Jornalistas&Cia 1448

Edição 1.449 página 2 Nacionais n O mercado de quadrinhos e a indústria criativa como um todo são muito importantes para o Brasil, principalmente no que se refere ao incentivo à arte, além de gerarem empregos e movimentarem a economia do País. Mas, infelizmente, indústria e economia criativa ainda são pautas que têm pouca visibilidade para os governos, mesmo com sua importância intelectual/ cultural e econômica. u Jornalistas&Cia conversou com Rodrigo Paiva, diretor de Licenciamento da Maurício de Sousa Produções, que falou sobre o mercado de quadrinhos no Brasil, destacando números importantes sobre vendas de revistas e HQs, que mostram como Mauricio de Sousa consegue manter leitores infantis de revistas impressas quando muitos acham que as crianças estão deixando essas leituras de lado, especialmente devido à forte tendência ao online e ao digital. u Leia a entrevista na íntegra a seguir (com a colaboração de José Alberto Lovetro, o JAL): Jornalistas&Cia − Fale um pouco sobre o mercado de quadrinhos no Brasil e a economia criativa no País. O que fazer para que estes setores sejam mais valorizados? Rodrigo Paiva − Quando o Mauricio lançou suas primeiras revistas, o mercado era dominado por autores estrangeiros. Não à toa, o famoso formato “pato” das revistas em quadrinhos no País vem das revistas do Pato Donald, cuja vendagem possibilitou que a Editora Abril lançasse títulos como Veja, entre outros. Com o tempo, as revistas da Mônica e depois de outros personagens da Turminha foram caindo no gosto do público por trazerem a cultura brasileira, com que as crianças se identificavam mais. Claro que há outros autores que contribuíram com novas opções, como Ziraldo, histórias inspiradas no universo de Monteiro Lobato, por exemplo. No início dos anos 2000, começou a febre dos mangás. Mauricio percebeu que seu filho mais novo preferia esses quadrinhos japoneses aos gibis da Turminha, e foi quando surgiu a Turma da Mônica Jovem, um fenômeno de vendas. Hoje, os títulos com a Turma da Mônica dominam 80% do mercado de quadrinhos brasileiros. Há mais de dez anos lançamos o projeto Graphic MSP, porque percebemos que havia autores brasileiros muito talentosos que não tinham espaço no mercado nacional. Esses autores fazem releituras do universo dos personagens da Turma da Mônica, voltadas para o público jovem adulto. “Jeremias – Pele”, de autoria de Rafael Calça e Jefferson Costa, que traz um de seus primeiros personagens numa história em que enfrenta o racismo, ganhou o Jabuti em 2018. Os personagens nascidos nos quadrinhos ganham outras plataformas, estão no digital, games, filmes live-action, e estampam produPor Victor Félix, repórter de J&Cia A importância do mercado de quadrinhos e da economia criativa no Brasil Rodrigo Paiva Acervo Pessoal tos por meio do licenciamento, movimentam toda uma cadeia produtiva que gera empregos do campo ao setor de serviços. J&Cia − Você poderia compartilhar conosco dados sobre vendas de revistas e livros da Mauricio de Sousa Produções que mostrem a importância dessa indústria criativa? Rodrigo − Uma pesquisa feita em 2019 pelo então Ibope, a nosso pedido, mostrou que 93% dos brasileiros veem nas revistas da Turma da Mônica um estímulo à leitura. Só no ano passado foram 2,8 milhões de livros vendidos. Nos últimos cinco anos, foram 15 milhões. Num país em que mais de 84% dos brasileiros não compraram livros no ano passado, ficamos muito felizes de sermos uma exceção e podermos contribuir para que as crianças, jovens, famílias em geral, vejam na leitura um momento de lazer e aprendizado. Não somos educadores, mas o Mauricio sempre diz que sua medalha no peito é ter contribuído, de maneira informal, para formar leitores. O total movimentado pela indústria criativa, segundo dados de 2020, e equivalente ao gerado pela construção civil e superior a produção total do setor extrativista mineral no mesmo ano. Segundo um estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, o setor superou o desempenho geral da economia brasileira em quase todos os anos deste século e passou a representar 2,9% do PIB em 2020, movimentando um total de R$ 217,4 bilhões. Em 2017, representava 2,6%. Em 2004, eram apenas 2,1%. Ou seja: estamos crescendo! J&Cia − Fale um pouco sobre a questão do impresso x digital. O conteúdo impresso segue forte no setor de quadrinhos? Rodrigo − Com todo esse universo digital, de vez em quando alguém ainda pergunta se ainda vendemos gibis. E a resposta é: sim, vendemos 1 milhão de exemplares ao mês, ou seja, 12 milhões de exemplares ao ano! Nossas histórias estão em todas as plataformas, mas a revistinha impressa ainda é bem relevante. Primeira aparição da Mônica nas tiras do Cebolinha, em 1963 Rodrigo Paiva/Maurício de Sousa Produções

RkJQdWJsaXNoZXIy MTIyNTAwNg==