Jornalistas&Cia 1470

Edição 1.470 página 25 Além de ter sido um notável jornalista, de texto simples, mas envolvente, Sérgio Cabral foi um grande defensor do samba. Escreveu vários livros sobre a música brasileira e as Escolas de Samba. Um mestre, que nos deixou domingo passado (14/7). Tinha 87 anos. Ele sofria de Alzheimer e era pai do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho. Por causa da doença, não compreendeu a situação do filho, ou seja, não sabia das acusações de corrupção contra o exgovernador. Dizem que se referia ao filho como um garoto de 7 anos. Sérgio Cabral comentou desfiles de Carnaval na Globo e trabalhou em vários jornais, incluindo Jornal do Brasil e Folha de S.Paulo. Também foi um dos criadores do Pasquim, junto com Tarso de Castro e o cartunista Jaguar. Quando escrevia uma coluna no JB, em um dos textos falou de uma mulher que tinha acabado de conhecer. Se não me engano, ela era uma pessoa importante do interior fluminense. Cabral “descobriu” a moça e ficou encantado com ela, a quem fez rasgados elogios. Lembrou que ela estava comprometida. Ela leu, achou estranho e perguntou para ele: “Comprometida com quem?” “Comigo”, respondeu o jornalista. Deu certo. Os dois se casaram logo depois. O Pasquim esculhambava a ditadura e, por isso, muitos dos jornalistas e colaboradores foram presos no fim de 1970, quando urubu ainda voava de costas no Brasil. A ditadura ficou uma “arara” por causa de uma sátira do célebre quadro de Dom Pedro I às margens do Ipiranga (quadro de Pedro Américo). Na charge, o imperador grita: “Eu quero mocotó”. Deu rolo. Uma patrulha do Exército prendeu a turma do Pasquim e Cabral era um dos presos. Além dele, foram em cana Tarso de Castro, Jaguar, Ziraldo, Paulo Francis, Fortuna, Flávio Rangel e outros jornalistas. Foram levados para uma prisão na Vila Militar, no Rio de Janeiro. Dessa época ele contou um episódio hilário. Era noite e um soldado − ou cabo – pediu-lhe que cantasse A Volta do Boêmio. “Mas eu não sei cantar”, explicou o jornalista. Aí o militar lhe entregou a metralhadora que portava: “Segura aí que eu vou pegar o violão”. Ao voltar, ele mesmo cantou para a ilustre plateia. Coisa de brasileiro. Imagine o carcereiro entregar a arma ao preso. Sérgio Cabral viveu em um país que não existe mais, um país que está cada vez mais chato, triste, cafona e, principalmente, perigoso. Aliás, o mundo também está assim. Resistiremos! A resistência sempre vale. n A história desta semana é novamente uma colaboração de Sandro Villar ([email protected]), radialista e jornalista que por muitos anos atuou como correspondente do Estadão em Presidente Prudente, no interior de São Paulo. É autor de As 100 Melhores Crônicas de Humor de SV, lançado em 2004 (Editora Alta Books-RJ), que está na lista dos dez mais no segmento crônicas de humor. Ele faz uma homenagem a Sérgio Cabral, que faleceu em 14/7, no Rio de Janeiro (ver pág. 3). Sérgio Cabral, o pai Sandro Villar Sérgio Cabral Reprodução/TV Globo Jornalistas&Cia é um informativo semanal produzido pela Jornalistas Editora Ltda. • Diretor: Eduardo Ribeiro ([email protected]–11-99689-2230)•Editorexecutivo: Wilson Baroncelli ([email protected] – 11-99689-2133) • Editor assistente: Fernando Soares ([email protected] – 11-97290-0777) • Repórter: Victor Felix ([email protected] – 11-99216-9827) • Estagiária: Hellen Souza ([email protected]) • Editora regional RJ: Cristina Vaz de Carvalho 21-999151295 ([email protected]) • Editora regional DF: Kátia Morais, 61-98126-5903 ([email protected]) • Diagramação e programação visual: Paulo Sant’Ana ([email protected] – 11-99183-2001) • Diretor de Novos Negócios: Vinícius Ribeiro ([email protected] – 11-99244-6655) • Departamento Comercial: Silvio Ribeiro ([email protected] – 19-97120-6693) • Assinaturas: Armando Martellotti ([email protected] – 11-95451-2539)

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