Edição 1.421 página 11 Contatos pelos [email protected], http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333 PRECIO SIDADES do Acervo ASSIS ÂNGELO Por Assis Ângelo A obra reunida do poeta maldito Gregório de Matos e Guerra começou a ser publicada em livro no Brasil somente a partir de 1923. Parecido com Gregório, na temática e na explicitação nos textos, foi o italiano renascentista Pietro Aretino (1492-1556). Era protegido por papas, reis e príncipes do seu tempo. Aretino, segundo dizem, tinha de aluguel sua caneta. Era rápido, que nem um pistoleiro. Era a favor de quem pagasse mais e aí, soltava a língua. Exemplo: Estes nossos sonetos do caralho, Que falam só de cu, caralho, cona, e feitos a caralho, a cu, a cona, Semelham vossas caras de caralho. Trouxestes cá, poetas do caralho, As armas para pôr em cu e cona. Sois feitos a caralho, a cu, a cona, Produtos de grã cona e grão caralho. E se furor, oh gente do caralho, Vos falta, ficareis no pica-cona, Como acontece amiúde co’o caralho. Aqui termino esta questão da cona P’ra não entrar no bando do caralho, E, caralho, vos deixo em cu e cona. Quem perversões tenciona Aqui nestas asneiras logo as lê. Que mau ano e mau tempo Deus lhe dê. Muitas das coisas que Aretino escrevia eram no formato de soneto, no caso criado por Giacomo da Lentini (1210-1260). O soneto criado por Lentini era formado por dois quartetos e três tercetos. Esse tipo de soneto foi revisto e transformado por Francesco Petrarca (13041374), que é o que conhecemos hoje: formado por dois quartetos e dois tercetos, num total de 14 versos decassílabos. Aretino e Gregório de Matos morreram praticamente com a mesma idade, 58 anos. Detalhe: Gregório foi censurado em vida e Aretino, depois que morreu. Aretino morreu rico, riquíssimo, e Gregório morreu pobrezinho de marré marré numa casa, praticamente abandonado, em Recife, acreditando piamente na existência de Deus. William Shakespeare (15641616) também deixou uma versão própria de soneto. No caso formado por três quartetos e um dístico de dois versos, decassílabos (abab bcbc cdcd efef gg). Com finesse e sutileza, o bem comportado Shakespeare abordou a homossexualidade pelo menos uma vez em uma de suas peças: Os Dois Nobres Parentes. Os personagens dessa peça, Palamon e Arcite, encontram na cadeia, onde foram atirados, tempo para passar Licenciosidade na cultura popular (XX) bons momentos entre si. Carícia aqui, carícia ali e tal. A propósito, não custa lembrar, toda a obra shakespeariana tem por base a cultura popular da terra em que o autor nasceu. E o palavrão, hein? Esse tem em todo canto também, como todas as questões relacionadas a sexo. No começo dos anos 1970, o pernambucano Mário Souto Maior teve censurado pelo governo militar (19641985) o livro Dicionário do Palavrão e Termos Afins. Além do Brasil, outros países têm livros similares ao que escreveu e publicou Souto Maior. O da Alemanha tem por título Sex im Volksmund. Der obszöne Wortschatz der Deutschen, de Ernest Borneman. Em tradução livre, para o português: Sexo no vernáculo, o vocabulário obsceno dos alemães. Curiosidade: a maior palavra em português não é palavrão, mas tem 20 sílabas e 46 letras. PNEUMOULTRAMICROSCOPICOSSILICOVULCANOCONIÓTICO, PORRA! O menor palavrão na língua portuguesa é cu, que curiosamente na tabela periódica corresponde ao elemento Cobre. Pois, pois. Pelo menos por estas plagas ocidentais, latinas e tal, passou batida a informação de que a “operação” mortífera acionada por Putin contra a Ucrânia começou com um palavrão, seguido de uma bela estirada de dedo: “Vai se foder!”. O palavrão saiu da boca de um soldado ucraniano depois que os russos ordenaram a rendição, no dia 24 de fevereiro de 2022. O palavrão “vai se foder” virou um desabafo do povo ucraniano estampado em camisetas, bandeirolas, souvenirs e outdoors. Não custa lembrar que o verbo “foder” é conjugado em todo canto, em todas as línguas. Até o escritor colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014), num dos seus livros, Cem Anos de Solidão, põe um personagem, acho que Alfonso, pra dizer: “O mundo terá acabado de se foder no dia em que os homens viajarem de primeira classe e a literatura no vagão de carga”. No famoso livro de Gabo há guerras, brigas, violências de todo tipo; muito sexo, muita puta, bordéis a dar com pau, muitas palavrinhas como “merda” e palavrões aqui e acolá. E até broxa. É um livro e tanto, Cem Anos de Solidão. Reproduções por Flor Maria e Anna da Hora
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