Jornalistas&Cia 1433

Edição 1.433 página 30 Tomei emprestado o título desta reminiscência do programa da Rádio Itatiaia, de Belo Horizonte, que foi sucesso absoluto no horário do almoço lá nos anos 1980, bem antes do surgimento das muitas versões televisivas. Polícia é Notícia era apresentado pela legendária repórter policial da emissora Glória Lopes, outrora estrela do teleteatro da TV Itacolomy. Seu bordão “Se não quer aparecer, não deixe que o fato aconteça” é clássico. Ao estilo do paaulistano Gil Gomes, a radialista narrava detalhes de crimes escabrosos que prendiam a atenção do ouvinte. Eu gostava de ouvir tudo aquilo, mas jamais quis fazer parte da cobertura policial, mesmo quando todos meus professores de Jornalismo da PUC Minas repetindo ser esta, juntamente com as jornadas esportivas, a melhor escola de repórteres. Minha carreira foi mesmo construída nos jornais impressos e nas editorias de Economia. Mas o destino tratou de complementar a minha formação profissional como um foca tardio a bater ponto em portas de delegacias, buscando informações sobre marginais violentos e inescrupulosos golpistas com o dinheiro público. Recebi este presente de A Tarde, o grupo noticioso líder da Bahia, na forma de duas pautas, entre os anos de 2007 e 2008, e no papel de correspondente em Brasília. Foi uma experiência valiosa e única. Em dupla com o ousado fotógrafo brasiliense Lúcio Távora, então radicado em Salvador, precisei ficar plantado na entrada da sede da Polícia Federal (PF) na capital federal assistindo ao entra e sai de viaturas, tentando ver de longe o que o pessoal da portaria sempre nos escondia e ouvindo os bastidores de advogados. Toda aquela agitação no fim de novembro de 2007 se devia a 18 presos pela Operação Jaleco Branco, todos trazidos da Bahia em jatos para cinco dias de interrogatórios e de prisão temporária. Delegados da PF apuravam esquema n O texto desta semana é novamente uma colaboração de Sílvio Ribas ([email protected]), jornalista, escritor, consultor em relações institucionais, correspondente da Gazeta do Povo no Senado Federal. Silvio Ribas Polícia é notícia! tocado por políticos e empresários dos ramos de prestação de serviços de conservação, limpeza e segurança com a cumplicidade de servidores públicos durante dez anos, para fraudar licitações da Prefeitura de Salvador e da Universidade Federal da Bahia (UFBA). O Ministério Público Federal (MPF) acusava a quadrilha de formar cartel, usar empresas de fachada e superfaturar contratos emergenciais. Os desvios somavam centenas de milhões de reais. Foram 20 mandados de prisão e outros 40 de busca e apreensão na Bahia. Entre os detidos estavam um expresidente da Assembleia Legislativa e então presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), um expresidente do Esporte Clube Bahia e ex-deputado estadual, e um ex-procurador do estado. A ação mobilizou 200 agentes. A Jaleco Branco projetou a relatora do caso, ministra baiana Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no cenário nacional. Para mim, aquilo foi um ensaio do que veríamos sete anos depois, quando a Lava Jato tomou as manchetes da imprensa. Com a missão de responder à tagarela pergunta sobre “quem matou o dono do Bargaço”, uma rede de restaurantes especializada em pescados e culinária baiana espalhada pelo País, acompanhei entre abril e junho de 2008 as investigações da Polícia Civil do Distrito Federal que identificaram como autor do crime o gerente em Fortaleza do assassinado Leonel Evaristo da Rocha. Ele matou o patrão na BR 450, próximo da cidade de Candangolândia (DF), com três disparos à queima-roupa, temendo sofrer represálias após seus desfalques terem sidos descobertos. Nessa empreitada, novamente em companhia de Lúcio Távora, fiz então plantões na 11ª delegacia da Polícia Civil, no Núcleo Bandeirante, cidade satélite a 30 quilômetros da Praça dos Três Poderes. A morte do “embaixador da comida baiana” repercutiu em diferentes partes do País. A cobertura da investigação policial por A Tarde rendeu a minha única matéria publicada em O Globo, graças a um acordo de intercâmbio de conteúdo entre o jornal carioca e o grupo baiano. Valeu, A Tarde! Lúcio Távora

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