Edição 1.439 página 27 Por Assis Ângelo PRECIO SIDADES do Acervo ASSIS ÂNGELO Contatos pelos [email protected], http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333 Fora a música, a temática aqui abordada estende-se pelas áreas mais diversas da cultura popular. No campo da literatura de cordel, o primeiro autor a escrever e a publicar um folheto narrando o cotidiano de um bordel foi o paraibano Leandro Gomes de Barros. Título: Meia Noite no Cabaré. Depois de Leandro, inúmeros cordelistas escreveram sobre o assunto. Exemplos: Velório no Cabaré, de Antonio Leite; O Velho no Cabaré, Tiago Monteiro; O Pau-de-Sebo no Cabaré de Tumbaúba, Marco Di Aurélio; Lampião no Cabaré do Oscar Frota, Lucarocas; A Deusa do Cabaré, Adalgiso de Oliveira; O Rufião Broxa Que Não Largou o Vício de Ficar na Rua Com Prostitutas, K. Gay Nawara; ABC da Meretriz, Bonelfo Coelho Cavalcante. O pernambucano de Bezerros J. Borges é o mais longevo, criativo e reconhecido xilogravador do Brasil. Suas xilos já ilustraram inúmeros livros de autores nacionais e estrangeiros, como Eduardo Galeano (1940-2015). Além de xilogravador consagrado mundo afora, Borges estende o seu talento no campo da literatura popular. Entre tantos folhetos que já publicou, destaque para A Chegada da Prostituta no Céu. Já no começo desse folheto, Borges escreve: Do rosto da poesia Eu tirei o santo véu E pedi licença a ela Para tirar o chapéu E escrever a chegada Da prostituta no céu Sabemos que a prostituta É também um ser humano Que por uma iludição Fraqueza ou desengano O seu viver é volúvel Sempre abraça ao engano Em 1975, a diretora de cinema Tânia Quaresma (1950- 2021) assinou o longa Nordeste: Cordel, Repente e Canção. Nesse filme − uma pérola do gênero − aparecem os ainda iniciantes Zé Licenciosidade na cultura popular (XXXVIII) (continuação de J&Cia 1.437 e 1.438) Ramalho e a dupla de emboladores Caju e Castanha. Aparece também o poeta e rabequeiro Cego Oliveira (1912-1997), interpretando um verdadeiro clássico da poesia popular. Um trecho: Estava cantando em Goiânia Na casa de um amigo Quando uma mulher mundana Chegou pra falar comigo... Por Deus escreva um poema Relativo ao meu dilema Na Porta dos Cabarés Deixei a casa paterna Com 15 anos de idade Para viver na taverna De escândalo e vaidade... De chorar tenho razões Sem ter dos meus pais notícias Por pai, por mãe e por irmão Eu tenho somente a polícia... E agora meus senhores Acabei de terminar Hajam de me desculpar... Muita gente já falou a respeito de prostituição, cafetina, rufião, bordel e tudo mais. Isso em tudo em muitas línguas de países pobres ou ricos, livres ou ditatoriais, conservadores e tal. Esse tema tem sido abordado na poesia, no romance, no teatro, no cinema, por aí. Mas uma coisa é literatura, ficção. Outra coisa é a realidade, que quando não mata deixa marcas. A coisa é séria. Em 1982, a Edições Paulinas reuniu estudiosos para exporem suas ideias no livro A Prostituição em Debate. Nesse livro há interessantes artigos, como A Mulher de “Vida Fácil” Numa Conjuntura Difícil, A Prostituição Aspectos Jurídicos, De Canaã a Corinto: o Sexo Explorado, escritos respectivamente por José Alberto da S. Curado, Euclides Benedito de Oliveira e Airton José da Silva. No artigo De Canaã a Corinto, o autor começa assim: “Em face do fenômeno da prostituição, quando abordado teologicamente, uma pergunta logo se impõe: o que diz a Bíblia? Pergunta que vem acompanhada, logicamente, pela necessidade de maiores precisões: era fenômeno conhecido nas épocas do Antigo e Novo Testamento? Como foi visto e tratado pela sociedade israelita e pelos primeiros cristãos? Há na Sagrada Escritura alguma pista para a solução do problema?”. A prostituição em si nunca foi um problema que afetasse de modo negativo todos os povos. Houve em civilizações antigas igualdade entre homens e mulheres no tocante a sexo. Em alguns lugares de antigamente a mulher adúltera era punida com apedrejamento até à morte. No tempo de Cristo, o próprio Cristo partia contra os agressores e a favor das mulheres. No livro História da Prostituição em Todos Os Povos do Mundo Desde A Mais Remota Antiguidade Até Aos Nossos Dias, de 1885, o autor Pedro Dufour dá um mergulho profundo nessa questão, trazendo à tona o comportamento de povos antigos, como os gauleses. Na Galícia, a prostituição era praticada nas sombras das árvores, de modo sutil e distante de olhos indiscretos e era coisa rara. (continua na próxima edição) Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora Assis e xilo de J. Borges Tânia Quaresma LP Nordeste: Cordel, Repente e Canção Cego Oliveira
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