Jornalistas&Cia 1428

Edição 1.428 página 36 Machista por origem (meu pai teve dez filhos com uma mesma mulher), casado por uns cinco anos, dois filhos, tive alguma dificuldade para aceitar a liberalidade vigente. Quando cheguei em São Paulo, aos 27 anos, fiz amizade com um conterrâneo que era chefe de arte de um grupo de revistas da Editora Abril e que, além de me indicar para uma vaga de redator, me abriu as portas da cidade, em todos os sentidos. Íamos juntos a exposições, lançamentos de livros ou discos, aniversários, batizados e casamentos. Para desgosto da esposa dele, uma de nossas diversões preferidas era admirar as lindas mulheres que também frequentavam tais ambientes. Mas não passava disso. Era uma admiração, digamos, estética. Raramente passava disso. Ele pintava as mulheres. Eu poetizava. Um dia juntei todos os meus sonetos e poemas num livro e pedi ao amigo para fazer uma capa. A editora sugeriu que eu mesmo escrevesse um prefácio e lá fui eu explicar, em resumo, que decidira publicar tais versos após certificar-me de que já fizera coisas piores, muito piores – frisei. Mas não detalhei quais seriam essas coisas. Não poderia contar, por exemplo, que chorava escondido só de ver Marta passar na minha calçada em direção ao ginásio, onde logo mais me sentaria ao lado dela. Me contentava em ver-lhe o joelho. Também não poderia contar que um dia, quando todos estavam na escola, me deitei com a doméstica e fechei os olhos, sonhando com Marta. A empregada era preta, detalhe inenarrável nos dias de hoje. Ionaldo Andrade Cavalcanti mantinha um estúdio no centro de São Paulo, frequentado por amigos e amigas nos fins de semana. No trabalho, a convivência era com os “gênios” da imprensa. Sua arte encontra-se registrada nas incontáveis revistas em que trabalhou e as n A história desta semana é novamente colaboração de Flávio Tiné ([email protected]), ex-Última Hora, Abril, Estadão e Diário do Grande ABC, entre outros, que se aposentou em 2004 como assessor de imprensa do Hospital das Clínicas de São Paulo. Flávio Tiné Ionaldo e Tiné Ionaldo, o artista explicações sobre seu interesse estão no único livro que escreveu: Esses incríveis heróis de papel, da editora Mater, em que ele conta sua paixão por heróis tipo Tarzan, Flash Gordon, Batman, Fantasma, SuperHomem, Buck Rogers, Hércules e Cavaleiro da Lua, entre outros. Mutatis mutandis, Ionaldo foi durante muito tempo meu herói, na medida em que me introduziu na vida paulistana, quando fui obrigado a deixar Pernambuco, em agosto de 1964, por razões conhecidas − ou seja, a perseguição da ditadura aos admiradores de Miguel Arraes de Alencar, o melhor governador que o Estado teve e que reelegeu anos depois. Jornalistas&Cia é um informativo semanal produzido pela Jornalistas Editora Ltda. • Diretor: Eduardo Ribeiro ([email protected]–11-99689-2230)•Editorexecutivo: Wilson Baroncelli ([email protected] – 11-99689-2133) • Editor assistente: Fernando Soares ([email protected] – 11-97290-777) • Repórter: Victor Felix ([email protected] – 11-99216-9827) • Estagiária: Hellen Souza ([email protected]) • Editora regional RJ: Cristina Vaz de Carvalho 21-999151295 ([email protected]) • Editora regional DF: Kátia Morais, 61-98126-5903 ([email protected]) • Diagramação e programação visual: Paulo Sant’Ana ([email protected] – 11-99183-2001) • Diretor de Novos Negócios: Vinícius Ribeiro ([email protected] – 11-99244-6655) • Departamento Comercial: Silvio Ribeiro ([email protected] – 19-97120-6693) • Assinaturas: Armando Martellotti ([email protected] – 11-95451-2539)

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