Jornalistas&Cia 1422

Edição 1.422 página 13 (*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo. 100 ANOS DE RÁDIO NO BRASIL Por Álvaro Bufarah (*) O meio radiofônico na Venezuela está sendo desmontado pelas ações do governo de Nicolás Maduro. A cada dia mais uma emissora de rádio fecha as portas e tira do ar sua programação. A última vítima do processo de silenciamento foi a Rádio Caracas, a emissora mais antiga do país, que encerrou suas atividades nas plataformas digitais. A Éxtasis 97.7 também parou de transmitir depois que uma ordem governamental determinou o fim de suas atividades. Só em 2022 foram registrados mais de 95 fechamentos de emissoras de rádio no país, o maior número de toda a história. Neste ano, os processos para calar as rádios continuam, uma vez que cinco emissoras foram fechadas nos primeiros seis meses do ano. Vale destacar que não foram só grandes emissoras que sofreram com o boicote e as pressões do governo. As pequenas também, já que muitas vezes são a última fronteira entre a prestação de serviços para os povoados e os desertos de informação que atendem ao perfil de governos totalitários. De acordo com o relatório Atlas do Silêncio, do Ipys Venezuela, os desertos de informação são áreas onde não há meios de comunicação suficientes para informar a população. Especialmente na Venezuela, o rádio é o principal meio de comunicação, com um grande alcance, pois mais da metade da população vive em áreas sem garantias de acesso a informações locais, nem nacionais. Há estados como o de Táchira, com 28 regiões consideradas desertos de informação, por exemplo. Outro fator importante neste momento é que o país vive o processo pré-eleitoral para as eleições presidenciais para o período de 2025 a 2031 e a oposição está em campanha para as primárias, que ocorrerão em 22 de outubro. Uma das justificativas para o fechamento das rádios é o vencimento das concessões, porém os processos legais acabam por não Estão silenciando o rádio venuzuelano avançar para empresas de comunicação que não sejam partidárias do governo Maduro. O órgão responsável por regular e supervisionar as telecomunicações do país é a Comissão Nacional de Telecomunicações da Venezuela (Conatel). A principal função dessa comissão é conceder as autorizações para o uso do espectro radioelétrico, considerado um bem público. Porém há um nítido propósito de silenciar as emissoras que de alguma forma não se alinham às posições do governo. A fórmula é simples: o órgão não responde aos pedidos de renovação das concessões. Assim, após o vencimento o governo pode determinar o encerramento a qualquer momento. Foi assim que, em 2019, a comissão tirou do ar a Rádio Caracas, alegando o vencimento da concessão para operar no país. A emissora buscou manter-se no ar por meio das transmissões no YouTube. Mas, depois destes anos de pressões, não conseguiu se manter mais em operação na web. Infelizmente, para uma emissora manter-se fora do dial em um país como a Venezuela é praticamente impossível, já que a maior parte da audiência não consegue acompanhar a mudança do espectro, de ondas para a rede, pois não há condições financeiras nem técnicas para a maior parte da população. A rádio Caracas pertencia ao grupo de televisão com o mesmo nome, que foi fechado em 2007. Com a situação econômica do país agravada nos últimos anos, a retirada do dial das emissoras reduz ainda mais a possiblidade de manter seus anunciantes, pois há uma grande perda de ouvintes. Dessa forma, as emissoras que ainda tentam manter sua programação via internet, mesmo que de forma precária, não têm garantias de que conseguirão sobreviver por muito tempo. Para finalizar, os problemas das emissoras venezuelanas em praticamente todas as regiões do país são agravados pois há cortes prolongados de energia que complicam ainda mais a condições de emissão e recepção. Enfim, só sobrevive quem tem algum alinhamento com o governo, no mais o rádio está sendo sufocado silenciosamente pelo governo de Nicolás Maduro. Este texto contou com informações do Centro Knight e de veículos de comunicação venezuelanos. Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link.

RkJQdWJsaXNoZXIy MTIyNTAwNg==