Edição 1.447 página 5 De Londres, Luciana Gurgel Para receber as notícias de MediaTalks em sua caixa postal ou se deixou de receber nossos comunicados, envie-nos um e-mail para incluir ou reativar seu endereço. A desinformação climática não é nova, mas um relatório produzido pela organização não-governamental Center for Countering Digital Hate (CCDH) mapeou o que os pesquisadores chamaram de «novo negacionismo”, usando como exemplo o conteúdo encontrado no YouTube. O novo foco é atacar a ciência climática e os cientistas e desacreditar as soluções para combater o problema, em vez de negar que o aquecimento global existe ou é influenciado por ações do homem. Segundo o estudo, essas menagens agora representam 70% de todo o conteúdo negacionista sobre mudanças climáticas encontrado no universo pesquisado no YouTube. Há seis anos, a taxa era de 35%, segundo o CCDH. A organização é a mesma que está sendo processada pelo Twitter/X por ter apontado aumento de discurso de ódio na rede social após a aquisição por Elon Musk e assim ter “afastado anunciantes”. O foco no YouTube para o novo estudo é um sinal de que não se trata de um problema pessoal do chefe da ONG, o combativo Imran Ahmed, com Elon Musk. O tamanho da influência do YouTube O resultado da investigação é impressionante quando se leva em conta a penetração do YouTube. Uma pesquisa do Pew Research Center feita nos EUA em setembro do ano passado revelou que 83% dos adultos usam a plataforma regularmente. A penetração entre adolescentes de 13 a 17 anos é ainda maior: 93% deles consomem conteúdo no YouTube, muito mais do que em TikTok (63%), Instagram (59%) e Facebook (33%). Toda essa gente está sendo cada vez mais exposta a teses do chamado “novo negacionismo”, que foi mapeado a partir de uma análise realizada com auxílio de uma ferramenta de inteligência artificial chamada CARDS, desenvolvida por acadêmicos. Os pesquisadores quantificaram a frequência de diferentes tipos de alegações de negação climática em um conjunto significativo de conteúdo. Foram examinadas transcrições de texto de 12.058 vídeos relacionados com o clima, publiO “novo negacionismo”: pesquisa mostra como narrativas foram adaptadas para a era do aquecimento global inegável cados entre 1º de janeiro de 2018 e 30 de setembro de 2023 em 96 canais do YouTube conhecidos por terem publicado conteúdo negacionista do clima. No total, o conjunto de dados cobre 4.458 horas ou quase 186 dias de conteúdo. O velho e o novo negacionismo O discurso em 2018, quando o mundo não estava tão quente, concentrava-se em duas linhas de argumentação, batizadas de “antigo negacionismo”: • O aquecimento global não está acontecendo • Os gases de efeito estufa gerados pelo homem não são a causa do aquecimento global Só que o aumento da temperatura foi “derretendo” essas argumentações, e as narrativas tiveram que mudar. A análise do CCDH mostra que o percentual de alegações associadas ao “velho negacionismo” caiu de 65% em 2018 para apenas 30% em 2023. A nova narrativa, que responde por 70%, é apoiada em três linhas de argumentação, segundo os pesquisadores: • Os impactos do aquecimento global são benéficos ou inofensivos • As soluções climáticas não funcionarão • A ciência climática e o movimento climático não são confiáveis A ONG afirmou que o YouTube fatura até US$ 13,4 milhões por ano com anúncios nos canais estudados, e que as políticas da plataforma proíbem a monetização do velho negacionismo, mas não do novo negacionismo. ONG pede atualização da política Ainda que parte desses argumentos contra o consenso científico seja em teoria proibida pelas regras da comunidade, o CCDH diz ter encontrado evidências de monetização das antigas teses. Uma das conclusões do trabalho é a cobrança ao Google para que atualize a politica sobre conteudo de negaç o climatica a fim de refletir as narrativas adaptadas ao momento. O texto da política atual diz: “Nao permitimos conteudo que contrarie o consenso cientifico oficial sobre as alteraç es climaticas.” O Center For Countering Digital Hate pede que seja alterada para: “Nao permitimos conteudo que contrarie o consenso cientifico oficial sobre as causas, impactos e soluç es para as alteraç es climaticas.” A mudança parece pequena, apenas três palavras. Mas pode fazer diferença para embasar remoções e desmonetização − caso o YouTube queira, é claro. O relatório completo pode ser visto aqui.
RkJQdWJsaXNoZXIy MTIyNTAwNg==