Jornalistas&Cia 1475

Edição 1.475 página 25 Plínio Vicente da Silva “Rádio Difusora Roraima, operando em 4.835 quilociclos, ondas intermediárias de 590 metros...!” Esse era o prefixo do maior meio de comunicação disponível no Território de Roraima até o final dos anos 1980. Além de divertir, era de grande utilidade pública. É que nessa época as únicas ligações do povo roraimense com o resto do mundo eram via aérea, fluvial – quando cheio o Rio Branco – e via ondas de rádios AM. As notícias chegavam, entre outras, pelas rádios Nacional de Havana (Cuba), BBC (Londres), A Voz da América (USA), Rádio Pequim (China), Globo (Rio de Janeiro), Tupi (São Paulo), Marajoara (Belém do Pará) e Rio-mar (Manaus). A integração territorial ficava a cargo da gloriosa Rádio Difusora Roraima. A emissora entrava no ar às seis da manhã e encerrava os trabalhos às 10 da noite. Bom dia Roraima, Parada de Sucessos, Noticiário Roraima, Música Para Seu Almoço, Tarde Musical, A Hora do Ângelus, A Voz do Brasil, O Mensageiro do Interior, Parabéns Pra Você, O Assunto é Sucesso e Noturno eram alguns dos programas da “rádia” (sic) dirigida e operada por Laucides Oliveira, Ademir Cavalcante, Altair Souza, Áureo Cruz, Jaber Xaud, Benjamim Monteiro, Carlos Alberto, Paulo “Bandalheira” Duarte, Russo, Tadeu, Júlio Torreias, Ariomar Gouveia, Galvão Soares e outros cujos nomes a maioria não lembra e a quem pedimos desculpas por não mencionar. O programa mais importante, de maior utilidade e de larga integração, era O Mensageiro do Interior, que iniciava logo após o último acorde de O Guarani, prefixo de A Voz do Brasil, que em Roraima ia ao ar às 18h, por conta do fuso horário de uma hora a menos em relação a Brasília. As estradas, quando existiam, eram péssimas e desta forma a Difusora era o meio mais usado pelos boavistenses para se comunicarem com o longínquo interior do então Território. n Publicamos a segunda parte da história de Plínio Vicente da Silva ([email protected]), que saiu em J&Cia 1.474. Ela trata do programa O Mensageiro do Ar, transmitido em ondas curtas pela Rádio Nacional de Roraima, integrante da rede de emissoras oficiais do governo federal, comandado pelo radialista Benjamin Monteiro. No final da primeira parte, Plínio contou que conversou com antigos radialistas e pediu-lhes que relatassem algumas lembranças do programa quando ele ainda se chamava Mensageiro do Interior: “Aroldo Pinheiro, amigo jornalista com quem trabalhei em um jornal de Boa Vista, dispôs-se a atender ao meu pedido de socorro e ir ao encontro dessas fontes. É que, por conta das sequelas da pólio, não posso me locomover para fora de casa. Dias depois ele me mandou pelo e-mail os depoimentos mais interessantes e que reproduzo aqui, ipsis litteris, sem tirar nem pôr”. u Plínio foi chefe de Reportagem do Estadão e correspondente do Grupo OESP em Boa Vista, e hoje é assessor especial da Prefeitura local. O Mensageiro (final) Benjamin Monteiro, nos anos 1960, na Difusora de Roraima arquivo pessoal Apesar de sério, o Mensageiro provocava risos por causa da forma e palavreado usados na redação e veiculação dos recados. Aqui vão alguns exemplos das mensagens lidas por Benjamim Monteiro, voz que o levou a ser apelidado de Cid Moreira do lavrado (savana, para os venezuelanos, cerrado, para os brasileiros do planalto central, e pampa, para os gaúchos), mensagens essas que eram sempre finalizadas com o pedido: “Pede-se a quem ouvir este aviso retransmiti-lo ao destinatário”. Exemplos: − “Para Sarinha Machadão, na Fazenda Piu-piu, região do Amajari: Oswaldo avisa que já mandou medicamento pelo jipe do Caiçara para curar o gôgo da galinha da sua mãe. Ele chega aí na sexta-feira, se o rio Cauamé der passagem.” − “Para João-três-pernas, na região do Surumu: sua noiva, Maria-coçacoça, avisa que chegou bem. Fez os exames; tudo positivo. Mande os documentos para dar entrada no cartório.” − “Para Mariazinha, na Fazenda Propiá, região do Prainha: seu noivo, Joel-cuia-mansa, avisa que fez os exames e é aquilo mesmo. Já começou o tratamento com Benzetacil. Pede que evite comidas “remosas” e venha terça-feira no jipe do Andorinha para fazer tratamento. Graças a Deus não tem mais ardência nem pingamento.” − “Para José-pinta-braba, no Sítio do Pica Pau Amarelo, região da Boca da Mata: Olindina Curió pede que não se esqueça de prender o veado do seu pai, pois Zé-da-cobra vai passar aí pra capar o bicho.” − “Para João-das-véia, na Vila do Cantá: Alicate pede que recolha os

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