Jornalistas&Cia 1426

Edição 1.426 página 14 (*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo. 100 ANOS DE RÁDIO NO BRASIL Por Álvaro Bufarah (*) Uma figura divertida e bem focada no mundo do áudio. Léo Lopes é radialista, locutor, empreendedor e sonhador, definições dadas por ele mesmo em sua conta no LinkedIn. Também é proprietário da Radiofobia Podcast e Multimidia, empresa pioneira na produção de podcasts. Curioso que Leo é uma daquelas pessoas que acreditaram no formato antes dos podcasts se transformarem em um grande negócio para as grandes empresas de comunicação. Ele veio naquela quarta leva de podcasters que trouxeram as referências do rádio e aprenderam com os anteriores o que era viável ou não de ser feito para o mercado nacional. O produtor conta que nasceu lá nos anos 1970 e, como uma geração toda, trouxe o rádio como uma referência afetiva: “A gente ainda tem uma relação afetiva com o rádio muito forte. Nós nascemos em uma época que só tínhamos o rádio e a TV como grandes mídias eletrônicas. Então, tinha uma relação afetiva por conta da minha avó, que ouvia muito rádio, via os grandes comunicadores ali. Ela acordava bem cedo, como toda avó de 70 anos. Acordava bem cedinho. Às 5h já estava ligando o rádio e ouvindo o programa do Zé Béttio. E lá vinha o: ‘Bom dia, gordo, aí do Zé Béttio!’ Ela migrava, ouvia todos os principais comunicadores da época − Gil Gomes, Paulo Barbosa, Afanásio... − e eu ouvia junto”. Um dos pontos que o podcaster se recorda é das histórias, pois todas as rádios tinham cartas, programas populares com relatos e participação dos ouvintes. Um dos preferidos dele é o programa do Gil Gomes, que teve o prazer de entrevistar (ele faleceu em 2018). As histórias ecoavam na cabeça do menino que falava muito e que acabou trazendo essa característica como trabalho: “Acho que nasci comunicador, falo pelos dois cotovelos, é um defeito de criança que acabou virando profissão. Quem diria?”. Vale dizer que a carreira como radialista teve início mais tarde. Diferentemente de muitos que começaram quando jovens ou até adolescentes, Leo começou com mais de 30 anos. Formado em tradução em inglês e japonês, ele fez o curso de locução em 2005 e teve seu DRT apenas em 2006. Mas, já estava casado e com filhos e não podia mais estagiar com salários baixos. Então, o sonho do rádio ainda ficaria mais algum tempo parado. Depois de dois anos trabalhando em uma multinacional é que ele teve contato com o podcast. Foi nesse momento que ele pensou que seu sonho poderia dar certo pois nunca quis atuar em outros meios, como a TV: “Minha grande paixão sempre foi a comunicação atrás do microfone. Nunca tive anseios de televisão, nunca foi um negócio de aparecer, mas sim o uso da voz”. A possibilidade de produzir conteúdos em áudio sem ter de passar por uma emissora de rádio e ainda ter a liberdade de escolher o que colocar O radialista que virou podcaster Leo Lopes no podcast foram alguns dos atrativos para o “novato” naquela tecnologia: “Então, o podcast reacendeu essa chama e de lá pra cá foi um caminho sem volta. Foi um caminho que comecei a produzir. Conheci o podcast em 2008, comecei a produzir o meu primeiro podcast que está no ar até hoje: o Radiofobia, que está aí às vésperas (março de 2024) de completar 15 anos no ar ininterruptamente, dois episódios por mês”. Leo acabou se encontrando nos podcasts e nas produções em áudio, tanto que a sua produtora, além de fazer seus programas, acaba por gerenciar outros produtos sonoros, como o podcast Voz Off, dos conhecidos Antônio Viviani e Nicola Laureta. Outro produto da sua empresa é o NERDcast, do Jovem Nerd, um dos mais bem-sucedidos podcasts do Brasil. “Hoje posso dizer sem sombra de dúvida que me realizo 100% como radialista através do podcast. O rádio que não é rádio, que é o que me deu tudo o que tenho hoje. É um caminho sem volta, não consigo me ver fazendo outra coisa”, afirma. Léo Lopes costuma usar uma frase para explicar sua vivência com podcasts: “Primeiro você se torna um entusiasmado e depois um entusiasta dos podcasts”. Foi assim com ele, pois quando iniciou seus primeiros programas o nome podcast não dizia nada aos ouvintes. Muitos não sabiam o que era. Tanto que os podcasters tinham de explicar aos amigos e até aos ouvintes os conceitos desse novo formato. “Podcast? Primeiro, o termo em si não era conhecido por ninguém. A gente tinha que explicar o que era. A explicação mais simplista que a gente dava para ser era ‘um programa de rádio na internet que você ouvia no computador, quando você queria e era curtinho’”, relembra. Porém, atualmente ele considera que as pessoas conhecem podcast, mas confundem, pois, acreditam que são programas feitos para exibição no YouTube. “A gente é da época em que se ouvia podcast. A gente é da época do podcast de áudio, que na verdade segue sendo a origem do termo podcast. O conceito de podcast não nasceu como substantivo, mas como verbo: to podcast, que é transmitir o seu conteúdo através dessa ação na qual o ouvinte pode assinar o seu conteúdo e ouvi-lo sob demanda a qualquer momento”, sentencia. Para Leo Lopes, o diferencial do podcast é a versatilidade que acaba sendo o “pulo do gato”, é a possibilidade de estar caminhando, limpando a casa, fazendo qualquer atividade que não exija atenção total. “Você começa a ouvir um, que leva a outro, depois mais outro e quando percebe já segue uns 15 diferentes”, afirma o produtor. Para finalizar, ele conta como os ouvintes se tornam podcasters: “De tanto ouvir você passa a acreditar que não só poderia participar daquelas conversas, como teria muita coisa para contribuir também. Coisas que você queria falar, coisas que você gostaria de compartilhar com as pessoas. É aí, nesse momento, que o bichinho do podcast te picou. Esse vírus se espalhou, inflamou e te dominou. O entusiasmado faz a transição e se transforma em um entusiasta do podcast”. A conversa com o Leo Lopes rendeu um papo longo que servirá para um novo texto na próxima semana. Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link.

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