Edição 1.463 página 16 Por Assis Ângelo PRECIO SIDADES do Acervo ASSIS ÂNGELO Contatos pelos [email protected], http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333 Antes de Irene Dias Cavalcanti houve outra potiguar de nome Dionísia Gonçalves Pinto (1810-1885), famosa pelo pseudônimo Nísia Floresta Brasileira Augusta, tida como a primeira feminista do Brasil. Nísia publicou duas dezenas de livros, alguns na França. O primeiro deles, Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens, foi publicado quando ela tinha 22 anos de idade. Estudiosos acreditam que Nísia Floresta baseou-se no texto inglês Woman Not Inferior to Men, sem autor conhecido, para escrever o seu livro de estreia. O município Nísia Floresta ganhou este nome em homenagem a ela. Fica a cerca de 40 km de Natal. No Rio de Janeiro destacaram-se Júlia Valentim da Silveira Lopes de Almeida (1862-1934) e Albertina Bertha de Lafayette Stockler (1880-1953). Júlia publicou poemas, contos e livros. Falou de adultério e coisa e tal. Dentre seus livros destacam-se A Falência, A Viúva Simões e A Intrusa. No romance A Falência (1901), a autora põe à baila questões sociais que tanto afligiam as mulheres. Tempos patriarcais, no sentido mais completo. A protagonista Camila dá uns pulinhos de cerca com um médico amigo da família. Mais um triângulo, não é mesmo? Como terminará essa história, hein? Em 1916 foi a vez de Albertina Bertha estrear em livro. Título Exaltação, um romance que deu o que falar. O escritor Lima Barreto (1881-1922), em artigo publicado no jornal Gazeta de Notícias de 26 de outubro de 1920, destacou: Depois de Balzac, de Daudet, de Maupassant, etc., o romance Exaltação, de D. Albertina Bertha, na leitura, nos surge cheio de um delicioso anacronismo. Aparece-nos como uma novela de grande dama, linda e inteligente, para quem a existência só tem o merecimento e mesmo é o seu principal fim o de terminar o amor de um casal, senão de condição real, mas suficientemente principal. Os triângulos amorosos na vida real e na ficção se sucedem desde sempre. Esse tipo de amor triangular é encontrado também no romance Anna Karenina, de Leon Tolstói (1828-1910). A protagonista é burguesa e tal. Seu casamento logo dá vez ao tédio. Irrita-se com tudo referente ao maridão, inclusive com seu modo peculiar de andar e de comer. Mas com o corpo ardendo de desejo, ela começa a pular cerca. É uma viagem incrível que o autor russo nos propicia. Termina com um trem anunciando num apito a presença da morte. Em tragédia também termina o clássico do gênero Madame Bovary, de Gustave Flaubert (1821-1880). A personagem central é uma jovem sonhadora, viciada em histórias românticas. Casa-se com um médico interiorano a quem premia com um belo par de galhos na testa. Pois é. Licenciosidade na cultura popular (LXI) A literatura do paraibano Ariano Suassuna é recheada de chifres, luzentes e engraçados. Isso desde o seu primeiro romance, Uma Mulher Vestida de Sol. Nessa obra, tem amor, sexo, traição etc. A Pedra do Reino, um calhamaço de 750 páginas, trata de histórias fantásticas. Delícia de se ler, do velho Ariano são também o Santo e a Porca e O Auto da Compadecida. Nesse Auto, os personagens fazem estripulias impagáveis. No cinema, a santa Compadecida foi interpretada pela atriz Fernanda Montenegro. Além de santa, Fernanda também interpretou Teresa, uma lésbica na trama criada por Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga. Título: Babilônia, que esteve no ar pela Globo em 2015. Nessa novela ocorreu o primeiro beijo lésbico na TV brasileira. A respeito da personagem que interpretou, Fernanda declarou: “Considero o papel uma declaração de não preconceito a respeito da opção sexual”. É bom que se diga que antes de Babilônia a Globo pôs no ar a novela Amor à Vida. Essa novela, de Walcyr Carrasco, também tem personagens gays: Félix e Niko. Depois disso, o tema virou feijão com arroz na telinha. Porém, não custa dizer que foi o cearense Adolfo Caminha (1867-1897) o primeiro escritor brasileiro a publicar um livro abordando de maneira claríssima a relação sexual entre pessoas do mesmo sexo. O caso se acha no livro Bom-Crioulo (1895), cujos personagens principais são o ex-escravo Amaro e Aleixo. Esse Aleixo é conquistado por uma cafetina e com ela teve a primeira transa. Gostou e por gostar deixou Amaro. Termina em sangue. Do mesmo Caminha são os livros Voos Incertos (poesia, 1886), Judith e Lágrimas de um Crente (contos, 1887) e Cartas Literárias (crítica, 1895). Do mesmo autor são os romances A Normalista (1893) e Tentação (1896). A Normalista conta a história de uma menina que perde a mãe e o pai e é criada por um padrinho, que nutre por ela uma obsessão, chegando a engravidá-la. Até parece que aí tem um dedo de Nelson Rodrigues, mas não. Nelson nasceu em 1912, quando Caminha já havia morrido fazia 15 anos. Curioso nessa história também é o último livro de Caminha: A Tentação. Na trama há um troca-troca entre dois casais. E mais não digo. Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora Nísia Floresta Brasileira Augusta Albertina Bertha Nathália Timberg e Fernanda Montenegro em Babilônia
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