Jornalistas&Cia 1425

Edição 1.425 página 37 Jornalistas&Cia é um informativo semanal produzido pela Jornalistas Editora Ltda. • Diretor: Eduardo Ribeiro ([email protected]–11-99689-2230)•Editorexecutivo: Wilson Baroncelli ([email protected] – 11-99689-2133) • Editor assistente: Fernando Soares ([email protected] – 11-97290-777) • Repórter: Victor Felix ([email protected] – 11-99216-9827) • Estagiária: Hellen Souza ([email protected]) • Editora regional RJ: Cristina Vaz de Carvalho 21-999151295 ([email protected]) • Editora regional DF: Kátia Morais, 61-98126-5903 ([email protected]) • Diagramação e programação visual: Paulo Sant’Ana ([email protected] – 11-99183-2001) • Diretor de Novos Negócios: Vinícius Ribeiro ([email protected] – 11-99244-6655) • Departamento Comercial: Silvio Ribeiro ([email protected] – 19-97120-6693) • Assinaturas: Armando Martellotti ([email protected] – 11-95451-2539) Fim da década de 1960. Cláudio Amaral e eu, repórteres do Estadão, fazíamos um bico escrevendo releases para a A.A. Comunicações, florescente empresa do Meninão, o Álvaro Luiz Assumpção. Meninão era à época um doublé – ou, num neologismo recém-inventado, um triplê − de dono de boate, assessor de imprensa e, principalmente, colunista social da Folha da Tarde. Três vezes por semana nós nos reuníamos na casa dele, na rua Gironda, nos Jardins, para uma reunião de pauta muito bem acompanhada de cafezinho e bolinhos oferecidos por uma empregada de alto nível. Era a única a quem Meninão confiava a ingrata missão de semanalmente limpar sem quebrar nenhuma de suas 150 garrafas da coleção de marcas de whisky, entre as quais pelo menos duas de whisky feito no Paraguai e que, apesar do nome inglês, nunca existiram. “Quando os escoceses ameaçaram processar os fabricantes de whiskies fajutos”, contava ele, alguns ‘produtores’ paraguaios acharam que o caminho era começar a vender marcas inexistentes, que o mercado brasileiro de ‘nouveau riches’ aceitava e que não provocavam reação jurídica, mas apenas ressaca e uma dor de cabeça infernal, já que esses ‘whiskies’ ganhavam a cor característica graças à adição de generosa quantidade de iodo”. Num dos briefings, entretanto, não houve cafezinho nem biscoitos e Meninão se desculpou, contando a estranha história da demissão da empregada. “Quando paguei o último salário ela agradeceu e disse que estava Luiz Roberto Souza Queiroz n A história desta semana é novamente de Luiz Roberto de Souza Queiroz, o Bebeto ([email protected]. br), assíduo colaborador deste espaço, que esteve por muitos anos no Estadão e hoje atua em sua própria empresa de comunicação. “Eu vim pra São Paulo pra mode trabaiá di puta” se demitindo”, explicou. “Surpreso, perguntei o que tinha havido, se estava ganhando pouco ou se tinha brigado com a cozinheira, com quem não se dava” Ela disse que não, estava satisfeita com o salário, muito contente com o trabalho, “mas acontece que vim para São Paulo pra mode trabaiá di puta, como minhas amigas”. Assim, explicou candidamente a prostituta do vir a ser, teve que aceitar o trabalho de copeira/ faxineira para ganhar dinheiro suficiente para comprar “uns sutiêns e calcinhas arretados, pruquê os que truxe do Nordeste são tudo de argodão i num tem nem vermeio nem preto, cumo os home gosta”. Agora, que graças a Meninão tinha conseguido dinheiro para comprar a lingerie (que ela pronunciava reforçando o I inicial), ia começar a rodar bolsinha com as amigas, já tinha até ponto reservado na avenida Brasil. Embora carente de experiência no ‘ramo’, Meninão disse que vida de puta não era fácil, não só pelos clientes desconhecidos e às vezes adeptos de formas estranhas de sexo, haja vista um amigo dele que só conseguia ir às vias de fato chamando a puta de ‘Mamãe querida’, e via de regra, ainda era preciso molhar a mão de policiais, o que não evitava eventuais noites atrás das grades. A moça estava decidida, tinha o exemplo das amigas que ‘trabalhando de puta’ mandavam todo mês um bom dinheiro para as respectivas mães no Nordeste. Ela tinha prometido à própria mãe que também passaria a sustentála, graças ao trabalho sexual a que se propunha. Despediu-se com um beijo no ex-patrão, lançou-se na vida e nunca mais foi vista. E nós ficamos sem o cafezinho, os biscoitos, mas com mais uma história do jornalismo de antanho. Álvaro Luiz Assumpção

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