Edição 1.435 página 16 Por Assis Ângelo PRECIO SIDADES do Acervo ASSIS ÂNGELO Contatos pelos [email protected], http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333 O cordelista baiano Franklin Maxado é também cheio de onda. Inspiradíssimo, é autor de pelo menos duas centenas de folhetos. Em A fã nortista que pariu do fantasma do cantor, Leandro de Goianópolis conta a história de uma indígena que se apaixona perdidamente por Leandro, cantor sertanejo que fazia dupla com Leonardo. Escreve o autor: Já vi coisas neste mundo Que fazem Deus duvidar Já contei como um jumento Em um homem foi virar Mas essa de mulher parir Dum fantasma é de lascar! Klévisson Viana, o mais jovem dentre os cordelistas até aqui citados, tem uma obra respeitável que aborda todos os temas possíveis. Já abordou temas que vão da fantasia à realidade reflexiva. Um dos seus folhetos, A quenga e o delegado, chegou à telinha da Globo. Em O cantor e a meretriz ou A puta que comia fotos do ídolo, ele conta as aventuras e tristezas da personagem a que se refere no título. Do fértil campo da cultura popular fazem parte também os poetas repentistas Cego Aderaldo, Rogaciano Leite, os irmãos Batista (Dimas, Louro e Otacílio), Sebastião Marinho, Ivanildo Vila Nova, Oliveira de Panelas e muitos e muitos do passado e do presente. A Panelas é atribuída a autoria do poema “nordestino” A rôla após os 60 anos. Pois bem, José Ramos Tinhorão voltou sua atenção à cultura como um garimpeiro em ação. O interesse dele estendia-se a temas variados, como o sexo. Em 1954 foi buscar na França um cidadão a quem até então nenhum brasileiro dera bola: Rétif de la Bretonne. Bretonne foi um cara que viveu entre os anos 1734 e 1806. Tinha uma visão ampla do mundo e das pessoas. Contemporâneo de Giacomo Girolamo Casanova (1725-1798) e de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), foi por muitos considerado portador de duas loucuras, e não só uma, como a maioria dos homens: a grafomania e a erotomania. A obra de Nicolas Edme Rétif de La Bretonne, por sua originalidade, foi considerada superior à de muitos intelectuais de seu tempo, como Rousseau. A curiosidade de Tinhorão o levou ao século 18 francês. Lá deitou e rolou, extasiando-se diante do conhecimento impresso numa Licenciosidade na cultura popular (XXXIV) (Continuação do texto iniciado em J&Cia 1.434) Franklin Maxado quantidade enorme de livros de Bretonne. Em artigo intitulado Rétif de La Bretonne, publicado no dia 29 de agosto de 1954 no extinto Diário Carioca, já no segundo parágrafo o nosso jornalista e historiador escreve: “Nicolas Edme Rétif de La Bretonne (....) é um dos mais completos retratadores sociológico-amorosos da vida íntima do século XVIII, em nada desmereceu tal classificação. Principalmente quando se pensa nos 203 volumes das 49 obras que editou, e no número de suas filhas, por ele mesmo estimado em 150”. Bretonne era, definitivamente, um louco cheio de bom juízo. Não à toa foi comparado a tantos grandes filósofos e a autores diversos que atuavam no seu tempo. Não há como desconhecer o talento de um Casanova, por exemplo, e de um Rousseau. Casanova, além de um grande sedutor, foi escritor de talento. Rousseau, por sua vez, teve influência e influenciou o poeta e filósofo Voltaire. Mais: um dos seus livros, O contrato social, serviu de inspiração para pôr fim à Bastilha. Aliás, não custa lembrar que Voltaire chegou a cumprir pena na Bastilha, como Baudelaire e Sade. O Marquês de Sade, título honorífico de Donatien Alphonse François de Sade (1740-1814), foi um devasso na vida pessoal e como escritor publicou vários romances. Uma vez Bretonne disse que “é um trabalho doloroso o de escrever. Não viesse ele algumas vezes acompanhado de prazer, e estaria acima das forças do homem”. Ao sacar esse achado, entusiasmado, Tinhorão decifrou a aparente incógnita do antenado filósofo: “...É, pois, o próprio Rétif de La Bretonne quem nos fornece a chave para a compreensão da psicologia de todos os eróticos e de todos os artistas, e dos quais ele representou a síntese perfeita. É que a consumação do amor carnal e a busca da perfeição artística, em si, como finalidades últimas de uma espécie de fatalismo da sensibilidade, nunca são alcançadas sem o travo da frustração e da angústia, muito superiores, na verdade, às forças do homem ”s’il n’était qualquer fois accompagné de plaisir’”. (continua em J&Cia 1.536) Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora Diário Carioca
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