Edição 1.421 página 24 Em 1979, foca de tudo, fiz, pela revista Manchete, minha primeira viagem internacional. O fotógrafo Vic Parisi, o motorista Oripides Ribeiro e eu seguimos de carro, um Chevette, até a Argentina. Não muito além da fronteira. Nossa missão: investigar o cotidiano dos caminhoneiros. O mote da reportagem era o lançamento do seriado brasileiro Carga Pesada, da Rede Globo, tentativa bem-sucedida de emular as séries americanas. Fez sucesso de cara. Nossa tarefa era averiguar se as aventuras dos caminhoneiros Pedro (Antônio Fagundes) e Bino (Stênio Garcia) − que viajavam juntos − tinham semelhança com a vida real. Logo ficou óbvio para nós: havia um contrassenso na escolha de uma dupla de motoristas em um mesmo caminhão. Podia ajudar nas ações dramáticas da telinha, mas não existia nas estradas. O motivo era simples: se o valor pago pelo frete era mirrado, por que alguém haveria de querer dividi-lo com um colega? Checamos nas conversas com caminhoneiros esta e outras abstrações do seriado. Lembro-me de ter ido à cidade gaúcha de São Marcos, então dona do maior contingente de caminhoneiros per capita. Até o padre da paróquia principal era carreteiro − e comandava uma procissão anual de cavalosmecânicos. Na maior praça, em vez da estátua do fundador, havia a escultura, em cimento, de um radiador de caminhão Scania Vabis. De volta a São Paulo, redigi o texto e, pela primeira vez, levei a matéria pessoalmente para a matriz, no Rio de Janeiro. Isso ocorria só com as reportagens grandes. Era a minha primeira. Quem se incumbiu do texto final foi o redator Ib Teixeira. Aliás, muito boa-praça. Elogiou meu texto, mas disse que adequaria partes dele ao estilo Manchete. E assim foi. Bolamos o título a quatro mãos: Carga pesadíssima (como ela é). Nada tão criativo, mas fazia jus ao cotidiano mais duro, e menos romântico, dos caminhoneiros. Na foto escolhida para a abertura, um caminhão abarrotado de carga. Dias depois, quando, ansioso como só um novato costuma ser, abri um exemplar com a matéria enfim publicada, veio a decepção. Haviam trocado a foto de abertura por outra, de um caminhão sem carga alguma. O título, porém, permaneceu. E tornou-se surrealista. Walterson Sardenberg Sobrinho Marcelo Spatafora n A história desta semana é de Walterson Sardenberg Sobrinho, o Berg ([email protected]), que foi repórter de Manchete; editor de Placar, Brasileiros e Viagem & Turismo; editor-chefe das revistas Gosto, Próxima Viagem e The President; e diretor de Redação de Náutica, Contigo e Mergulho. Surrealismo sobre rodas Fórum internacional – O Fórum Internacional de Jornalismo 2023, encontro jornalístico anual organizado pela iMEdD (incubadora de Educação e Desenvolvimento de Mídia), será realizado de 28 a 30/9, em Atenas, na Grécia. O evento, em sua quinta edição, abordará temas como liberdade de imprensa, liberdade artificial, jornalismo de dados, mudança climática, corrupção, guerra, entre outros. Os conteúdos serão transmitidos online. As inscrições são gratuitas e já podem ser feitas no site. Favela Cria − O Grupo Cria promove de 17 a 19/8 o Favela Cria, que reunirá comunicadores para dialogar sobre favelas e suas comunidades. O evento acontece no pavilhão G10 Favelas, localizado na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo. A programação inclui palestras, workshops e debates com estudantes e profissionais sobre comunicação de impacto e potencial criativo. A entrada para o evento será um gesto solidário: a doação de um quilo de alimento não perecível. Inscrições pelo site. Bem-estar de jornalistas − Voltada para estudantes e profissionais em início de carreira, a Universidade de Oxford está realizando a pesquisa Melhorando o Bem-estar dos Jornalistas. O objetivo é coletar informações para avaliar um novo treinamento online sobre como melhorar o bem-estar de profissionais da imprensa. O estudo envolve duas etapas de questionário, que podem ser respondidas no site da pesquisa, desenvolvido pela instituição de ensino. O tempo de preenchimento é de aproximadamente uma hora.
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