Jornalistas&Cia 1431

Edição 1.431 página 2 n A Justiça de São Paulo condenou o pastor Silas Malafaia a pagar uma indenização de R$ 15 mil à jornalista Vera Magalhães, apresentadora do programa Roda Viva, da TV Cultura, por danos morais e propagação de fake news. Malafaia ainda pode recorrer. u Em 2022, Malafaia disse nas redes sociais que Vera recebia R$ 500 mil por ano do então governador João Doria para publicar ataques ao ex-presidente Jair Bolsonaro. “Entendeu? Doria começou a bancar a jornalista que ataca o presidente em todo o tempo”, escreveu o pastor. A jornalista entrou na Justiça contra Malafaia, afirmando que as declarações do pastor eram falsas e que tinham o objetivo de cercear o trabalho e a liberdade de imprensa. Vera comprovou na Justiça que o salário recebido é muito inferior aos valores divulgados na fake news. u No processo, Malafaia defendeu-se afirmando que não ofendeu a jornalista e que “apenas exerceu seu direito de crítica”. Além disso, o pastor disse que, em relação aos valores divulgados, foi induzido a erro por um vídeo gravado por deputados estaduais, e que corrigiu o erro posteriormente. Porém, a juíza Maria Bertoldo não aceitou a argumentação do pastor. Na sentença, ela declarou que “o réu agiu com manifesto abuso de direito” e que ficou caracterizado o dano moral, pois o pastor usou os meios digitais para divulgar informações erradas sobre a jornalista, sobretudo em relação ao alegado vínculo político. Justiça condena Silas Malafaia a indenizar Vera Magalhães por fake news Vera Magalhães Reprodução/Twitter A jornalista n Para mim, como jornalista, esse momento está sendo duplamente difícil. Como ser humano, é difícil lidar com a ansiedade, a tristeza, o desespero, o luto nacional que se passa agora. Sou brasileira e também tenho nacionalidade israelense, então sinto a dor dos israelenses. Mas, por outro lado, como jornalista brasileira, sinto que tenho que mostrar isso para o público brasileiro. Mas, desta vez, confesso que não estou conseguindo, no escopo que eu gostaria, ou que faria talvez há dez ou 20 anos. u Por dois motivos. Primeiro, há cinco anos eu praticamente larguei a profissão por falta de trabalho aqui. Os coleguinhas que trabalham comigo sabem o quanto lutei e quanto foi difícil para mim, em termos financeiros mesmo, de vida, pagar as contas com trabalhos jornalísticos. Depois de 2016, perdi os meus trabalhos quando começou a crise econômica no Brasil. Em 2015-2016, não tinha quase nenhum. Eu tinha trabalhado 12 anos com a GloboNews direto, e perdi esse trabalho porque não tinham mais orçamento. O Globo também não. Depois a Folha de S.Paulo me contratou e, um pouquinho mais tarde, parou por falta de orçamento. u Então eu, há praticamente uns cinco anos, deixei o jornalismo para fazer uma mudança profissional e me sustentar. Infelizmente, porque minha alma é de jornalista. Hoje em dia, trabalho numa startup em Tel Aviv. Nesse momento, vejo os jornais, revistas, rádios, sites de internet, todo mundo me procurando para eu dar um depoimento, falar alguma coisa, entrar ao vivo, escrever alguma coisa. Muita gente quer me contratar, quer me dar frila, num momento em que eu agora não posso, não tenho mais disponibilidade. u Estou num momento de grande dilema profissional: largo meu trabalho, que paga minhas contas, para cobrir esse ataque terrorista horroroso – talvez o pior ataque terrorista que o mundo viu desde o 11 de Setembro – ou simplesmente deixo meu instinto jornalístico de lado e continuo nos meus trabalhos normais, que não são jornalísticos. Nesse momento, a minha decisão é por essa segunda opção. Durante sábado e domingo, os dois primeiros dias, fiz entradas ao vivo na CNN Brasil, até na CNN Portugal, na GloboNews, na CBN, escrevi algumas coisas, falei com o pessoal da Folha, mandei informações. Tudo isso, é claro, sem pagamento. u Na segunda-feira, decidi dar adeus ao meu instinto jornalístico e voltar para minha vida de pessoa que precisa sobreviver e que precisa também lidar com sua saúde emocional e a da filha, e cada vez menos faço coisas relacionadas com jornalismo. Ainda trabalho como correspondente do Instituto Brasil-Israel; faço textos, vídeos, mas vou ficar mais ou menos só com isso. É uma tristeza para mim, porque gostaria de estar muito ativa neste momento. É muito importante, mas não tenho capacidade e disponibilidade, nem financeira nem emocional, para isso. u Acho que a imprensa brasileira esqueceu Israel por algum tempo. Talvez haja só uma correspondente da GloboNews, que está aqui porque é casada com um diplomata, e nem vai ficar por muito mais tempo. Todos os jornalistas que trabalhavam aqui deixaram a profissão, por falta de possibilidade de sobreviver. Portanto, neste momento, quando acontece algo aqui, não tem ninguém. Todos os canais de TV, rádios, jornais estão tentando mandar alguém para cá, porque também está difícil pegar voo, ou contratar alguém para fazer matérias. u Eu digo para todos esses canais, para toda a imprensa brasileira: me desculpa, mas vocês estão colhendo o que plantaram. Infelizmente, neste lugar importantíssimo do mundo, do Oriente Médio, não tem nenhum jornalista nesse momento. Posso contar nos dedos de uma das mãos os que estão ativos e eu, infelizmente, estou praticamente inativa.” Continuação da Capa Últimas

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