413

Edição 1.413 página 16 100 ANOS DE RÁDIO NO BRASIL Por Álvaro Bufarah (*) Os irmãos Paulo e Sérgio Leite foram criados em uma família cujo pai era apaixonado pelo rádio e por tecnologias, tanto que desde os anos 1950 tinha gravadores de rolo, entre outros equipamentos. Paulinho Leite, mais conhecido como “Velho Milk”, herdou a paixão do pai pelo meio radiofônico e desde os 12 anos já sonhava em ser radialista. “Meu pai gostava muito não só de rádio, mas como ouvinte mesmo. Era fanático por rádio e os filhos foram pegando meio que essa mania também; então, cada um tinha o seu próprio radinho. Ele comprava um rádio para cada um, cada um tinha o seu e ouvia seus programas preferidos”, afirma Paulinho, o filho mais velho. Mas infelizmente os jovens não tinham nenhum contato na família que pudesse fazer a ponte com o meio. Por isso, só aos 18 anos, após iniciar o curso de Jornalismo na ECA/ USP, conseguiu um teste na TV Globo do Rio de Janeiro, onde havia ido visitar um amigo da família. Ao ser avaliado, qual não foi a surpresa em ser convidado a iniciar como repórter no dia seguinte. E assim foi. Rapidamente foi promovido a editor e em um ano conseguiu voltar para a capital paulista, para a sede da “Vênus Platinada”, com as mesmas funções. Um dos pontos fortes do jovem era a bagagem cultural, pois gostava de ler e de ouvir música. Sergio, o mais novo, já tinha se embrenhado no mundo artístico, tornando-se músico e fazendo alguns shows na noite paulistana. Essa parceria entre os irmãos Leite vem ainda da infância, quando se apresentavam nas festas familiares cantando e fazendo pequenos shows de humor. “O Serginho sempre mostrou ser um grande músico. Eu cantava direitinho e ele também cantava muito bem. Então, nós tínhamos um certo humor, que já existia na gente desde antes. A gente tinha essa coisa de fazer graça e não sei o quê”, lembra Paulinho. Esse lado humorístico seria a marca de Serginho no rádio e na forma mais leve de Paulinho fazer suas locuções e inaugurar um novo estilo musical no rádio FM de São Paulo. Voltando à história, Paulinho conheceu, na Globo, muitos profissionais que lhe ensinaram muito, sendo que alguns foram parceiros em vários projetos ao longo da vida. “Na Globo, por sorte, acabei conhecendo pessoas que também trabalhavam em rádio, como o Ferreira Martins, por exemplo, que apresentava ainda o Jornal Hoje, e depois o Sérgio Roberto Ribeiro, que depois ficou muitos anos no Globo Rural. Ele trabalhava na época também na Excelsior”, comenta Leite. Entre os vários contatos, um dos diretores da TV foi trabalhar na Rádio Novo Mundo, que depois iria se transformar na Rádio Capital AM. O velho Milk aceitou o desafio de ser o novo chefe de Jornalismo da emissora. Porém, descobriu que seria o gestor de uma equipe com apenas ele mesmo. Logo o projeto naufragou e Paulinho teve de buscar novos caminhos no mercado. Como não conseguiu uma nova vaga rapidamente, acabou indo trabalhar com Serginho, na noite, tocando contrabaixo. “Eu trabalhei com isso, sempre de olho no rádio ou em alguma outra coisa, por seis ou sete meses. Até que finalmente consegui voltar à O “Milk” que mudou o rádio paulistano Globo. Voltei à TV Globo, mas não, nem no jornalismo, nem rádio, nada disso. Voltei para ser assistente do Carlito Maia, que era um publicitário bastante conhecido, com uma grande história. Foi um dos criadores da Jovem Guarda”, afirma Paulinho. Na Globo, o velho Milk foi para a área de promoção, onde aprendeu a fazer textos para comerciais, organizar ações promocionais etc. Mesmo assim ainda mantinha contato com os profissionais com que havia trabalhado. Entre eles, Sérgio Roberto, que o avisou que iriam abrir uma nova emissora, a Rádio Cidade, do grupo JB. Paulinho foi à emissora, fez o teste e foi contratado, tendo sido o locutor que colocou a Rádio Cidade no ar. Paralelamente, voltou ao jornalismo, agora na TV Bandeirantes, onde trabalhava à noite, enquanto atuava na Rádio pela manhã. “Por sorte, tive o melhor mentor que poderia ter tido nesse meio, que era o Carlos Towsend. Ele criou a Rádio Cidade no Rio de Janeiro, depois veio criou a Rádio Cidade em São Paulo e eu fui um dos primeiros lá. Eu coloquei a rádio no ar no dia 25 de janeiro de 1980 e a partir daí fiquei um tempo lá”, recorda saudoso Paulinho. Em sua segunda passagem pela emissora foi o momento em que a Rádio “estourou” no mercado paulistano, em função da forma mais descontraída e diferente de produzir, locutar e veicular a programação. O modelo de programação implantado pela rádio Cidade FM, no final da década de 1970, foi o ponto virada da frequência modulada, que, no Brasil, tinha começado investindo em música ambiente e era a trilha sonora dos consultórios e elevadores. Várias personalidades nacionais e estrangeiras foram entrevistadas por Paulinho, entre eles: Freddie Mercury, Sting, Olivia Newton-John e Ray Parker Jr. Já nessa segunda fase a rádio Cidade não tinha programação ao vivo durante as madrugadas e Paulinho sugeriu trazer Serginho Leite para ocupar o horário. O que inicialmente foi visto com certa descrença, mas acabou funcionando, pois o irmão mais novo, tocava músicas, brincava, fazia imitações e comentava as notícias. O que acabou alavancando o horário pela irreverência e diversidade das participações de Sergio. Depois de um tempo na Cidade, Paulinho recebeu um convite do Tutinha para ir para a Jovem Pan. Com ele, levou seu irmão mais novo e ambos ajudaram a construir mais um case de sucesso no mercado. Mas essa parte conto na próxima semana. Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link. Paulo Leite Paulo Leite e César Rosa nos estúdios da Rádio Globo FM (*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo.

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