Jornalistas&Cia 1435

Edição 1.435 página 32 seria descuidado para deixar ao alcance de jornalistas um documento que quisesse manter em sigilo. A performance de afastar sofás e retirar almofadas, pessoalmente, também não condizia com a pose habitual do ministro. Enfim, a divulgação do projeto sem que aparecesse ao vivo e em cores – afinal, o texto poderia até ser apócrifo, pois nem estava assinado – era conveniente demais para Petrônio. Mesmo assim, a versão oficial nunca foi contestada. Mas ao menos Orlando Brito sempre ria muito quando falava da história. “Claro que o Petrônio sabia”, confirmava. Etevaldo Dias nega. Acha que Orlando Brito se prendia a episódio anterior, quando Petrônio Portella mostrou documentos ao time do Globo, fingiu que ia ao telefone e abriu espaço assim para que o próprio Brito os fotografasse. Para Etevaldo, não haveria como deixar que o texto da anistia escapasse, até porque tinha anotações a mão, provavelmente do general Golbery do Couto e Silva e do próprio ministro da Justiça. O grande vitorioso de toda essa história foi Petrônio Portella. Se ele tivesse anunciado pessoalmente os termos do projeto, ficaria exposto e enfrentaria reação dos militares. Sabese lá o que aconteceria no Conselho de Segurança Nacional, repleto de militares. Ao final das contas, a reação foi muito branda e não atingiu o ministro. A oposição, é claro, chiou. Ao ser colocado o texto em votação no Congresso, o senador Teotônio Vilela alegou que se tratava de uma injustiça, pois “excluiria tiranicamente 95% dos que têm direitos lesados”. Em resposta, o governista Jarbas Passarinho disse que apenas 60 pessoas ficariam fora da anistia. Na verdade, nem isso. A Lei de Anistia foi sancionada pelo general Figueiredo em 28 de agosto de 1979. O último preso político, José Sales de Oliveira, foi solto no dia 9 de outubro de 1980. O ex-deputado Márcio Moreira Alves, ele próprio um perseguido e condenado, explicou: “Quando os primeiros presos políticos começaram a sair das prisões, nem se sabia bem quem havia cometido ou não ´crime de sangue´, e houve uma pressão política tão grande, inclusive na Câmara dos Deputados, que era impossível ao governo resistir. E acabou a anistia sendo, como de saída deveria ter sido, ampla, geral e irrestrita”. Os tribunais reduziram as penas dos poucos que não haviam sido liberados. Nas semanas que se seguiram à sanção da Lei da Anistia, os exilados começaram a desembarcar no Brasil. Leonel Brizola, Miguel Arraes, Luiz Carlos Prestes, Francisco Julião, Betinho, Paulo Freire e muitos, muitos outros. Isso, claro, teve imediatos efeitos políticos. Ainda em 1979, outro lenço de papel extinguia as duas ficções partidárias criadas pelos militares, a Arena e o MDB. Houve imediata fragmentação política, pois as camisas de força eleitorais se romperam e muitos dos líderes retornados criaram seus próprios partidos. Era tudo parte da estratégia de Petrônio Portella. Moderados do MDB e minorias da Arena criaram o Partido Popular, que se tornou uma terceira força. Mais tarde seus integrantes, mesmo desistindo do PP, ajudariam a derrubar as Diretas Já. Com isso, os militares do Planalto conseguiram manter o controle da abertura política e até mesmo obter uma solução palatável para a volta dos civis ao poder. Encerrada a sequência de projetos, o ministro Petrônio Portella tornouse o franco favorito para chegar à Presidência na sucessão de Figueiredo. Estava tudo pronto para isso. Mas, no início de 1980, Petrônio foi a Santa Catarina para uma reunião política que julgava importante. Passou muito mal, com enjoos e fortes dores no peito. Retornou a Brasília em jatinho da FAB e se recusou a seguir para hospital. Sabia que fragilidade de saúde poderia cortar aspirações presidenciais. Tentou se curar em casa. Morreu de enfarte em 6 de janeiro de 1980. Tinha apenas 54 anos. Reabriu-se a sucessão. Merval Pereira Wikipedia Orlando Brito Jornalistas&Cia é um informativo semanal produzido pela Jornalistas Editora Ltda. • Diretor: Eduardo Ribeiro ([email protected]–11-99689-2230)•Editorexecutivo: Wilson Baroncelli ([email protected] – 11-99689-2133) • Editor assistente: Fernando Soares ([email protected] – 11-97290-777) • Repórter: Victor Felix ([email protected] – 11-99216-9827) • Estagiária: Hellen Souza ([email protected]) • Editora regional RJ: Cristina Vaz de Carvalho 21-999151295 ([email protected]) • Editora regional DF: Kátia Morais, 61-98126-5903 ([email protected]) • Diagramação e programação visual: Paulo Sant’Ana ([email protected] – 11-99183-2001) • Diretor de Novos Negócios: Vinícius Ribeiro ([email protected] – 11-99244-6655) • Departamento Comercial: Silvio Ribeiro ([email protected] – 19-97120-6693) • Assinaturas: Armando Martellotti ([email protected] – 11-95451-2539)

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