Jornalistas&Cia 1447

Edição 1.447 página 12 Por Assis Ângelo PRECIO SIDADES do Acervo ASSIS ÂNGELO Contatos pelos [email protected], http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333 O estupro, além de provocar transtornos emocionais, quase sempre também leva a vítima à prostituição. Isso se acha em narrativas reais e fictícias. Na década de 60 do século 19, na França, uma personagem inglesa do mundo real chamada Emma Elizabeth Crouch (1835-1886) − Cora Pearl, para um público especial − fez estrondoso sucesso se prostituindo. Antes de “cair na vida”, Elizabeth foi internada num convento de freiras na França e ao sair de lá foi estuprada por um desconhecido com mais do dobro de sua idade. À época, ela tinha 15 anos. Perdida, assustada, alugou um espaço em Paris e passou, então, a entregar-se aos homens para sobreviver. Elizabeth Crouch morreu fora do território parisiense, em Monte Carlo, no ano do lançamento do livro no qual conta a sua história: Mémoires d’une Courtisane. História parecida, só que na ficção, teve Madame Bovary. Essa personagem de Gustave Flaubert (1821-1880) era interiorana e apaixonada por leituras românticas. Casou-se com um médico, foi infeliz e suicidou-se depois de cair nos braços de um amante. Algo parecido, muito parecido aconteceu com Anna Karenina. Anna Karenina, uma criação do russo Tolstói (1828-1910), matou-se atirando-se na frente de um trem. Não é incomum nos dias de hoje uma mulher usar o próprio corpo para galgar posições importantes na sociedade. Cristo ainda não havia nascido quando nasceu em Alexandria, então capital do Egito, aquela que seria a mais fulgurante e poderosa mulher do seu tempo: Cleópatra. Cleópatra integrava a dinastia ptolomaica. Seu pai, Ptolomeu XII, era grego. Os homens da família de Cleópatra eram chamados de Ptolomeu I, II, III, IV... Sempre visando o poder, Cleópatra chegou a casar-se com dois de seus irmãos, Ptolomeu XIII e Ptolomeu XIV. Incesto, não? Incesto era uma prática comum e não punível na Antiguidade. Na literatura antiga há muitos registros sobre o assunto. Sófocles, considerado pai do teatro grego, escreveu e levou à cena Édipo Rei. Nessa peça, que Aristóteles classificou de “verdadeira tragédia”, o personagem Édipo casa-se com a própria mãe, Jocasta, sem saber e com ela gera filhos. Quatro: Antígona, Ismênia, Etéocles e Polinice. Ao descobri – surpresa! − o incesto consumado, a mãe de Édipo se mata e ele desesperado fura os próprios olhos e sai zanzando perdido na escuridão. No mundo encantado dos orixás, a chamada rainha das águas Licenciosidade na cultura popular (XILVI) (continuação das edições 1.445 e 1.446) Iemanjá casa-se com um irmão e com ele tem um filho que finda por engravidá-la. É tudo muito louco, não é? Iemanjá, no seu berço africano, era negra. No Brasil, é branca. A obra de Jorge Amado (1912-2001) é toda recheada de personagens ligadas ao mundo dos orixás. Tereza Batista, por exemplo, é filha de Iansã. Essa Tereza é protegida de todos os orixás, a partir do justiceiro Xangô. Bom, o incesto é um tema recorrente nas páginas do Velho Testamento. A história é longa e cheia de surpresas e contradições. Depois de desposar os irmãos, Cleópatra abriu as asas e atirou-se no colo do ditador romano Júlio César, que seria assassinado pelo filho Brutus e senadores comparsas. Com César, Cleópatra teve um filho. Depois de transar com César em busca do poder pelo poder, Cleópatra foi pra cima do general Marco Antônio, com quem teve três filhos. Marco Antônio e Cleópatra perderam feio uma batalha para Otaviano, filho adotivo de César. O resultado disso é que Marco Antônio suicidou-se e Cleópatra também. A respeito desse assunto, de adultério, o satírico Bocage escreveu: Não lamentes, oh Nise, o teu estado; Puta tem sido muita gente boa; Putissimas fidalgas tem Lisboa, Milhões de vezes putas teem reinado: Dido fui puta, e puta d’um soldado: Cleopatra por puta alcança a c’ròa; Tu, Lucrecia, com toda a tua pròa, O teu cono não passa por honrado: Essa da Russia imperatriz famosa, Que inda ha pouco morreu (diz a Gazeta) Entre mil porras expirou vaidosa: Todas no mundo dão a sua greta: Não fiques pois, oh Nise, duvidosa Que isto de virgo e honra é tudo peta. A última rainha do Egito, Cleópatra, entrou para a história como depravada, cínica, fatal e “uma vergonha para o Egito”, nas palavras do poeta Lucano. Marco Aneu Lucano tinha lá uns 20 anos de idade quando chamou a atenção de Nero pelas poesias bravas que fazia. Lucano virou, por pouco tempo, um protegido do incendiário Nero. Nero findou por mandar matá-lo. Plutarco classificou Antônio e Cleópatra como um casal vulgar, libertino e tal. Horácio e Cícero não a viam com bons olhos. Cícero foi um dos maiores oradores do Império Romano. Escrevia com as mãos de Deus. Foi Propércio que, sem rodeios, a chamou de “rainha prostituta”. (Continua na próxima edição) Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora Cora Pearl Jorge Amado Cleópatra e César, por Jean Leon Gerome (1866) Bocage

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