Jornalistas&Cia 1433

Edição 1.433 página 6 colegas do RH quanto meus líderes, Michael Preuss e Malu Nachreiner, que me mostraram na prática os valores inegociáveis da companhia e o cuidado com a sua gente. O maior legado que fica, do momento mais dramático e doloroso pelo qual passei até aqui, é esse mesmo: a importância do cuidar, de estabelecer relações genuínas, de viver o hoje com entusiasmo, de ter ao seu lado pessoas que são competentes e verdadeiramente humanas. Ver o ser “efetivo e afetivo”, de que tanto temos falado, fazendo sentido de forma tão plena em minha vida. Sem falar na gratidão pelos 35 anos de convivência com a pessoa mais generosa e cuidadora que já conheci, e pelo legado que ele nos deixou e que vamos continuar colocando em prática, vivenciando o luto a cada dia, sem fazer de conta que já está tudo bem. J&Cia – J&Cia, em sua edição de aniversário de 28 anos, abriu suas páginas para mostrar a influência marcante do jornalismo e dos jornalistas na atividade da comunicação corporativa no Brasil. E o fez, quase que na forma de um editorial, mostrando que essa influência − que se vê em quase todas as ações de empresas e agências sob o império do conteúdo, da ética, da transparência, da linguagem etc. − tornou a nossa escola única no mundo, diferenciada, amalgamada efetivamente com o jornalismo, cada qual, claro, cumprindo seu papel. Qual a sua avaliação e o que pensa do tema? Malu – Entendo esse amadurecimento do papel da nossa área como o resultado de um conjunto de fatores, a começar pela preparação de quem ocupa hoje a área de comunicação. Estamos também mudando o conceito de sucesso da área. Deixamos de ser meros produtores de conteúdo de um jornal interno no passado para ocupar uma posição estratégica de conselheiros, facilitadores e conectores, ajudando na construção de relacionamentos de valor, conhecendo o que é relevante para o negócio, para a sociedade e para os públicos com os quais interagimos. Eu me lembro que tinha apenas 12 dias de Bayer quando a empresa lançou a primeira edição do programa de trainees exclusivo para negros no Brasil, e fomos acusados de “racismo reverso” por parte da sociedade. Nosso papel foi de ouvir nossas diversas áreas, entender as acusações infundadas, influenciar a organização de que deveríamos nos posicionar de forma contundente para dentro e para fora (trazendo todos os argumentos que endossavam nossa orientação) e construir a estratégia de comunicação a várias mãos, certificando-nos de que estávamos seguros com a recomendação que estávamos fazendo. É o protagonismo e a responsabilidade compartilhados em que tanto acredito. Nesse cenário, a nossa relação com os jornalistas continua − e sempre continuará − sendo muito relevante. Vejo que hoje existe uma troca muito melhor, mais ampla e colaborativa nesse ecossistema. Muitos paradigmas foram quebrados ao longo dos anos. A ética de todos os profissionais envolvidos, mais do que nunca, tem sido a grande balizadora dessas relações. E a disposição para contribuir e colaborar dos dois lados. É um ambiente muito mais saudável e de muito potencial. J&Cia – Como você e a Aberje pensam o futuro próximo desse grande ecossistema de comunicação, que envolve as áreas internas de comunicação das empresas, o setor público em toda a extensão dos Três Poderes e das esferas federal, estaduais e municipais, mais as agências, o marketing digital, a publicidade e as áreas afins internas, como compliance, RH, Jurídico? Malu – É um ecossistema realmente muito poderoso e potente, que precisa ser pautado pela ética nas relações e por uma governança eficiente, fluida e transparente. Não podemos ser ingênuos ao falar de um ecossistema tão amplo. Existem interesses específicos de todas as partes. Às vezes convergentes e outras, divergentes. Essa é a realidade das relações. Mas o que vejo para o futuro é um ambiente de contínua colaboração, principalmente diante dos temas divergentes. Nas diferenças é preciso uma abordagem também colaborativa e de escuta para que todas as partes ataquem os desafios, e não umas às outras. A comunicação é fundamental nessas relações e no estabelecimento dessas práticas de mais abertura e troca. Além disso, a tecnologia está cada vez mais em nossas mãos, para que possamos facilitar que isso ocorra de modo mais fluido e com menos entraves. E, claro, precisamos acompanhar tendências de mercado e buscar maneiras de trazer cada vez mais valor para a organização. E isso significa estimular a provocação, o questionamento e a construção de um ambiente produtivo e de escuta ativa, onde todas as pessoas sejam valorizadas, sem distinção de cargos, mas respeitando a diversidade de opiniões, vivências e saberes. Independentemente de hierarquias, desde o estagiário até o diretor, todos devem sentir-se acolhidos e confiantes para expressar ideias, provocar debates, questionar, discordar quando necessário e liderar. É essencial mantermos a flexibilidade e estarmos dispostos a adotar mudanças saudáveis, que contribuam para o progresso e a evolução contínua das organizações. Estou muito animada diante das possibilidades que estamos contemplando para o futuro próximo. J&Cia – Como vê o papel das organizações e da comunicação corporativa no combate ao discurso de ódio, no fortalecimento da democracia, no arrefecimento da tão nefasta polarização política? Temos um caminho por aí? Malu – Precisamos ter esse caminho. Mais do que nunca, é preciso utilizar esse lugar de influência da comunicação corporativa para criarmos uma comunicação que seja verdadeiramente inclusiva. Ser inclusivo significa explicar o que ainda não foi plenamente entendido, trazer abordagens mais humanas e quebrar silos com respeito e com a intenção de educar. Hoje, principalmente nas redes sociais, existem fórmulas prontas para você ganhar relevância digital rapidamente, mas muitas vezes elas incluem escolher um lado da polarização e crescer a partir dele. Não é nisso que eu acredito e não é isso que nenhum comunicador responsável deveria fazer. A comunicação tem um papel de esclarecimento e de conciliação. Precisamos construir pontes em vez de atear fogo. O papel da comunicação no combate a qualquer tipo de conitnuação - Comunicação Corporativa

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