Jornalistas&Cia 1433

Edição 1.433 página 5 Malu Weber Comunicação Corporativa Aberje sob nova direção Malu Weber: “O que vejo para o futuro é um ambiente de contínua colaboração, principalmente diante dos temas divergentes” n Recém-empossada presidente do Conselho Deliberativo da Aberje, em mandato próprio, Malu Weber é a terceira mulher a conduzir os destinos da mais importante entidade de comunicação empresarial da América Latina, cargo que ocupa em paralelo com o de sua atuação principal: diretora executiva de Comunicação Corporativa do Grupo Bayer, onde também é membro do board de Negócios Brasil e do time de Liderança Global de Comunicação. u Nesta entrevista a J&Cia ela fala dos desafios de liderar o Conselho dessa entidade de referência, com mais de meio século de vida e hoje uma referência internacional. Também revela seu olhar sobre o atual estágio da comunicação corporativa no Brasil e dos desafios que estão no radar. E abre seu coração sobre como foi encarar um difícil ano pessoal, em que perdeu o esposo, tendo de passar praticamente 300 dias num quarto de UTI. Jornalistas&Cia – Sua primeira declaração, ao ser confirmada presidente do Conselho Deliberativo da Aberje, agora em mandato próprio, foi de que iniciava a nova jornada com muito mais perguntas que respostas. Para onde crê que os ventos sopram hoje na comunicação corporativa e quais os planos e ações para esse futuro próximo? Malu Weber – Sem dúvida, a gente já viveu a era das respostas, em que era esperado das áreas de comunicação, de seus profissionais e das companhias, apontar os caminhos e as direções a serem seguidas; agora, estamos vivendo a era das perguntas. Em tempos de IA generativa, big data e análise preditiva, saber fazer as perguntas corretas é o único meio de encontrar as respostas. Além disso, eu acredito muito no poder da escuta ativa. Minha carreira me ensinou lições valiosas ao longo do tempo. Iniciar algo novo com a prontidão de ouvir, acolher sugestões e colaborar no desenvolvimento conjunto é um caminho muito mais seguro, porque trilhar caminhos solitários quase sempre nos leva ao fracasso. É importante entender o que é valor para o outro: seja ele o associado, a sociedade ou a própria Aberje. A partir dessa compreensão, podemos, de forma coletiva, elaborar um planejamento que agregue valor, assumindo papéis de liderança e responsabilidade compartilhada. Outro ponto de partida fundamental é a identificação das necessidades e expectativas de nossos públicos, sendo este um primeiro passo para continuarmos evoluindo e trazendo relevância para a nossa associação e para todos que fazem parte dela. J&Cia – Numa atividade em que há nítido protagonismo e predomínio feminino, você é, em 57 anos de existência da Aberje, apenas a terceira mulher a ocupar a Presidência do Conselho. Antes foram a pioneira Elisa Vannuccini, nos anos 1970 e 1980, e mais recentemente Gislaine Rossetti. Curiosamente, a primeira diretoria da entidade, no período 1967-1970 tinha 12 integrantes e nenhuma mulher. Na segunda, já havia uma, Eliana Neves Athayde; e na terceira, três, as duas mais Elisa Vannuccini. Olhando hoje, a comunicação corporativa tem muito mais mulheres no andar de cima das organizações, na liderança. Você considera que, na nossa atividade, a questão de gênero já seria uma coisa resolvida, na comparação com outros setores da atividade econômica? Malu – Não está resolvido. Estamos em uma jornada evolutiva em busca da diversidade e ainda temos muito a caminhar nesse sentido. Isso é muito maior do que apenas a nossa atividade econômica. Não basta estar em uma posição de relevância; é necessário ser relevante. Isso requer o estabelecimento de uma voz respeitada e ouvida, com a mesma influência e consideração. Esse processo é construído ao longo do tempo, estabelecendo relações de confiança e cultivando aliadas e aliados em nossa trajetória. Requer também uma determinação inabalável diante das derrotas, e é por isso que gosto tanto do esporte – que me fez (e continua fazendo) entender, por mais doído que seja, que as derrotas fazem parte do aprendizado. Um dia desses li que é muito melhor nos arrependermos do que fizemos do que daquilo que não fizemos. Se o resultado não foi bom, que a gente aprenda com ele. E o que ainda não fizemos, que façamos, com coragem, determinação e nos perdoando mais rapidamente, evitando autocríticas excessivas quando cometemos erros. Ainda nesse tema de equidade de gênero, entendo que uma das frentes que precisamos avançar é na sororidade entre as mulheres. Ainda vejo muita competição feminina e isso precisa acabar de vez. Precisamos ter um pacto real de uma subir e puxar a outra. Não se trata de excluirmos os homens, ao contrário. Eles precisam ser nossos aliados nessa evolução. Trata-se de sermos mais generosas umas com as outras. J&Cia – Você assumiu a Presidência temporária, para cumprir o restante do mandato de Nelson Silveira, vivendo um problema pessoal terrível de saúde em família, que culminou com o falecimento de seu esposo. Como foi enfrentar essa imensa carga de emoções e que legados ela deixa na pessoa e na executiva? Malu – Vivemos uma montanha-russa de emoções durante 300 dias, morando num quarto de UTI, de 17 de agosto de 2022, quando Celestino teve um AVC hemorrágico, até 29 de junho de 2023, quando um fungo agressivo abateu um corpo já fragilizado (candidemia), e ele não resistiu. Tivemos o privilégio de poder nos cercar dos melhores médicos e de uma equipe formada por tantos especialistas, que não só cuidaram do meu marido, mas também de mim e da nossa família. A começar pelo meu irmão, psiquiatra, que esteve comigo em todos os momentos mais dramáticos dessa jornada, e minhas cunhadas Vania e Bernardete, que revezavam comigo e com o Pedro (nosso filho) no hospital. Tudo se tornou mais leve com um time empoderado na Bayer, que tinha autonomia e competência de entregar resultados excepcionais durante a minha ausência; aos colegas e amigos que estavam sempre a postos para nos socorrer; e à própria Bayer, que me apoiou (e me apoia) incondicionalmente em todos os sentidos, tanto os

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