Edição 1.441 página 22 Internacionais Vivíamos os primeiros meses de 1959 quando conheci aquele rapaz louro, bem encorpado, que acabara de se mudar com a família para a recémformada vila de Guatapará, distrito de Ribeirão Preto. Viera de uma fazenda ali perto, a cerca de duas léguas, também chamada Guatapará, com 7 mil alqueires e mais de 3 mil moradores, trabalhadores de várias profissões que cuidavam, principalmente, da produção, beneficiamento e exportação de café e laranja. Nessa época nós dois tínhamos feito apenas o ensino primário, eu no grupo escolar da vila, ele no que ainda existia na fazenda, destruída por uma usina e por onde hoje se estende um extenso canavial. Walbercy Ribas Camargo, esse o nome do meu novo amigo, filho de seu Lecy, uma espécie de caixeiro viajante que vendia rádios (a TV já era realidade, mas somente na capital paulista). Nos primeiros meses daquele ano, também, Walb me abriu a porta de seu quarto. Foi então que, na calmaria de uma pacata vila do interior de São Paulo, tive a oportunidade e o privilégio de vê-lo desenhar seus primeiros quadrinhos, tiras que já mostravam os traços de um gênio. Que, como comprovou o destino e confirmou o futuro, acabaria fazendo dele um artista de sucesso. Não muito tempo depois, antes de eu me mudar para Jundiaí e trilhar os caminhos do jornalismo, Walb e a família, agora com a pequena Tâan, recém-nascida, foram embora para São Paulo. O tempo passou, nunca mais nos falamos e então, eu já trabalhando na Redação do Estadão, fui, junto com meus colegas de jornal, surpreendido por uma campanha publicitária dos televisores Sharp. Eram animações geniais, surrealistas, avançadíssimas para a época, produzidas por uma tal de Start, da qual, confessaram todos, ninguém ainda ouvira falar. Aqueles desenhos animados não me saíram da cabeça. Curioso, como, aliás, deve ser todo bom repórter, fui pesquisar. Eis que, então, para minha grande surpresa, descobri: seu dono era nada mais, nada menos que meu amigo de juventude, Walbercy. Empresa que, mais tarde, já um sucesso mundial, passou a se chamar StartAnima, e que tem hoje como seu diretor geral Rafael Ribas, filho do meu amigo. Colecionou prêmios e teve seus filmes animados exibidos mundo afora, até mesmo, imaginem, no Vietnã!!!! Entre suas mais brilhantes obras está o primeiro longa-metragem, o premiado O Grilo Feliz, que chegou a mais de 60 países e ajudou a abrir caminhos para n A história desta semana é novamente de Plínio Vicente da Silva ([email protected]), assessor da Prefeitura de Boa Vista. Ele foi chefe de Reportagem do Estadão e correspondente do jornal em Roraima, onde mora desde abril de 1984. Plínio Vicente da Silva Um gênio que me fez seu amigo Walbercy Ribas Camargo n Três projetos criados no Brasil ou com participações de jornalistas brasileiros foram listados entre as dez iniciativas jornalísticas que causaram impacto positivo na América Latina em 2023. A lista é elaborada pela LatAm Journalism Review (Revista de Jornalismo da América Latina), produzida pelo Centro Knight, da Universidade do Texas. u Destaque para a Amazônia Vox, plataforma de conexão que facilita contatos e dá visibilidade a temas relevantes para a região, e que foi a única 100% brasileira listada pelo levantamento. Além dela, foram lembrados os projetos Amazon Underworld, produzido pela InfoAmazonia, em parceria com Armando.info (Venezuela) e La Liga Contra el Silencio (Colombia); e Attack Detector, criado por Schirlei Alves e Reinaldo Chaves, da Abraji, em conjunto com Fernanda Aguirre e Gibrán Mena, do Data Crítica, do México. E mais... n Clarissa Ward, da CNN americana, tornou-se a primeira jornalista ocidental a cobrir a guerra dentro da Faixa de Gaza sem apoio das forças de segurança israelenses. O acesso à região é quase impossível desde o primeiro ataque do Hamas, em 7 de outubro. Clarissa e sua equipe conseguiram cruzar a fronteira e mostrar médicos dos Emirados Árabes Unidos atendendo a vítimas em um hospital de campanha do sul de Gaza. Entre elas, estão crianças feridas que perderam suas famílias. A profissional também foi responsável por cobrir outros conflitos, como a guerra da Ucrânia, enquanto estava grávida. Projetos com participações brasileiras são destacados pela LatAm Journalism Review Clarissa Ward
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