Jornalistas&Cia 1418

Edição 1.419 página 12 (*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo. servia a diferentes grupos independentes em diferentes países latinos. Outro item diferente para os padrões da época é que a direção do projeto ficou a cargo de Ana Lorena Cartín Leiva, que era química de formação, mas desde jovem interessada em política e na formação da população para que se engajasse em projetos contrários às ditaduras. Aos 31 anos, em 1979, ela foi eleita pelos colegas para dirigir a emissora, dando um susto na própria, que nunca esperou ser a coordenadora do projeto. Ana Lorena Cartín Leiva em 1979, ano em que foi eleita para dirigir a RNC Com uma experiência anterior em rádio, ela tinha feito um programa para democratizar as informações e a cultura para as camadas mais baixas da população. Com isso, acabou credenciada a realizar a organização e a produção de conteúdos na emissora. Mas o momento político não era favorável a qualquer grupo que se opusesse às ditaduras. Com isso, os governos dos Estados Unidos e dos países latinos controlados por militares passaram a pressionar o governo costa-riquenho e a própria emissora. A pressão chegou a vários atentados à sede da rádio e a ameaças diretas a seus dirigentes. Mesmo nesse contexto perigoso, Ana Lorena conduziu a emissora a ser o espaço de comunicação dos grupos dissidentes latinos, como a Frente Sandinista de Libertação Nacional, de El Salvador, a Resistência Nicaraguense, guatemaltecos fugitivos, panamenhos descontentes com o controle do Canal do Panamá − enfim, todos os grupos que procuravam um canal para expressar suas mensagens e denúncias. Com isso, Lorena foi levada aos tribunais como uma terrorista que apoiava a guerrilha urbana na América Latina, mesmo estando grávida. O julgamento durou oito meses, com cobertura dos meios de comunicação alinhados à direita e à esquerda em vários países latinos, especialmente na Costa Rica. Apenas em março de 1982 o caso avançou e o juiz absolveu Ana Lorena, mas determinou que ela não poderia mais usar qualquer canal de comunicação por ondas de rádio e portar armas de fogo. Os registros de terrorismo foram retirados de sua ficha e ela deixou a direção da rádio. Mas, com a certeza de ter cumprido os objetivos do projeto de comunicação da emissora, durante o período em que foi gestora da rádio. As rádios comunitárias e independentes têm sido importantes meios de comunicação alternativa na América Latina, permitindo que as comunidades locais expressem suas preocupações, divulguem informações relevantes, promovam a cultura local e participem ativamente do debate público. É importante reconhecer o valor dessas emissoras na América Latina e apoiar seu papel fundamental na promoção da liberdade de expressão, da diversidade cultural e da inclusão social. Essas emissoras podem desempenhar um papel fundamental na criação de sociedades mais resistentes, empoderadas e conectadas. Vale lembrar que, atualmente, as discussões sobre a legalidade dessas emissoras por transmissões em ondas ficaram um pouco sem sentido, já que muitas delas têm mais ouvintes via web do que sintonizados no dial. Porém, ainda temos muitas emissoras clandestinas espalhadas pelo Brasil e pela América Latina, sendo que poucas realmente têm foco no conteúdo para as comunidades em que estão instaladas. Por outro lado, é importante discutirmos a democratização dos meios de comunicação, incluindo o rádio. Pois em muitos pontos do Brasil é o único meio que conecta a população a cidades e ao que se passa fora das comunidades. Também o contexto político-ideológico mudou bastante desde os anos 1970, mas temos outros canais de comunicação, talvez até mais rápidos e abrangentes que as emissoras clandestinas: as redes sociais, com cujos efeitos nos defrontamos todos os dias. Fonte: boa parte dessa história pode ser lida no texto Rompiendo el cerco. La experiencia de Radio Noticias del Continente en Costa Rica (1979-1981), de Aníbal García Fernández, de 2018. Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link. Pingos nos is − na edição passada, no texto “O Rádio, o Samba e o Carnaval”, usei partes das entrevistas dadas ao site O Carnavalesco. Por erro meu, não foi publicada a origem das informações. Peço desculpas e informo aqui a fonte dos dados. Ana Lorena Cartín Leiva

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