Edição 1.440 página 13 Por Assis Ângelo PRECIO SIDADES do Acervo ASSIS ÂNGELO Contatos pelos [email protected], http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333 Em 1978, eu era repórter da Folha. Pelo suplemento dominical desse jornal, Folhetim, fui às ruas, apartamentos e bordéis para ouvir e registrar histórias vivas ocorridas com prostitutas de idades diversas, com atuação na Capital paulista. Foram depoimentos incríveis, tocantes. Para formar a reportagem intitulada A luta eterna das damas da calçada, publicada na edição de 4 de dezembro da Folha, ouvi o então delegado-geral de polícia Tácito Pinheiro Machado e até um rufião famoso chamado Hiroito Joanides (1936-1992). Este, anos depois publicaria um livro contando suas origens e trajetória criminosa na “boca do lixo” paulistana, local de tudo quanto é crime até os dias de hoje. Ah! Sim, ia me esquecendo de dizer que já nos anos de 1970, antes até, São Paulo tinha uma área mais ou menos especial em que prostitutas e travestis praticavam o comércio sexual. Isso, aliás, é recordado por Hiroito: “O comércio sexual saiu da periferia e alcançou rapidamente vários pontos do centro da cidade”. Em 1992, o vereador Zé Índio apresentou projeto na Câmara para “confinar” prostitutas, travestis e tal. O local em vista era o Sambódromo. Houve uma gritaria dos infernos. A população reclamou e depois de tanto reclamar o vereador recuou dizendo que “sou o autor do projeto e não quero que algo assim tenha qualquer ligação com o Sambódromo. Essa área deve ser criada em lugares afastados da cidade”. Mas aí já era tarde. O extinto jornal paulistano Notícias Populares, em manchete de 1ª página na edição de 4 de dezembro de 1992, estampou: São Paulo ganha o 1º putódromo − Sambódromo vira bordel!. Fica o registro. Essa reportagem, que à época provocou polêmica, compartilho com vocês a partir de agora. A rua dos destinos Desgraçados faz medo O vício estruge Ouvem-se os brados Da danação carnal... “Tenho dois filhos, um menino e uma menina. Ambos são lindos. A garotinha, hoje com 13 anos, quer ser médica. Vou fazer o possível e até o impossível para que ela seja médica. Se sou, ou fui, uma senhora casada? Não. Cai na realidade aos 13 anos, no interior da Bahia. Nem sei quem é, ou quem são os pais dos meus filhos” − Elvira Baiana Lopes de Almeida, 40 anos, em São Paulo desde 1957. É a meretriz que De cabelos ruivos bramando Ébria e lasciva hórridos Uivos na mesma esteira Pública recebe entre Farraparias e esplendores O erotismo das classes Superiores e o orgasmo Bastardissimo da plebe! Licenciosidade na cultura popular (XXXIX) (continuação de J&Cia 1.437, 1.438 e 1.439) “Outro dia eu fui atropelada por uma viatura policial. Umas pessoas que passavam na ocasião pelo local me levaram à Santa Casa de Misericórdia. Agora, em consequência do acidente, estou usando um pedaço de platina nos joelhos” − Maria Reis Bento da Silva. É ela que aliando à luz Do olhar protervo o indumento Vilissimo do servo ao brilho Da augustal “toga pretexta” Sente alta noite em Contorções sombrias Na vacuidade das entranhas frias O esgotamento intrínseco da besta! (“A Meretriz”, Augusto dos Anjos) A Secretaria da Segurança Pública e a Delegacia Geral de Polícia de São Paulo não sabem informar o número de prostitutas em atividade na cidade, mas calcula-se que pelo menos 250 mil mulheres vivam da comercialização do próprio corpo, muitas delas, inclusive, de menor idade. O Juizado também não tem números precisos. Há muitos anos, elas viviam numa espécie de confinamento, no bairro do Bom Retiro. Mas, lembra um dos antigos “reis” da Boca do Lixo, Hiroito Joanides (autor de Boca do Lixo) − hoje, na medida do possível, um cidadão de respeito −, “empurradas pela repressão policial, as prostitutas foram subindo as avenidas principais, no sentido cidade-bairro. Desde a praça Júlio Mesquita estendeu-se a prostituição pela av. São João acima, até alcançar e subir pela Av. Angélica. No fim desta, ramificou-se parte dela dobrando à direita, seguindo o curso da Av. Dr. Arnaldo, enquanto a outra parte, que dobrara à esquerda, seguira pela av. Paulista. Uma terceira ramificação ainda metia-se pela Av. Rebouças, passando desta para a av. Brasil, República do Líbano e parque do Ibirapuera. Uma outra corrente, que desde a praça Júlio Mesquita descera a av. São João rumo ao centro da cidade, se estenderia à praça do Correio, não sem antes bifurcar- se na av. Ipiranga, por onde seguiria até a rua da Consolação e, por esta, até a av. Paulista. Era esse o cenário da prostituição em São Paulo, já no ano de 1970”. (continua na próxima edição) Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora Hiroito Joanides
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