Jornalistas&Cia 1425

Edição 1.425 página 15 (*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo. Depois de uma carreira exitosa no jornalismo, com passagens por JB e Grupo Globo, incluindo Globo Esporte e SporTV, Rodrigo Alves trocou as redações pela produção independente de podcasts. Entre eles está Vida de Jornalista, que entrevista profissionais do mercado explicando as agruras, os desafios e os acertos do cotidiano. O contato com esse formato veio da cobertura do basquete, pois segundo ele os colegas já faziam bons conteúdos: “Eu dou um crédito pra comunidade do basquete no Brasil, que abraçou muito esse formato rapidamente e tinha muito programa de qualidade”. Segundo ele, já fazia em vídeo com Rafael Roque o Dois Pontos e decidiram migrar para o formato de áudio, por ser mais funcional para os usuários: “Primeiro, por uma questão de simplicidade de produção, mesmo porque o programa em vídeo a gente tinha que ficar se preocupando com a luz, com o cenário e era tudo meio artesanal. A gente ia na gráfica, imprimia os negócios, colava na parede. Então, era tudo assim. Usávamos os nossos celulares pra gravar e aquilo era uma trabalheira. E aí, como a gente já estava ouvindo muito podcast, eu falei: ‘E se a gente tentar fazer em áudio em formato de podcast?’ Foi aí que o Dois Pontos virou podcast, em 2018”. Na mesma época, ele tinha o projeto de fazer um programa sobre os bastidores do jornalismo, os métodos de pesquisa e as histórias dos colegas. Entre uma temporada e outra do programa de basquete acabou ficando mais livre e pensou em colocar em prática o projeto, que estava engavetado. Então, no segundo semestre de 2018, nasceu o podcast Vida de Jornalista. Por um tempo Rodrigo manteve o trabalho na Globo e a produção do programa. Mas, na virada de 2020 para 21 tomou a decisão de sair da TV e abrir uma produtora de áudio. A experiência deu certo e ele passou a produzir outros podcasts, além de estruturar um curso que ensina os caminhos para quem quer construir seus próprios programas. Atualmente, consegue viver de podcasts e consultorias, mas revela que não foi uma decisão fácil sair do mercado de TV para se dedicar ao mundo do áudio: “Hoje dá para dizer que só faço podcast e consigo me sustentar com isso. Mas não foi uma decisão fácil, não, porque sair da Globo... É um emprego, né? Então, todo mundo 100 ANOS DE RÁDIO NO BRASIL Por Álvaro Bufarah (*) Vida de jornalista: a dedicação aos podcasts querendo ali estar no mercado de trabalho, tive que fazer muita conta. Mas hoje posso dizer que estou bem feliz com essa decisão”. Quando começou, enfrentou algumas dificuldades, pois o mercado era muito diferente, não havia muitos podcasts jornalísticos. “Hoje a gente está de fato inundado de títulos, o que eu acho ótimo. Por um lado, porque você ajuda a aumentar a massa de ouvintes. Você cria uma cultura de escutar jornalismo em áudio. Estou falando de jornalismo aqui porque, enfim, é mais a minha área, mas vale para tudo, para o entretenimento e todas as áreas”, comenta o podcaster. Rodrigo lembra que em princípio vários profissionais fazem por hobby, mas não conseguem transformar seus podcasts em produtos rentáveis. Para ele, tudo deu certo em função do Vida de Jornalista, pois foi a partir dele que os ouvintes vieram para os cursos, depois chegaram os clientes da produtora, porém tudo muito devagar, pois a produtora era e ainda é ele. Uma dica que ele dá para os novatos é pensar em formas de financiamento, entre elas o realizado junto dos ouvintes, em plataformas em que podem doar valores que vão de R$ 5, R$ 10 ou mais. Também o formato de assinaturas, pelo qual os mais próximos ajudam a manter o projeto por gostarem do conteúdo. No caso do Vida de Jornalista, Rodrigo revela que tem aproximadamente mil assinantes, o que rende algo em torno de R$ 1 mil, que ele usa para reinvestir no próprio programa, pagando viagens e infraestrutura para gravar. Outra possibilidade é buscar financiamento em editais; embora nunca tenta tentado, explica que é uma forma viável de receita: “Você vai lá, inscreve e fica de olho nos editais. É um trabalho chatinho, você tem que ficar muito atento. Preencher edital é um processo meio chato, né? Jornalista geralmente não gosta muito de burocracias. A gente gosta de botar a mão na massa e contar a história. Mas entender isso também é outra maneira de você se financiar”. Rodrigo também sugere a boa e velha publicidade, embora acredite que o mercado ainda não entendeu exatamente os valores e os perfis dos públicos que consomem áudio. Para finalizar, lembra que nem todo conteúdo, mesmo bom, consegue ser vendável: “Tem muito conteúdo sendo feito por aí, de todos os jeitos, em todos os formatos. Muito difícil você hoje criar um projeto jornalístico completamente inédito, que ninguém fez. Mesmo num formato já conhecido, você pode fazer com uma qualidade que vai render. Agora, isso nem sempre é o bastante para você conseguir um lugarzinho ao sol, porque pra pessoa saber que o seu é diferente, ela tem que dar play no seu projeto. Ela tem que ir lá escutar e às vezes, para você fisgar aquele ouvinte, é bem difícil”. Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link. Rodrigo Alves

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