Edição 1.468 página 14 Por Assis Ângelo PRECIO SIDADES do Acervo ASSIS ÂNGELO Contatos pelos [email protected], http://assisangelo.blogspot.com, 11-3661-4561 e 11-98549-0333 Em 1881, o maranhense Aluísio Azevedo põe o clérigo na história O Mulato. O moço aí é o vilão da narrativa, que faz de tudo para separar dois jovens: Raimundo e Ana Rosa. O Missionário, romance do paraense de Óbidos Herculano Marcos Inglês de Sousa (1853-1918), trata de um religioso que resiste o quanto pode aos clamores da carne. Seu nome: padre Antônio de Morais. O padre de Inglês de Sousa é um idealista, mas passa a duvidar dos seus princípios quando jovens raparigas o assediam na paróquia em que é titular. E aí, já viu, não tem jeito: a carne, fraca que é, não resiste aos ímpetos do corpo de uma jovem… A história se passa numa fictícia cidade chamada Silves, localizada nas brenhas do fim do mundo amazônico. Antônio deixa Silves para reencontrar no coração da floresta uma razão para resgatar a firmeza que tinha na carreira sacerdotal. Porém, quanto mais foge para se reencontrar, mais se perde. À pág. 145 do livro de Sousa diz o narrador: “…Então ele, saindo de uma luta suprema, silencioso, com um frio mortal no coração, com o cérebro despedaçado por um turbilhão de sentimentos contrários, atirou-se à moça, agarrou-a pela cintura e mordeu-lhe o lábio inferior numa carícia brutal. Foi breve a luta. A neta de João Pimenta caiu exausta sobre o tapete de folhas úmidas do orvalho, douradas pelo sol. Entre os ramos dos cacaueiros os passarinhos sensuais cantavam…” O personagem aí não é outro senão o padre Antônio. Foi publicado em 1891, tornando o autor mais apreciado pelos leitores e a crítica. Foram poucos os livros escritos e publicados por Inglês de Sousa, mas os que conhecemos são de suma importância na história da literatura brasileira. No livro Contos Amazônicos (1893), Sousa nos apresenta uma curiosa personagem: Maria, no conto Amor de Maria. No texto o autor conta a história de uma jovem muito bonita que finda por apaixonar-se por um desconhecido que de repente chega à cidade onde ela vive. O cara é do tipo bonitão, enxerido, disputado pelas moçoilas. O caso termina em morte. O primeiro livro de Inglês de Sousa foi O Cacaulista, publicado em 1876. Os textos inseridos em Contos Amazônicos não são, grosso modo, contos. O último, O Rebelde, por exemplo, é Licenciosidade na cultura popular (LXVI) Inglês de Sousa memorial. É texto em que o autor encontra na infância a morte do pai e tal. Nesse texto há momentos muito fortes: “Paulo da Rocha pareceu hesitar algum tempo, mas um novo gesto de meu pai, cheio de uma desesperada energia, o decidiu. Carregando-me ao ombro com um vigor incrível, pôs-se a correr para o quintal, donde em breve saímos pelo portão, apesar das minhas súplicas e dos esforços que fazia para que me deixasse. Bem compreendia eu que era a última vez que via a meu velho pai, e doía-me abandoná-lo naquele supremo momento. Durante algum tempo andou Paulo da Rocha dando voltas pela vila, até que chegamos ao porto. Na extremidade da vila, em uma enseada, estava uma canoa, e nessa canoa se achavam três pessoas: Padre João da Costa, minha mãe e Júlia. Caí nos braços de minha mãe que me recebeu soluçando. Depois da primeira efusão, minha mãe perguntou: − E teu pai? Lágrimas foram a única resposta que dei. Para fazer diversão a esta cena, o pernambucano empurrou a canoa, saltando dentro dela, e armando-se do mará exclamou em voz que procurou tornar alegre. − Agora, fujamos!...” Perguntar, não custa: quem foi o pioneiro do Naturalismo no Brasil, Aluísio de Azevedo ou Inglês de Sousa? Bom, não digo. Porém, a mim não custa dizer que o francês Émile Zola (1840-1902) foi o criador do movimento naturalista. O cabra era bom em verso e prosa. Em 1890, o maranhense Aluísio de Azevedo publicou o romance O Cortiço. Obra-prima sobre a qual já falamos. Em 1890, a contista e romancista carioca Júlia Lopes de Almeida publicou o livro Memórias de Marta. A história toda, quase toda se passa num cortiço. O livro de Júlia é o primeiro na nossa historiografia literária que rola num cortiço. Pois, pois. Em 1964, a escritora Lygia Fagundes Telles abordou a temática religiosa no livro Verão no Aquário, no qual cria um nervosíssimo triângulo amoroso entre a mãe, Patrícia, e a filha, Raíza, com o seminarista André. O caso de Lygia dói nos nervos, é tenso, como só ela sabia fazer. Aliás, esse foi o primeiro livro de uma escritora brasileira abordando essa temática, no século 20. No fim o padreco se mata, cortando os pulsos. Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora Assis, com livro de Émile Zola
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