Jornalistas&Cia 1441

Edição 1.441 página 10 100 ANOS DE RÁDIO NO BRASIL Por Álvaro Bufarah (*) (*) Jornalista e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e do Mackenzie, pesquisador do tema, integra um grupo criado pela Intercom com outros cem professores de várias universidades e regiões do País. Ao longo da carreira, dedicou quase duas décadas ao rádio, em emissoras como CBN, EBC e Globo. Há alguns anos, o Spotify tomou a decisão audaciosa de conquistar o universo do podcasting, movendo-se do mercado musical, que era dominado pelo iTunes, para o do streaming por assinatura. Investindo US$ 1 bilhão nessa missão, a gigante sueca recentralizou suas ambições em torno dos programas de áudio em formato de podcast, tornando-se o player dominante. Para consolidar sua presença, o Spotify adquiriu três empresas de mídia e podcasting: a Ringer, especializada em podcasts de Bill Simmons, e os estúdios de podcast Gimlet e Parcast. Além disso, a empresa fechou contratos milionários com renomados podcasters, como Joe Rogan (US$ 200 milhões), Call Her Daddy (Alex Cooper), Kim Kardashian (valor não divulgado), Barack e Michelle Obama (US$ 20 milhões) e até mesmo Harry e Meghan (US$ 60 milhões). Apesar de despesas significativas, o Spotify registrou seu primeiro lucro no terceiro trimestre deste ano, com um aumento de 137% nas ações desde o início do ano. De certa forma, tudo ia bem. Só que não. A forte entrada da empresa no mercado de podcasts, embora tenha dado lucro no geral, acabou levando a cortes brutais na estrutura da empresa. A instituição demitiu 600 funcionários em janeiro, seguido por um “alinhamento estratégico” em junho, que resultou na eliminação de 200 funções específicas para podcasts. Recentemente, o Spotify anunciou mais 1.500 demissões em todas as divisões, encerrando dois podcasts populares e aclamados pela crítica. Apesar dos desafios enfrentados pela empresa, os dados indicam que o formato de podcasting continua a crescer. Com 130 milhões de americanos ouvindo podcasts mensalmente em 2023, espera-se que esse número salte para 150 milhões até 2027, de acordo com a Insider Intelligence. O tempo dedicado aos podcasts também aumentou significativamente, passando de cerca de quatro horas e meia semanais em 2015 para mais de nove horas por semana atualmente. A receita publicitária do setor acompanha esse crescimento, atingindo US$ 1,8 bilhão em 2022 nos EUA, um aumento de 26% em relação ao ano anterior. Prevê-se que essa receita dobre para cerca de US$ 4 bilhões até 2025, superando o crescimento do restante do setor de publicidade online. Apesar das demissões e cancelamentos de programas em váMercado do podcasting busca novo ponto de equilíbrio rias empresas, incluindo o Spotify, o cenário geral do podcasting permanece positivo. Em entrevista ao portal Slate, Melissa Kiesche, vice-presidente sênior de pesquisa da Edison, destaca que a audiência mensal e semanal atingiu níveis recordes este ano. No entanto, há desafios, especialmente para podcasts de alto custo que não geram lucro proporcional. O setor está passando por uma reavaliação, com a necessidade de diversificação de receitas e uma abordagem mais realista em relação aos custos de produção. Em resumo, embora o podcasting tenha enfrentado turbulências, os dados indicam um crescimento sustentável, levando a crer que a indústria está encontrando um novo equilíbrio após um período de expansão acelerada. Executivos ouvidos pela mídia especializada dos Estados Unidos indicam que os argumentos para os cortes e rearranjo dos custos são vários: fluxos de receita não diversificados, dependência excessiva de programas de prestígio, um mercado frio para propriedades intelectuais relacionadas a podcasts, hesitação de profissionais de marketing e uma grande racionalização das empresas do setor em entender a realidade do mercado − ou seja, embora a audiência dos podcasts continue a crescer, nada poderia tornar lucrativo um acordo de US$ 20 milhões com o ex-casal real (Harry e Meghan). O que está claro é que há um novo normal que se estabeleceu, igual a história de outras empresas de mídia digital que receberam muitos milhões em expectativas irreais de investidores ou proprietários, mas não conseguiram atender financeiramente a estas demandas. De forma geral, 2023 foi o ano em que tiveram de entender como os produtos sonoros nessas plataformas darão lucro de forma sustentável e que algumas das aquisições foram surreais para o tamanho do bolso de cada empresa. (Com dados dos portais Rephonic e Slave) Você pode ler e ouvir este e outros conteúdos na íntegra no RadioFrequencia, um blog que teve início como uma coluna semanal na newsletter Jornalistas&Cia para tratar sobre temas da rádio e mídia sonora. As entrevistas também podem ser ouvidas em formato de podcast neste link. The Conversation

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