Jornalistas&Cia 1459

Edição 1.459 página 31 Viajei rumo a Cuba duas vezes. A primeira em um ano turbulento: 1989, quando se comemoravam os 30 anos da Revolução. Em meio às celebrações, abriu-se a primeira grande fissura no mundo socialista. Era o fim do Muro de Berlim. Um ato, de início, apenas simbólico, sim. Mas, já no ano seguinte, a Alemanha seria reunificada, dando adeus a sua fração socialista. Mais um ano, e a União Soviética ruiria, como um arranha-céu implodido. Ao mesmo tempo, o neoliberalismo caminhava a mil, com Bush, pai, nos Estados Unidos, e Margaret Thatcher, mãe, no Reino Unido. A ideia, bem sabemos, era dinamitar a política do bem-estar social, a legislação trabalhista e detonar sindicatos e outros coletivismos. Não admira que Fidel Castro, alarmado, tenha resolvido diversificar a economia de Cuba, então ainda dependente do dindim de países socialistas europeus. Assim, decidiu investir em turismo, embora a inédita chegada de levas de visitantes estrangeiros, com seus dólares, grifes e modismos, pudesse afetar o espartano dia a dia dos moradores. Haveria, no mínimo, o incômodo da comparação − justa ou injusta. Paciência. Aos olhos de Fidel, seria a salvação da lavoura, numa ilha ainda arraigada à sina agrícola. Primeiro, o comandante-em-chefe convocou companhias hoteleiras da Itália e da Espanha, que se interessassem em explorar o turismo em lugares de plena beleza caribenha, como Varadero e Cayo Largo, além, claro, da histórica Havana. Não queria hotéis de riqueza ostensiva. Preferia as redes do “tudo incluído”, mais classe média − ou mesmo classe média baixa −, como as espanholas Iberostar e NH. Em segundo lugar era preciso divulgar esta Cuba a céu aberto, distante das noitadas embriagantes de cassinos e cabarés de outrora, quando era o quintal de ricos farristas americanos. A saída foi convidar jornalistas do mundo inteiro para uma visita, com todas as despesas pagas pelo governo cubano. A história desta semana é novamente uma colaboração de Walterson Sardenberg Sº ([email protected]), o Berg, que foi repórter de Manchete e Fatos & Fotos; editor de Placar, Brasileiros e Viagem & Turismo; editor-chefe das revistas Gosto, Próxima Viagem e The President, além de diretor de Redação de Náutica, Contigo e Mergulho. Uma história inacreditável em Havana Walterson Sardenberg Sº Marcelo Spatafora Tuitão do Daniel Por Daniel Pereira (daniel07pereira@ yahoo.com.br), especial para J&Cia (*) Batizado há 46 anos no Grupo Estado, Daniel Pereira passou por Rádio Bandeirantes, TV Record, coordenou a Comunicação do Governo de SP na ECO-92 e foi assessor de imprensa no Memorial da América Latina. Publicou em 2016 O esquife do caudilho e acaba de concluir O último réu. A imponente faixa no alto do prédio em construção prometia o paraíso: o céu é o limite. Um claro trocadilho com a fé dos potenciais compradores. Só quando o “espigão” foi inaugurado é que o povo entendeu. No topo, um aconchegante terraço convidava para eventos dançantes que, à época, os jovens improvisavam nas garagens de suas casas. Pois foi lá, dias depois, que o rapaz, tímido como uma espiga de milho, tomou coragem e a convidou para a pista. Deu mais do que azar, além da “tábua” explícita: quando os bambas dos Jet Beats atacaram de Twist & Shout, último sucesso dos Beatles, ele, pelo rabo do olho, via sua pretensa musa sair aos pinotes pela pista com o desafeto favorito dele. Baila comigo? Parceiro: Apoio: De Londres e de São Paulo, notícias, ideias e tendências em jornalismo, informação, desinformação e plataformas digitais Oferecimento (MediaTalks Partner):

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