Jornalistas&Cia 1447

Edição 1.447 página 25 Há exatos 50 anos (1º/2/1974) o edifício Joelma, em São Paulo, pegou fogo e 187 pessoas perderam a vida no imenso incêndio. Foram mais de 300 feridos. A efeméride me fez lembrar de um fotógrafo nissei que garantiu a melhor foto do sinistro e, após clicar, sentou na calçada, começou a chorar... e resolveu deixar de ser fotógrafo. Vamos ao começo da história: Eu era professor de Jornalismo na FAAP, levei o ex-fotógrafo para falar da profissão para meus alunos. Depois de algumas histórias, fez uma pausa e disse que quando cheguei junto com ele ao Joelma percebeu que todos os “retratistas” – e eram muitos − levariam a mesma foto para seus jornais: a fachada em chamas do prédio, feita da avenida Nove de Julho. Ele queria uma foto diferente. Pensou, analisou a cena e de repente se fixou num rapaz que estava no terraço de um dos andares mais altos, tendo atrás as imensas chamas que avançavam inexoravelmente em sua direção. “O rapaz não tinha salvação”, contou. As escadas dos bombeiros não chegavam até onde ele estava e não havia como subir até a cobertura do prédio, da qual os helicópteros começavam a se aproximar. Luiz Roberto Souza Queiroz n A história desta semana é novamente de Luiz Roberto de Souza Queiroz, o Bebeto ([email protected]. br), assíduo colaborador deste espaço, que esteve por muitos anos no Estadão e hoje atua em sua própria empresa de comunicação. Ele garantiu a foto para a primeira página do jornal. Então, sentou na calçada e chorou A foto a que Bebeto se refere é a da esquerda “Coloquei a máquina no modo esportivo”, explicou, “pois a Nikon tinha um sistema que permitia disparar seis fotos em poucos segundos, para garantirmos fotografias de um gol, por exemplo”. Em seguida, calculou luz, distância, reviu cuidadosamente o foco e os parâmetros da foto, o enquadramento, apoiou a máquina... e esperou as chamas avançarem, o rapaz não aguentar mais e saltar para a morte certa. “Foi então que bati as fotos, as altas chamas como fundo, o rapaz voando em direção ao chão dezenas de metros abaixo, onde fatalmente ia se estatelar”. “Fiquei contente, tive a certeza de garantir a primeira página do jornal, de que seria uma consagração. Mas de repente caiu a ficha, percebi que eu tinha ficado vários minutos esperando para que um ser humano morresse, torcendo mesmo para que ele pulasse num ângulo que valorizasse a fotografia, que mostrasse todo o drama do momento. E daí, daí então sentei na calçada e chorei, chorei muito”. Não lembro mais o nome do fotógrafo. Afinal ele parou de fotografar e a última notícia que tive dele, também faz muito tempo, é que tinha aberto um mercadinho. Não queria mais saber de jornal, muito menos da acirrada disputa pela melhor imagem. Não podia nunca mais esquecer que é um ser humano e que quem estava do outro lado da câmara era o próximo, de que fala o Evangelho. (N.daR.: o Estadão reproduziu a foto na reportagem sobre os 50 anos do incêndio que publicou no último dia 1º/2, mas não identificou o autor. O crédito é apenas Acervo/Estadão) Jornalistas&Cia é um informativo semanal produzido pela Jornalistas Editora Ltda. • Diretor: Eduardo Ribeiro ([email protected]–11-99689-2230)•Editorexecutivo: Wilson Baroncelli ([email protected] – 11-99689-2133) • Editor assistente: Fernando Soares ([email protected] – 11-97290-777) • Repórter: Victor Felix ([email protected] – 11-99216-9827) • Estagiária: Hellen Souza ([email protected]) • Editora regional RJ: Cristina Vaz de Carvalho 21-999151295 ([email protected]) • Editora regional DF: Kátia Morais, 61-98126-5903 ([email protected]) • Diagramação e programação visual: Paulo Sant’Ana ([email protected] – 11-99183-2001) • Diretor de Novos Negócios: Vinícius Ribeiro ([email protected] – 11-99244-6655) • Departamento Comercial: Silvio Ribeiro ([email protected] – 19-97120-6693) • Assinaturas: Armando Martellotti ([email protected] – 11-95451-2539)

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