Jornalistas&Cia 1469

Edição 1.469 página 13 Por Assis Ângelo PRECIO SIDADES do Acervo ASSIS ÂNGELO Nos anos 1.800 a literatura estava ganhando forma no Brasil. Maria Firmina dos Reis (1822-1917) foi uma professora do Maranhão e a primeira mulher a escrever um romance intitulado Úrsula (1859). Era abolicionista. Amor e paixão misturam-se na história. Bonito, bem movimentado. Personagens negros. Era também poeta. Discretíssima no comportamento pessoal, Maria Firmina abriu o coração para poucas paixões. Um exemplo disso é o poema Ela!, incluído no livro Cantos a Beira-mar: Ela! Quanto é bela, essa donzela, A quem tenho rendido o coração! A quem votei minh’alma, a quem meu peito Num êxtase de amor vive sujeito... Seu nome!... não − meus lábios não dirão! Ela! minha estrela, viva e bela, Que ameiga meu sofrer, minha aflição; Que transmuda meu pranto em mago riso. Que da terra me eleva ao paraíso... Seu nome!... Oh! meus lábios não dirão! Ela! virgem bela, tão singela Como os anjos de Deus. Ela... oh! não, Jamais o saberá na terra alguém, De meus lábios, o nome que ela tem... Que esse nome meus lábios não dirão. Esse poema tem tudo a ver com amor feminino, entre uma mulher e outra. Apesar disso, não chamou a atenção de ninguém. Quer dizer: embora tabu, o tema aqui abordado por Firmina dos Reis não provocou espanto nem polêmica. Essa poetisa morreu pobre e cega na casa de uma amiga no ano de 1917. Outra mulher que também abriu o coração e a mente para o sexo foi a goiana Cora Coralina, de batismo Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (1889-1985). Deixou uma obra pequena, porém resistente. É dela Pouso de Boiadas: Conversa sem sentido. Os homens estirados nas redes e nos forros, assuntam de mulheres... − Fêmea. Erotismo de macho. Palavreado obsceno. (...) Manelão canta sozinho. Manelão canta baixinho. Moda de mulher. ...Dola... Xandrina... ... o chamado obscuro, sexual. (...) Manelão canta em surdina, Manelão canta baixinho, Manelão canta sozinho Toada de mulher. Licenciosidade na cultura popular (LXVII) Dola... Xandrina... O rude chamado sexual. A saga bárbara dos boiadeiros. Quatro anos depois de seu falecimento, foi lançado o LP Cora Coralina com 13 poemas, entre os quais Velho Sobrado, Estas Mãos, O Cântico da Terra, Todas as Vidas e Meu Epitáfio, que diz: Morta… serei árvore Serei tronco, serei fronde E minhas raízes Enlaçadas às pedras de meu berço são as cordas que brotam de uma lira. Enfeitei de folhas verdes A pedra de meu túmulo num simbolismo de vida vegetal. Não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico na música de seus versos Num dos contos incluídos no livro Contos Novos (1947), o autor Mário de Andrade fala de dois jovens estudantes que sentem atração física mútua. Ainda nesse livro, Mário escreve a história que tem como personagens centrais Nízia e Rufina. Já falamos. O final desse conto é dúbio, como dúbio é o final do conto Frederico Paciência. Enfim, quem transou com quem? Amor e preconceito sexual sempre geraram discussões febris, no Brasil e noutras plagas. A escritora inglesa Jane Austen (1775-1817), mostra isso no livro Orgulho e Preconceito, publicado pela primeira vez em 1813. Nesse livro, Austen conta a história de um casal que tem cinco filhas prontas para se casar. A mãe, Sra. Bennet, faz tudo e muito mais para que suas belas donzelas não padeçam no poço profundo do caritó. A mais nova, porém, de 16 anos, foge de casa com um cara sem futuro. A partir daí o romance ganha força. A leitura de Orgulho e Preconceito nos leva à cena rural, onde tudo se passa. Lá a mulher solteira que saía de casa e não se casava logo caía na boca ferina do povo. Isso, para uma família bem constituída, era o pior que podia acontecer. Orgulho e preconceito

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