Jornalistas&Cia 1468

Edição 1.468 página 7 De Londres, Luciana Gurgel Para receber as notícias de MediaTalks em sua caixa postal ou se deixou de receber nossos comunicados, envie-nos um e-mail para incluir ou reativar seu endereço. Muitos jornalistas forçados ao exílio para escapar de perseguições em seus países, o que outrora era um caminho seguro, passaram a correr riscos devido ao aumento alarmante da violência e repressão transnacional por parte do seus governos e à proteção inadequada nos países que os acolhem. O alerta foi dado por Irene Khan, Relatora Especial da ONU para a liberdade de opinião e expressão, em um relatório apresentado ao Conselho de Direitos Humanos da organização na semana passada. Khan disse que a tendência de jornalistas recorrerem ao exílio e os ataques contra eles acompanham o aumento do autoritarismo e a supressão da liberdade de imprensa em várias nações. Mesmo no exterior eles enfrentam ameaças físicas, digitais e legais por parte dos governos de seus países de origem, incluindo assassinatos, agressões, raptos, condenações à revelia em processos judiciais baseados em acusações forjadas e retaliação contra familiares que ficaram para trás. Como prova de que não é exagero, menos de uma semana depois da apresentação do relatório o jornalista cazaque Aydos Sadykov morreu em Kiev, onde vivia há dez anos e mantinha um blog de oposição com mais de um milhão de assinantes, após ser baleado por homens de seu país natal. Um dos países destacados no documento é o Irã. Profissionais exilados e meios de comunicação que operam de fora do país, bem como jornalistas iranianos trabalhando para o serviço de língua persa da BBC, têm sido sistematicamente atacados. Alguns tiveram propriedades confiscadas. Em Londres, um foi esfaqueado este ano. O documento aponta ainda uma prática que se tornou coFugir nem sempre adianta: relatório descreve perseguições e agressões a jornalistas no exílio mum: autoridades do país anfitrião tornam-se facilitadoras da repressão transnacional, ajudando até a sequestrar profissionais de imprensa exilados. Segundo o relatório, o Grupo de Trabalho sobre Desaparecimentos Forçados ou Involuntários concluiu que o governo da Turquia envolveu-se em raptos extraterritoriais e regressos forçados de pelo menos 100 cidadãos turcos, incluindo jornalistas, sob o pretexto de combater o terrorismo. Perseguição digital O documento da relatora especial da ONU afirma que a violência online, as ameaças, o hackeamento e a vigilância digital direcionada a jornalistas exilados aumentaram na última década. Entre os casos recentes está o de Galina Timchenko, diretora do Meduza, site de notícias online em russo com sede na Letônia. Seu telefone foi infectado com o spyware Pegasus logo após o site ter sido designado pela Federação Russa como uma organização “indesejável”, em setembro. Um mês depois, Le Trung Khoa, editor-chefe do site de notícias vietnamita Thoibao.de, com sede em Berlim, foi alvo do spyware Predator por meio do X / Twitter. As mulheres jornalistas no exílio são particularmente afetadas por violência sexual e de gênero, online e offline, especialmente quando não têm direito de permanência no país escolhido, diz o estudo. A Relatora Especial pede que os profissionais de imprensa não sejam tratados como instrumentos políticos, mas como seres humanos em perigo, que, com grande custo para si próprios, contribuem para a realização do direito humano à informação. Obrigações à luz dos direitos humanos Irene Khan instou os países que fazem parte da ONU a adotarem uma abordagem baseada nos direitos e centrada no ser humano, e apelou para que respeitem as suas obrigações em matéria de direitos humanos. Além de proteção mais eficaz contra ataques físicos e digitais, os jornalistas precisam de vistos de emergência e de residência; de autorizações de trabalho nos países onde se asilaram e de apoio de financiadores e da sociedade civil. A Relatora Especial também apelou às empresas digitais para que façam mais para proteger os jornalistas no exílio e garantam que as tecnologias essenciais para a prática do jornalismo não sejam utilizadas como armas contra eles. Em resposta ao relatório, dezenas de países de todas as regiões divulgaram uma declaração conjunta para condenar a repressão transnacional e comprometerem-se a tomar medidas coordenadas para apoiar os visados e responsabilizar os autores de abusos. Resta saber se vai sair do papel. E como fazer com que governos autoritários que ignoram a ONU levem em consideração qualquer um desses pedidos. O documento completo pode ser visto aqui. Jack Forbes / Comitê de Proteção a Jornalistas

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