Jornalistas&Cia 1459

Edição 1.459 página 17 100 ANOS DE RÁDIO NO BRASIL Por Álvaro Bufarah (*) Tivemos neste 1º de maio o 30º aniversário da morte de Ayrton Senna, um dos maiores ídolos do esporte brasileiro. A história todos conhecem, mas poucos sabem como foi a cobertura do radiojornalismo naquele fatídico domingo e depois, até o momento do enterro. Por isso, a coluna desta semana será um resgate histórico com quem acompanhou os fatos narrados pelas emissoras de rádio na época. Como são boas histórias, vamos dividir a coluna em duas partes. Segue a primeira: Carlos Fernando, radialista e atual apresentador na BandSports. Em 1º de maio de 1994, era âncora de final de semana na CBN, fazendo o horário das 12h às 20h, com produção de Álvaro Bufarah. “Naquele domingo fatídico do Senna eu estava fazendo um curso em São Paulo. Acho que eram umas 10h ou 11h, por aí. Cheguei um pouco atrasado, mas na entrada da sala tinha um monitor. Naquele domingo eu estava de folga por acaso, pois era folguista e trabalhava no fim de semana, já tinha trabalhado no sábado. Quando vi no monitor o acidente do Senna, obviamente na Globo, nem o Galvão nem ninguém sabia o que realmente tinha acontecido. Fiquei tão espantado que, juro, foi meio intuitivo: dei meia volta. Não entrei na sala onde os alunos estavam. Voltei, entrei no carro e parti em direção à rádio. Naquela época era muito precária a comunicação por celular. Quando cheguei na rádio estava aquela cena do helicóptero ter levado o Senna. A gente imaginava o pior, mas não sabia que ele tinha morrido. Lá no hospital a gente tinha o Roberto Cabrini, que era da TV Globo, o Luiz Roberto, que tinha narrado pra gente. E aí, o que que acontece? Tive que ligar para o diretor da Rádio, o Heródoto Barbeiro, pois a produção do Rio de Janeiro queria manter a programação normal. Ele disse que, se fosse preciso, era pra tirar a CBN SP da rede e fazer a cobertura por aqui. Só que aí eles viram a extensão e o diretor de Jornalismo entendeu que era uma notícia nacional. A gente passou a ancorar para o Brasil todo. A partir dali ficamos horas e horas. Eu não sei precisar, mas, do momento em que o Cabrini deu a notícia da morte até o final, a gente deve ter ficado pelo menos umas seis horas ancorando e conversando com pessoas. Acho que você (Álvaro, então produtor) ligou pro Rubinho Barrichello, que estava em Londres. Ele tinha sofrido um acidente na véspera, tinha morrido o tal do Ratzenberger. Rubinho sofreu acidente na sexta, Ratzenberger morreu no sábado e Senna morreu no domingo. Nós demos a notícia ao vivo pro Rubinho sobre a morte O rádio na cobertura da morte de Ayrton Senna Carlos Fernando constatada do Senna. E foi traumático mesmo. A gente recebia fax. Os faxes foram se acumulando. Milhares de pessoas mandando fax pra gente. Foi um dos momentos mais difíceis de eu ancorar. Eu ancorei a morte do Senna, depois ancorei a morte do Maradona, a morte do Pelé, a morte do Luciano do Valle. Eu estava ao vivo na TV, no BandSports, quando o Luciano morreu. São momentos muito difíceis. Você vai criando uma espécie de casca, tentando separar o racional do emocional. Mas é difícil, né? Somos seres humanos, enfim. Esse momento do Senna deixou o Brasil absolutamente de ponta-cabeça. Um dos nossos grandes ídolos. Não posso dizer que foi o maior, porque para mim o Pelé foi o maior de todos. Mas a morte do Senna chocou muita gente. E aí, só para encerrar, o diretor nacional de jornalismo da CBN, Laerte Rímoli, me ouviu e na segunda-feira ligou pro Heródoto e falou: ‘Olha, esse menino que ancorou aí no domingo não pode ficar no fim de semana, não. Ele tem que ancorar durante a semana’. Aí me deram um programa no final da tarde. Alguns anos depois migrei para a Rádio Globo. Aí fiz o Agito Geral, de noite.” Humberto Ascencio, repórter do programa A Hora do Faro, na Record TV. Em 1º de maio de 1994 era produtor no estúdio para o Jornal da CBN (6h às 9h) e depois do Notícia na Manhã (9h às 12h). “Lembro que eu chegava bem cedo, acho que umas 4h30 da manhã. Naquela época a gente trabalhava de terça a domingo. Então, era mais um domingo em que eu chegava lá de madrugada, porque o jornal entrava no ar às 6h. Cheguei, coloquei tudo bonitinho. A gente sequenciava, fazia o nosso próprio roteiro; pegava os cartuchos, as fitas, os rolos, subia para o estúdio. Naquele dia, se não me engano, o Jornal da CBN foi inteiro, ou pelo menos boa parte dele. Porque depois a gente abria para a transmissão em cadeia, Rádio Globo e CBN. O programa que vinha na sequência − não lembro o nome, olha que incrível! − eu fazia com Dilson Fredo. Mas quando tinha corrida, uma semana sim, outra não, e a gente ficava só de stand by, porque entrava a equipe de esporte mesmo, Globo, CBN, para fazer as transmissões. Dependendo do horário da corrida, a gente ainda tinha um restinho de programa para fazer ou não, ou um começo de programa para entregar. Domingo, quando entrava a Fórmula 1, era como se fosse um recreio pra gente, um refresco, um respiro. Porque você está lá desde as 4h30 naquela correria, chega nove, nove e pouco você para o seu trabalho só para deixar rolar uma corrida, né? Então isso aí era quase que um prêmio pra gente. Lembro que começou a corrida, a gente desceu para a padaria ali na Rua das Palmeiras, para tomar um café. Atravessamos a rua, entramos na padaria, cumprimentamos quem tínhamos que cumprimentar e sentamos naqueles banquinhos que ficam colados no balcão. Na nossa frente tinha uma televisão, de tubo ainda, e eu pedi um queijo quente, um café com leite e a gente conversando. O Senna não tinha tido um começo bom de campeonato naquele ano, então ele estava com sangue nos olhos para recuperar. Eu lembro de a gente comentar isso. Nossa, o Senna tá impossível! A gente conversando e numa pausa olhei para a TV. E vi a batida. Tomei um susto. Foi tão rápido que a gente ficou em dúvida. Parece que é o carro do Senna, a Williams. Será que é? Será que não é? Quando Humberto Ascencio

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