Jornalistas&Cia 1441

Edição 1.441 página 3 De Londres, Luciana Gurgel Para receber as notícias de MediaTalks em sua caixa postal ou se deixou de receber nossos comunicados, envie-nos um e-mail para incluir ou reativar seu endereço. Os levantamentos de jornalistas mortos em 2023, já publicados por algumas das organizações de liberdade de imprensa antes de o ano acabar, trazem boas e más notícias, além de uma certa confusão sobre os critérios. Eles sempre foram diferentes, mas agora as discrepâncias se acentuaram, devido à forma de contabilizar mortes na guerra de Gaza. O relatório da Repórteres Sem Fronteiras afirma que 45 jornalistas morreram este ano, o menor número desde 2003. Ano passado foram 51. Quem puxou o resultado para baixo foi a América Latina, onde houve 26 vítimas em 2022. Este ano foram seis − quatro no México, uma na Colômbia e outra no Paraguai. No entanto, no monitoramento regular da Unesco entram duas mortes de jornalistas no Haiti, amplamente documentadas pela mídia internacional. O total de mortes no ano, segundo a organização, foi de 65. Já o Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ) listou apenas uma no país centro-americano. Enquanto isso, a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) contou 94 mortes até 15/12, contra 67 em 2022. O dado inclui todas as fatalidades na guerra entre o Hamas e Israel, até as de profissionais com residências atingidas por bombardeios. Por essa metodologia, 68 morreram no conflito − 72% de todas as mortes de 2023. Ou 67, nas contas do CPJ, já considerando duas fatalidades ocorridas no fim de semana. No levantamento da RSF, 17 jornalistas perderam a vida no exercício das suas funções em Gaza (13), no Líbano (3) e em Israel (1), elevando para 23 o número de jornalistas mortos em conflitos este ano, contra 20 em 2022, primeiro da guerra na Ucrânia − taxa absurdamente alta para dois meses de confrontos. Jornalistas também morreram cobrindo confrontos em Camarões, no Mali, no Sudão, na Síria e na Ucrânia. Foi a primeira vez que o número superou o de vítimas em zonas de paz, disse a organização. Quem entra na conta de mortos? As diferenças também estão relacionadas a uma pergunta cada vez mais difícil de responder: quem é jornalista? A lista da IFJ inclui jornalistas e trabalhadores de meios de comunicação, mas não especifica se blogueiros ou donos de canais de notícias nas redes sociais são considerados como tal. A Unesco explica sua metodologia: “Jornalistas, meios de comunicação, trabalhadores e produtores de mídia social envolvidos em atividades jornalísticas, em linha com Decisões do IPDC sobre a segurança dos jornalistas. Esta definição também se alinha com a interpretação ampla […] do jornalismo como ‘função compartilhada’ por uma ampla gama de atores, incluindo reQuantos jornalistas morreram em 2023, e por que os números subiram ou caíram, de acordo com quem conta? pórteres e analistas profissionais em tempo integral, bem como blogueiros e outros que se envolvem em autopublicação impressa ou na internet”. A RSF faz uma distinção entre profissionais, trabalhadores na mídia (como motoristas) e não-profissionais, mas junta todos em sua soma final. Por que o número caiu? A se partir da premissa de que mortes de jornalistas em casa não são associadas ao exercício da profissão, com as que acontecem na cobertura de um fogo cruzado ou por pura vingança, a redução de casos mostrada pela RSF é uma boa notícia, mas não necessariamente todos os fatores que contribuíram para ela são positivos. A entidade atribui a queda em certas áreas a um aumento da segurança dos jornalistas, mais bem treinados e equipados para atuar em conflitos armados. Entre essas áreas não está Gaza. Jornalistas internacionais não puderam entrar nos territórios, e as reportagens têm sido feitas pelos que estavam lá dentro, nem todos bem equipados. Há relatos confirmados de ataques diretos e não acidentais. O outro lado da moeda, de acordo com a RSF, é que em algumas regiões o medo dos riscos estaria causando autocensura, inibindo reportagens e denúncias sobre corrupção e crime organizado − e o número de mortes em reação a elas. Segundo a organização, essas coberturas seguem extremamente arriscadas, com 15 mortes associadas a elas em 2023, sobretudo na América Latina e na África. Isso pode explicar a queda de mortes no México, pois o país segue violento para a imprensa. Um exemplo foi o sequestro de três jornalistas na mesma semana, em novembro. Os três saíram com vida, mas o recado serviu para lembrar que não vale a pena mexer em vespeiro − para sorte de quem se preserva, mas azar da sociedade, que perde com a falta de informação. O relatório completo pode ser visto aqui. IJNet

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